José Saúde
A biografia do desporto em Beja é
consubstanciada em factos inolvidáveis. A sua longínqua existência
remete-nos para os seus primórdios. Foi em 1906 que um grupo de rapazes
que frequentava estabelecimentos de ensino em Lisboa, Colégio Militar e
Escola Académica, que, nas férias de Natal desse ano, trouxeram para a
velha Pax Julia “o vício do jogo da bola”. Manuel Gomes Palma, Frederico
Durão Ferreira, José Candoso, Francisco Nobre Guedes, Joaquim Vilhena
Freire de Andrade, Carlos Rodrigues Soure, Manuel Bravo e Albino
Rodrigues Soure foram os grandes impulsionadores que fomentaram o
futebol no burgo. Vivia-se, com brilho, esse momento fulgente por todo o
País. Dezoito anos antes, em 1888, os irmãos Pinto Bastos, Guilherme,
Eduardo e Frederico, estudantes num colégio em Liverpool, Inglaterra,
transportaram para Portugal uma bola e o consequente vício. Sabe-se que o
movimento futebolístico na urbe bejense seguiu a eloquente via
ascendente. Formaram-se grupos, clubes, ou equipas avulsas, e que
entretanto se defrontavam entre si, não obstante as cautelas que o
polícia de giro recomendava. Eiras e terreiros eram os locais
privilegiados para a jogatana. Ao longo dos anos Beja cresceu de
paredes-meias com uma modalidade que se afirmaria na cidade. De entre os
clubes que se afirmaram, destaco o Desportivo de Beja. É certo que o
tempo vivido remete-nos para o campo da saudade. Somos, felizmente,
conhecedores de temporadas em que o Desportivo se assumia como a
bandeira da região. A matéria futebol era tratada de forma exemplar pelo
emblemático grémio da rua do Sembrano. Estádio cheio, multidões de
gentes que preenchiam por completo as bancadas, a azáfama de quem
chegava para assistir ao jogo, o reboliço de pessoas que após o desafio
se distribuíam pela cidade à procura de um espaço de comes e bebes,
enfim, um elevado número de recordações que agora se consomem num mar de
tristezas. Periclitante e impensável é observar a presente realidade do
Desportivo como um dos clubes que na próxima época militará no quadro
da segunda divisão da AF Beja. Resta deixar um bem-haja àqueles
dirigentes que despretensiosamente ainda abraçam a sua evidente entrega
num clube que é somente portador de uma inabalável história.
Fonte: http://da.ambaal.pt/
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