José Saúde
Sonhos desportivos
O universo dos sonhos
tem um simbolismo fabuloso. Sim, é verdade que todos temos entusiásticos
sonhos. Sonhar faz parte da existência dos humanos. As alegóricas
personagens que intervêm no nosso imaginário interpretam fidedignas
danças colaterais que nos transportam, por vezes, para sonhos
desportivos inexoravelmente inesquecíveis. Ontem fomos crianças
dinâmicas, brincámos à pata, ao pau da lua, ao eixo, jogámos à bola, aos
escondarelos entre outros jogos de entretimento que fizeram parte das
nossas jocosas vidas. A felicidade passava pelo desbravar de novos
mundos. Guardámos herméticas memórias dos muitos ápices que
inveteradamente enriqueceram a nossa adolescência. Instantes áureos,
essencialmente maravilhosos, mas que depressa passaram para a redoma de
envelhecidas recordações. Travei, há tempos, um diálogo com o meu
inolvidável amigo Cano Brito, moço da minha geração, onde o tema da
conversa passou pela necessidade da população de Beja, capital do
distrito, unir esforços, visando o reativar instrumentos capazes e
partir para o restaurar de velhas tradições. Reconhecemos, no entanto,
que não é fácil o alinhamento duma realidade que outrora fez da cidade
um ícone do desporto. Imaginámos, embora tenuemente, uma possível
cumplicidade entre agentes desportivos e empresários locais.
Reconstruímos imagens de ontem e esbarrámos em vãs respostas. Sabemos
que dantes havia crença e o desporto, em particular o futebol, corria de
boca em boca enaltecendo as proezas de um Desportivo de Beja,
designadamente, que dava cartas nas competições nacionais. Pelo velhinho
Estádio Dr. Flávio dos Santos, exibiram-se jogadores de craveira e o
povo respondia, em uníssono, ao espetáculo da bola, sendo que o planeta
empresarial nem tão-pouco negligenciava endiabradas aventuras
protagonizadas pelo então emblema supremo da região. Mas, com o evoluir
das épocas, associada a contornos pressupostamente problemáticos, o
exequível fenómeno resvalou para a presente veracidade. Esboroaram-se os
usos e costumes de uma urbe que sempre primou pela dignidade. Homens
onde a honra tinha um valor inestimável. Existia, associadamente, uma
justa recompensa para um tecido empresarial que apostava no campo
publicitário. Contemplo o atual quadro e não contradigo a situação por
ora observada. A sociedade reconhece que os tempos são outros. Os
proveitos transversais têm uma aureola de apreensões. Poucos são
aqueles, mesmo a custo de uma bagatela, que ousam publicitar na
componente desportiva. A galinha dos ovos de ouro há muito que deixou de
picar num chão estritamente estéril. Tanto mais que as empresas vivem
depauperadas na área financeira. Neste contexto, é percetível o presente
estado da nação. É fácil, digo eu, lançar ideias e recapitular
convicções dantes conhecidas. Uma coisa é agora indesmentível: existem
infraestruturas capazes para a salutar prática desportiva, o número de
clubes e praticantes progrediu desalmadamente e o movimento associativo
ganhou uma outra dimensão, mas falta o “pilim” que atira os sonhadores
para uma inevitável ansiedade. Tudo, afinal, se alterou e as
coletividades sobrevivem da entrega de dedicados dirigentes.
Fonte: Facebook de Jose saude
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