sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Bola de trapos, edição no Diário do Alentejo, edição de 23 de fevereiro de 2018

José Saúde
Sonhos desportivos
O universo dos sonhos tem um simbolismo fabuloso. Sim, é verdade que todos temos entusiásticos sonhos. Sonhar faz parte da existência dos humanos. As alegóricas personagens que intervêm no nosso imaginário interpretam fidedignas danças colaterais que nos transportam, por vezes, para sonhos desportivos inexoravelmente inesquecíveis. Ontem fomos crianças dinâmicas, brincámos à pata, ao pau da lua, ao eixo, jogámos à bola, aos escondarelos entre outros jogos de entretimento que fizeram parte das nossas jocosas vidas. A felicidade passava pelo desbravar de novos mundos. Guardámos herméticas memórias dos muitos ápices que inveteradamente enriqueceram a nossa adolescência. Instantes áureos, essencialmente maravilhosos, mas que depressa passaram para a redoma de envelhecidas recordações. Travei, há tempos, um diálogo com o meu inolvidável amigo Cano Brito, moço da minha geração, onde o tema da conversa passou pela necessidade da população de Beja, capital do distrito, unir esforços, visando o reativar instrumentos capazes e partir para o restaurar de velhas tradições. Reconhecemos, no entanto, que não é fácil o alinhamento duma realidade que outrora fez da cidade um ícone do desporto. Imaginámos, embora tenuemente, uma possível cumplicidade entre agentes desportivos e empresários locais. Reconstruímos imagens de ontem e esbarrámos em vãs respostas. Sabemos que dantes havia crença e o desporto, em particular o futebol, corria de boca em boca enaltecendo as proezas de um Desportivo de Beja, designadamente, que dava cartas nas competições nacionais. Pelo velhinho Estádio Dr. Flávio dos Santos, exibiram-se jogadores de craveira e o povo respondia, em uníssono, ao espetáculo da bola, sendo que o planeta empresarial nem tão-pouco negligenciava endiabradas aventuras protagonizadas pelo então emblema supremo da região. Mas, com o evoluir das épocas, associada a contornos pressupostamente problemáticos, o exequível fenómeno resvalou para a presente veracidade. Esboroaram-se os usos e costumes de uma urbe que sempre primou pela dignidade. Homens onde a honra tinha um valor inestimável. Existia, associadamente, uma justa recompensa para um tecido empresarial que apostava no campo publicitário. Contemplo o atual quadro e não contradigo a situação por ora observada. A sociedade reconhece que os tempos são outros. Os proveitos transversais têm uma aureola de apreensões. Poucos são aqueles, mesmo a custo de uma bagatela, que ousam publicitar na componente desportiva. A galinha dos ovos de ouro há muito que deixou de picar num chão estritamente estéril. Tanto mais que as empresas vivem depauperadas na área financeira. Neste contexto, é percetível o presente estado da nação. É fácil, digo eu, lançar ideias e recapitular convicções dantes conhecidas. Uma coisa é agora indesmentível: existem infraestruturas capazes para a salutar prática desportiva, o número de clubes e praticantes progrediu desalmadamente e o movimento associativo ganhou uma outra dimensão, mas falta o “pilim” que atira os sonhadores para uma inevitável ansiedade. Tudo, afinal, se alterou e as coletividades sobrevivem da entrega de dedicados dirigentes.
Fonte: Facebook de Jose saude

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