domingo, 27 de setembro de 2020

Bola de trapos, edição de 25/10/2020 no Diário do Alentejo

 

José Saúde
A tática
No universo futebolístico, onde as ideias para escrevinhar são hoje parcas e o fenómeno restringido, sobressaem, no entanto, termos tecnológicos que, aplicáveis ao evoluir do jogo, proporcionam ao mais incauto admirador da modalidade pasmo, tendo em linha de conta a maneira subtil como o mister exerce saber nos conteúdos que administra. Fala-se na evolução da tática, na deambulação dos atletas pelos diversos setores, na dimensão competitiva do adversário, ou sobre as razões fundamentais como defender ou atacar o resultado inserido em esquemas dos blocos - baixos, médios e altos -, ou, ainda, sobre as distintas capacidades que cada um dos atletas apresenta em campo. Neste contexto, é irrepreensivelmente aceitável que o sistema da tática marcou o desenvolvimento do futebol ao longo do tempo. Existem performances que em nada se compadecem com aqueles esquemas táticos que esbarraram nos seus primórdios. O velho jogo da bola, praticado em equipa, conheceu novos esboços que se apresentam como uma antítese ao seu quimérico passado. Francisco Véstia, um dos iniciadores do Piense Sporting Clube, cuja data de fundação se reporta a 16 de Fevereiro de 1944, deixou dito para a posterioridade no livro “Glórias do Passado II” que no seu tempo a tática assentava num “guarda-redes, dois back´s, direito e esquerdo, o alfa centro, o alfa direito e alfa esquerdo, o ponta direita, o meia ponta direita, o avançado centro, o meia ponta esquerda e o ponta esquerda”. Jogava-se com dois defesas, três médios e cinco avançados. Num outro âmbito, no Campeonato Mundial de Futebol de 1958, disputado na Suécia, o Brasil, orientado por Vicente Feola, trouxe à estampa um revolucionário 4x2x4 e a equipa sagrou-se, pela primeira vez, campeã do mundo. Pelé, um jovem com 17 anos, foi considerado a pérola da competição, dado que não só orientava o poder do jogo ofensivo, mas tinha, também, o privilégio em apresentar-se como marcador de golos. Mas, as vulnerabilidades táticas trouxeram ao futebol a introdução de novos métodos. As velhas raposas, homens considerados sapientes, acumulam experiências que catapultam os clubes para a ribalta. Assim, tal como em tudo na vida, o futebol foi-se transformando numa caixinha de surpresas onde proliferam os prudentes mestres. O treinador é um homem erudito e a sua sabedoria ancestral alterou o sistema de jogar. Existem cursos, uma paulatina ascensão na carreira, aulas de formação, o técnico conhece os seus teores e distribui as peças num puzzle que se pretende vencedor. Longe vão os tempos da marcação em cima, ou à zona, do caducado 2x3x5, bem como outras nuances que foram, entretanto, atiradas para o caixote do lixo. Prevalece a certeza de que o jogo é, agora, um espetáculo onde proliferam múltiplos interesses, desportivos e financeiros, não obstante a tática engendrada no interior das quatro linhas.
Fonte: Facebook deJose Saude

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