sábado, 31 de julho de 2021

Bola de trapos, edição de 30/07/2021 no Diário do Alentejo

 

José Saúde
A sede
Numa meticulosa pesquisa à nossa realidade desportiva, revejo o enquadramento que a generalidade dos clubes sempre apresentou a um povo que primava pela singularidade do emblema que dignificava as cores da sua terra. Mas, a alforria desportista tem, ainda, conquistado novos lugares onde se concentram excêntricos teores. Nestas viagens pelos arquivos da saudade, detenho-me perante veracidades de outrora que se confinavam a um tempo onde os acontecimentos são agora meras silhuetas que se fixam tão-só em memórias gastas pelo evoluir da eras. Contextualizando a evolução das infraestruturas, assimilemos a insofismável certeza que a longevidade do aforamento jamais se quedou pelo produtivo progresso, onde os homens, hirtos e despertos, sempre fizeram finca-pé para glorificarem os compromissos de bem servir o seu povo. Ouso desbravar fronteiras intemporais, ultrapassar obstáculos e trazer à estampa realidades do antigamente e numa senda de reminiscências que teimam em preservar-se, constatarmos que no mês de novembro de 1924, o Luso de Beja, gerido por personalidades endinheiradas, mudou as instalações da sua sede da Rua das Portas de Moura para o antigo casino da “Vista Alegre”, lá para as bandas da Rua do Sembrano. O preço do imóvel importou em 50 mil escudos. Importância desafiadora para a época, tendo em conta tamanho investimento financeiro, mas que fora assumido pela urbe bejense com elevada com pompa e circunstância. Todavia, os adeptos do Luso deliraram com a novidade, reconhecendo-se que as instalações passaram, mais tarde, para usufruto do Desportivo de Beja, aquando a sua fundação a 8 de Setembro de 1947, que reunia os sócios que, mais tarde, se distribuíam por outras modalidades. O hóquei em patins e a columbofilia foram excelentes talismãs numa coletividade cuja sede juntava os seus associados. Havia noites em que o bar quase não dava vazão a tantos pedidos feitos pelos sócios que, ordeiramente, preenchiam as mesas na sala. Convém, por razões óbvias, enaltecer as eras em que as sedes, casas mãe das agremiações, apresentavam para as populações sentimentos de orgulho pelo magistral recanto clubista, sendo que ali se desfrutavam de excelentes momentos de verdadeiro ócio. Sabemos dos avanços que literalmente têm ocorrido nos povoados da nossa região que visaram as remodelações dos seus aposentos, tornando-os, de facto, atraentes. Esta pequena explanação aponta para enaltecer, na íntegra, o papel desenvolvido pela classe dirigente em prol da sua comunidade. As sedes foram, incessantemente, espaços de conforto e de um cruzar de inexcedíveis amizades. Refrescando as mentes e digo, com toda a propriedade, que existem sedes com espaços lúdicos a funcionarem, com bares, onde o pessoal se junta e convive. Oxalá que a velha tradição de uma ida à sede perdure num tempo, embora saiba que o covid-19 não tem dado tréguas a um povo que se debate com tal adversidade. Resta-nos a esperança num amanhã melhor. Que assim o seja!
Fonte: Facebook de Jose Saude

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