sexta-feira, 4 de maio de 2018

Bola de trapos, edição no Diário do Alentejo de 4 de maio de 2018

José Saúde
Diogo Requeijão
O ingrato mundo do futebol proporciona, esporadicamente, inexplicáveis razões sobre génios da bola que ficaram pelo caminho quando a sua condição absoluta deixava antever um futuro deslumbrante. Neste contexto, alvitrava-se o saber lidar com a arte e sobretudo com as emoções pessoais. Aliás, uma condição que permanentemente acontece. Na minha memória concentram-se imagens de um esquerdino que nas décadas de 1950 e 1960 maravilhou o palanque futebolístico bejense com “fintas” magistrais que deixavam o adepto extasiado. Diogo Augusto Barrocas, o popular Diogo Requeijão, como sempre foi conhecido, nasceu em Beja no dia 14 de maio de 1940 e não atingiu o púlpito do futebol nacional porque a “cabeça não ajudou”. Iniciou-se nos jogos de rua. “Naquele tempo os nossos jogos acabavam conforme o que tínhamos combinado, terminavam quando uma das equipas marcasse oito ou 10 golos. Mas como eu era muito habilidoso e fintava com facilidade, acontecia que em pouco tempo marcava os golos todos e o jogo quase não dava para aquecer. Comecei a ser conhecido e a exigência da malta passava por eu ter que ficar na baliza”. Requeijão foi mais uma das estrelas cintilantes que nos anos 50, século passado, espalhou luz na célebre escola de Feliciano, seguindo-se o Despertar. “O Desportivo não tinha escalões de formação e o nosso destino era o Despertar. Pelo Despertar fui duas vezes campeão em juniores”. Como sénior ei-lo de regresso ao Desportivo e quando a turma bejense militava na segunda divisão nacional. Assumindo a titularidade, não obstante no onze proliferarem eloquentes craques, as suas exibições eram de tal modo relevantes que o seu nome começou a ser muito divulgado. “Tive convites do Sporting, Benfica, Académica de Coimbra, Vitória de Setúbal e Amora. O Sporting tinha um extremo esquerdo de nome Cabrita e os dirigentes de Alvalade diziam que eu tinha todas as condições para o render nessa posição. Lembro a luta entre o Sporting e o Benfica, uma vez que ambos se mostravam interessados na minha aquisição. Mas, o meu complexo de inferioridade em relação aos outros não permitiu que tivesse coragem para aproveitar essas oportunidades”. Seguiu-se uma outra guerra, esta interna, entre o Despertar e o Desportivo. “Os diretores tentaram enganar-se uns aos outros. Diziam que a sua oferta monetária era superior à do outro e a confusão mexeu com a minha pessoa. Senti-me enganado e deixei de jogar. Arranjei emprego nos CTT e pus a bola de parte”. Para memória futura aqui registado um onze do Desportivo na época de 1962/1963: Isidoro, Joaquim Madeira, Costa, Francelino, Osvaldinho, Joab, Dionísio, Noí Madeira, Fernandes, Quinito e Diogo Requeijão. O treinador era Valentim Alexandre. O Diogo vive em Setúbal.
Fonte: Facebook de Jose saude.

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