terça-feira, 11 de agosto de 2020

Valdemar Costa sagrou-se vice-campeão nacional de Santo Huberto

 

Texto Firmino Paixão

 

Valdemar Costa sagrou-se, muito recentemente, na cidade de Sines, vice-campeão nacional de Santo Huberto. Ele e a “Zeta”, uma ‘épagneul breton’, de quatro anos e meio, nascida em França, no canil de um grande criador desta raça, que lhe foi oferecida por dois amigos. “Na minha opinião, a Zeta é o elo mais forte do binómio. Sem ela, nenhum destes feitos seria possível. É um animal distinto e existe uma grande cumplicidade entre nós. É uma companheira”, realçou Valdemar Costa, mourense de 49 anos.

 

Mourense em toda a plenitude porque, acentua. “Nasci no antigo hospital porque, há data, existia maternidade e hospital em Moura. Parece uma história invertida, mas é um facto”. Valdemar Costa é o mais velho de três irmãos (o João e o Durval) e tem dois filhos, a Carolina, com 19 anos, e o Ramon, com 12. Na sua infância teve as vivências normais da época, em que “os berlindes e os piões, entre outros jogos tradicionais, substituíam os atuais aparelhos tecnológicos, que aprisionam as nossas crianças entre quatro paredes. Quanto às histórias e recordações, abundam a liberdade de circulação que contribuía diariamente para inúmeras situações de rebeldia que nos faziam felizes”.

 

Hoje, a sua paixão são os cães de parar que o acompanham na caça e nas provas de Santo Huberto, o padroeiro dos caçadores. Desde novo que começou a gostar do ambiente e da natureza. “Nasci e fui criado na linda vila de Moura, hoje cidade, onde o campo é ‘já ali’, Desde criança que acompanhei o meu pai, e os amigos dele, nas pescarias e nos convívios nas margens do rio Ardila e do rio Guadiana. Foi um processo natural que, até hoje, tento conservar e passar aos meus filhos. Distinguir o ‘cheiro’ do vento, no campo, é algo que nos eleva”.

 

Na juventude, praticou todas as modalidades do desporto escolar, como futebol, voleibol, andebol, entre outras, mas a que “mais adorava”, e na qual conseguiu “algumas ‘medalhitas” era a pesca desportiva. Valdemar reconhece que “sendo filho de pessoas humildes, que viviam do trabalho, e tendo a condição de filho mais velho”, foi-lhe proporcionado “tudo o que era possível na altura”, mas ficou-se pelo ensino secundário, concluído na escola de Moura. No período pós serviço militar obrigatório, enveredou pela Guarda Nacional Republicana (GNR). Opção ou vocação? “Penso que foi um misto das duas. Entrei para a escola da GNR em Portalegre com 22 anos de idade, tinha terminado a tropa e como tinha um vizinho que era militar da Guarda, e me contava algumas histórias da instituição, foi-me fácil gostar e decidir. Já lá estou há 26 anos”.

 

O apelo da caça sentiu-o ainda muito pequeno. “No início era com uma fisga que, em dias de ‘castigos’ merecidos, era o primeiro alvo do meu pai; depois comecei por acompanhar familiares que exerciam a atividade, mas já com arma de fogo e com os cães. Percebendo que era uma das minhas paixões, tirei a carta de caçador … e lá vai ele”.

 

Já na atual variante de Santo Huberto, que vê como a vertente mais parecida com um ato de caça real, revelou ter sido “muito apoiado e ajudado por um senhor, de nome Jorge Alho”, que o convenceu a participar. “Ele foi o primeiro campeão do mundo, por equipas, em representação de Portugal. Posteriormente tornou-se juiz da modalidade, foi uma pessoa muito dedicada à minha aprendizagem e [à minha] evolução nesta vertente. Infelizmente perdeu-se esse mestre, e amigo, no passado dia 22 de fevereiro. Ficámos mais pobres””.

 

Com vários entusiastas no concelho de Moura, a modalidade de Santo Huberto tem grande tradição em Portugal. “Contamos com grandes campeões”, refere Valdemar Costa, apontando o exemplo de Jorge Piçarra, seis vezes campeão do mundo. “Quanto aos amigos de Moura… o João Alfaiate e o Domingos Carloto, entre muitos outros… somos mais do que entusiastas da modalidade. Penso que nos podemos considerar apaixonados por tudo o que envolve o Santo Huberto, os cães de parar, os amigos, o convívio e, no final, uma disputa saudável entre todos, pelos nossos objetivos”.

 

A fase final do 17º Campeonato Nacional realizou-se, recentemente, em Sines. E Valdemar Costa sagrou-se vice-campeão nacional e campeão nacional por equipas. Faltou pouco para chegar um pouco mais acima. “Numa fase final desta prova, onde se disputam os três primeiros lugares do pódio, as diferenças de qualidade entre os binómios são infimamente reduzidas. Depois, tudo depende do nosso desempenho no campo, em cinco minutos, e a sorte tem de ser um aliado naqueles momentos”, explica.

 

Apesar dos vários títulos regionais e dos pódios nacionais conquistados, Valdemar Costa diz que o seu palmarés “é ainda pequeno”. Contudo, representar Portugal num campeonato do mundo é uma possibilidade que está ao seu alcance. “É um sonho mas, por agora, vou tentando melhorar, aprendendo com os meus colegas e ouvindo os ensinamentos dos juízes de prova, principalmente aqueles que me ajuízam com mais regularidade, os da Federação Alentejana de Caçadores. Talvez um dia, consiga lá chegar”.

 

E será esse o sonho do mourense Valdemar Costa? “Sabe” – refere – “o sonho comanda a vida e eu não serei diferente. O principal é fazer todos os dias o melhor em prol de tudo aquilo que me rodeia. Às vezes não é fácil, mas procuro dar o máximo de mim, no mínimo que faça”.

Fonte:  https://diariodoalentejo.pt

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