sexta-feira, 6 de julho de 2018

Bola de trapos, edição no Diário do Alentejo de 6 de julho de 2018

José Saúde
Lenda e realidade
Diz a lenda que uma jovem de Aldeia da Fonte do Canto se apaixonou por um rapaz da vizinha Cabeço de Vaqueiros, só que o encanto desvaneceu-se quando o cavalheiro não aceitou a súplica da moça. Na historieta existiram contornos rudes e desavenças entre as populações dos lugares. A ladainha acrescenta que desse ímpeto amoroso emergiu Aldeia Nova de São Bento. O perfil do enredo derrapa para brigas que opuseram portugueses e espanhóis. Portugal encontrava-se sob o domínio da dinastia filipina e a guerra da Restauração da Independência de 1640 estava ao rubro, sendo o Alentejo palco de permanentes batalhas. A moça, antes enamorada pelo rapaz vizinho, casou com um soldado espanhol, mas o assunto ferveu com a ralé e o jovem apressou-se a chefiar um grupo de homens das duas aldeias que declararam luta aos estranhos. Finaliza a lenda que a bravura dos portugueses foi materializada o que levou à retirada das tropas de Espanha e as preces de vitória levaram o povo a afirmar que “São Bento tinha concedido um milagre”. A realidade desportiva. Em 1923 um grupo de estudantes, num dos períodos de férias, resolveu fomentar o jogo da bola na freguesia. As eiras eram os espaços privilegiados onde a juventude se entretinha nas tardes de lazer. Curioso foi o facto da rapaziada se concentrar, regularmente, na Sociedade Renascença. Falava-se, com veemência, da modalidade e consumiam-se largos momentos dissecando-se os conteúdos de uma circunstância tida como imparável. Neste encadeamento de episódios toca a erigir um emblema. José Morais Louro, filho de um lavrador abastado, assumiu o comando das hostes e no ano de 1923 formou-se o Aldenovense Foot-Ball Club, sendo que só a 30 de novembro de 1938, e sob a presidência de Francisco Assis Teixeira, se verificou a sua filiação na AF Beja. Porém, o decisório ímpeto para a afirmação do futebol ocorreu a 20 de agosto de 1947 quando o capitão Alcino Pires formou o Atlético Clube Aldenovense, sigla depois alterada para Clube Atlético Aldenovense. Numa investigação sobre a razão que determinou a modificação não foram encontrados dados plausíveis que possamos exemplarmente esclarecer. Há vagas opiniões que não carecem de credíveis justificações. Na época de 1974/1975 o Atlético participou, pela primeira vez, em seniores nas competições associativas e por lá se preserva. Ao longo deste percurso averbou dois títulos de campeão da primeira divisão e a subsequente concorrência em provas nacionais. Na temporada finda o conjunto teve uma participação discreta, mas nada impediu que a bola rolasse à flor da relva para gáudio da população. Manuel Luís Nunes é um presidente que recusou deitar a toalha ao chão e a passagem da antiga lenda à realidade desportiva foi um dado credível. Agora trabalha-se na construção do próximo plantel e o móbil dos intuitos é somente a tranquilidade e, obviamente, a manutenção no escalão supremo.
Fonte: Fcebook de Jose Saude

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