sexta-feira, 14 de julho de 2017

João Malveiro Bento (Zona Azul), um predestinado entre os postes


Muitos terão sido os êxitos conseguidos pela equipa de andebol da Zona Azul, fruto da boa prestação do seu guarda-redes João Malveiro Bento. O andebol é uma modalidade coletiva, mas o guarda-redes é a última barreira e quando entre os postes está um atleta de referência, com a qualidade e a experiência do João, o sucesso da equipa fica mais perto.

Texto e foto Firmino Paixão


“Quis ser guarda-redes logo muito cedo”, diz João Malveiro. “Tinha que ser, se fosse para o futebol teria que ser guarda-redes, se fosse no hóquei em patins, quase de certeza que eu escolheria ser guarda-redes, lá está…, era um desejo meu, estava intrínseco e por mais que o treinador me dissesse que eu tinha que jogar um bocadinho à frente, lembro-me perfeitamente que torcia bem o nariz e ficava aborrecido. Parecia algo que me estava destinado”.
Está assim explicada esta predestinação do atleta para uma posição específica, algo que a ciência contraria, como o próprio confesso: “Quando tirei a minha licenciatura [na área de desporto] aprendi que a posição de um atleta não deve ser específica desde muito cedo, mas comigo não foi assim”.
João Malveiro Bento nasceu há 31 anos em Beja e atualmente é o titular da baliza da equipa de andebol da Zona Azul que disputa o nacional da segunda divisão de seniores. O andebol é a sua grande paixão. “O andebol surgiu na minha vida porque fazia parte de um grupo de amigos muito chegados, todos na roda dos 10 anos e, na altura, até queríamos ir jogar futebol para um clube da cidade, mas a mãe de um desses amigos, o Luís Gomes, não deixou, alegando que o futebol era um desporto agressivo, e então, graças à mãe dele, fomos todos o andebol”.
Em boa hora, acrescentamos nós, porque já lá vão cerca de 20 anos de experiência na modalidade e o João ainda guarda alguns recortes desse tempo: “Tenho boas recordações, são momentos inesquecíveis na vida de um praticante de andebol e é isso que eu tento transmitir aos mais novos, é essa paixão, porque acho que nada faz sentido se não tivermos esse sentimento”.
Tem trabalhado com inúmeros treinadores mas, na hora de eleger um que o tenha marcado, responde: “Todos eles! Sei que é uma resposta politicamente correta, mas nós estamos sempre a aprender, é um processo contínuo de aprendizagem, para o bem e para o mal, e há treinadores que nos dizem que isto ou aquilo não foi muito bem feito, mas é dessa forma que aprendemos, é assim que se cresce e eu aprendi bastante com todos eles”. Sendo certo que “um ou outro ter-me-á marcado mais, porque terei vivido mais tempo com eles no meu período de formação”.
Que pensará então João Malveiro quando, como muitas vezes acontece, defende um livre de sete metros? Será mérito do guarda-redes ou demérito do avançado? “Uma pergunta difícil, mas acho que essa é a parte grandiosa de ser guarda-redes. O guarda-redes está sempre numa posição de desvantagem, ainda mais numa modalidade praticada com a mão, porque é fácil o jogador ludibriar o guarda-redes e meter a bola onde quer, daí ser uma posição desvantajosa e difícil. Muitas das defesas que fazemos acontecem por instinto, mas também há defesas com grande mérito dos guarda-redes”.
Representou a Zona Azul por mais de uma década e em diferentes momentos, parece que o andebol é a sua paixão e o emblema da Zona Azul a devoção: “A Zona Azul é o clube da minha terra e eu não me vejo a jogar noutro clube desta região, sei que é outra resposta politicamente correta. Percebendo eu que não vou ter grandes ganhos financeiros, ainda que ganhe aqui outras coisas tão ou mais importantes, eu quero fazer isto no sítio onde fui formado, onde sou feliz, onde as pessoas são queridas para mim e, julgo eu, serei querido para essas pessoas”.
Saiu um dia da sua terra para representar o Belenenses, esteve perto de tocar o céu: “Fui para o Belenenses muito cedo, na altura não tinha muita maturidade, nem percebia bem o que estava a acontecer, lembro-me que aquilo me encheu o peito de tal maneira que estava nas minhas sete quintas. Tinha 17 ou 18 anos e julguei que aquilo seria a minha carreira. Hoje percebo que não”. E justifica: “O profissionalismo advém de cada um, não temos, necessariamente, que ter grandes proveitos financeiros para sermos profissionais e sermos cada vez melhores naquilo que fazemos”. Entretanto, foi várias vezes chamado às seleções nacionais. “Já antes de estar no Belenenses tinha estado em seleções nacionais e, para o miúdo que eu era, não havia momento mais gratificante como sentir o orgulho de representar o nosso país”, conclui João Malveiro Bento, fazendo o que melhor sabe fazer, defendendo-se bem, mas com enorme simpatia e extrema humildade, das questões mais pertinentes. 

Fonte: http://da.ambaal.pt/

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