sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Chicos

José Saúde


A máscara do tempo, que transporta o homem a uma viagem por trilhos incessantemente recordados, conduz-nos a um deambular por veredas onde descobrimos imagens que proliferaram no mundo desportivo. O desporto, essa benéfica condição que muda habilidosamente mentalidades, tem o condão de nos transportar a períodos idos que mexeram com os nossos amáveis egos. Ocorre-me trazer à estampa dois nomes que abrilhantaram antigamente os emblemas das suas cortes: o Chico do Despertar e o Chico Toril do Atlético Aldenovense. Dois seres cuja amplitude afável em prol dos seus símbolos desportivos deixou explícita que as suas limitações foram causas de somenos importância. Recordo, com nostalgia, o Chico do Despertar. Em dias de desafios era vê-lo a correr em volta do retângulo de jogo do estádio Dr. Flávio dos Santos, em Beja, num incansável grito de solidariedade para com o seu velho “Rasga”. A todos dava troco. Discutia uma jogada, ralhava com o árbitro, apelava ao incitamento das massas em defesa dos despertarianos, ou respondia à letra a quem contrariasse o seu pensar. Exaltado, e nunca submisso a crenças hostis, o Chico do Despertar foi uma figura inigualável. Incomparável foi também o Chico Toril do Atlético Aldenovense. Franzino mas de uma fibra ímpar, tipo antes quebrar que torcer, o Chico Toril estimulou as suas incapacidades motoras, sacou de outras competências e afirmou-se como homem íntegro no clube de Aldeia Nova de São Bento, hoje vila. Não obstante a herança física legada, o Chico fez de tudo um pouco no grémio do seu coração. Foi massagista, roupeiro, caiou o campo sob as intempéries de um inverno rigoroso, limpou botas atulhadas de barro, lavou e enxugou equipamentos, distribuiu amizades e recebeu um insofismável agradecimento de uma população que ainda o recorda com saudade. Chicos como os que aqui enalteço no cosmos desportivo bejense, atrevo-me a dizer que já não existem. Elos mais fracos mas literalmente superiores na entrega. Que as suas almas descansem em paz. 

Fonte: http://da.ambaal.pt

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