O jornal O JOGO esteve esta
terça-feira no Alentejo, para uma reportagem no Elvas CAD, considerada pelo
desportivo nacional como a equipa da semana. Um trabalho do jornalista Pedro
Miguel Azevedo, publicado na edição desta quarta-feira e aqui transcrito na íntegra.
Com aposta total na formação, o Elvas
quer subir de escalão e, de alguma forma, gritar que aquele símbolo do Alentejo
dos anos 40 e 80 está bem vivo.
Elvas, cidade alentejana com Badajoz
à vista, respira futebol e orgulha-se da sua equipa, nascida em 1947 da
indiferença de Benfica e Sporting. O SL Elvas, então primodivisionário e os
Elvenses eram, respetivamente, filiais de águias e leões, mas o pouco apoio
destes levou à rutura. E a uma união de adeptos rivais, sob uma mesma bandeira,
que representava o orgulho da região. Com cinco presenças na I Divisão, “O
Elvas” – com ênfase em “O”, de único – não anda no topo desde 1987/88, mas está
a dar outras alegrias aos seus apoiantes. Na época passada desceu ao distrital
da AF Portalegre, mas, agora lidera invencível com um saldo de 15-1 em golos,
nos quatro jogos disputados. Apenas uma etapa rumo à subida, para o presidente
Joaquim Santos, anfitrião de O JOGO após a goleada frente ao Portus Alacer
(0-5).
“Queremos subir e foi com esse
intuito que começámos a época”, assume o dirigente que, para o futebol
profissional, tem um orçamento a rondar os 50 mil euros, quantia que tem de
esticar toda a temporada para cobrir as deslocações dos atletas. Quase todos os
jogadores foram formados no clube elvense de nascimento – o plantel só tem dois
espanhóis – e a formação é a imagem de marca do emblema. 218 jovens praticam
futebol nas instalações pertencentes ao município de Elvas – o clube também tem
basquetebol de formação dos 10 aos 14 anos -, entidade que “apoia todo o
futebol amador, com verbas e equipamentos”, conta Joaquim Santos.
Já o treinador, também ele elvense e entusiasta
da formação, acredita que o trabalho feito permitirá o clube subir. “ Conheço
estes jogadores bem, os seus perfis psicológicos e formamos um grupo homogéneo.
Há mais quatro ou cinco equipas fortes, mas somos candidatos”, diz Manuel Henriques.
Que ninguém
se meta com ele
Lourinho é baixo, mas é explosivo
Um avançado pode ser baixo e, mesmo
assim, marcar muitos golos? Claro que sim, há inúmeros casos assim e Lourinho,
o goleador do momento no Elvas, é bom exemplo disso. Para já, assinou seis dos
15 golos da equipa no campeonato, facto que até o próprio reconhece ser algo
invulgar. “Não costumo marcar muitos golos, até porque sou extremo…Mas sou
rápido e apareço isolado na área. Também remato bem com os dois pés, embora
seja destro. Cabeça? Hum, isso é que é pior”, admite com um sorriso o pequeno
atacante que, mesmo assim, tem feito a diferença. Aos 29 anos e funcionário
público de profissão, Lourinho confessa que não tem muitas ambições futebolísticas.
Mas jogar numa liga acima, até podia ser bom, diz, ele que já jogou na III
Divisão. “Aqui, nestes escalões (distrital), há jogadores sem noção do que o
futebol e só dão porradas”, conta Lourinho, cujas canelas estão mais do que
habituadas a sentir estas pancadas…
O presidente Joaquim Santos
Líder d´O Elvas apenas deste maio
passado, Joaquim Santos tem uma ligação bem mais antiga ao clube do coração, no
qual já havia estado durante cinco direções, como secretário-geral. O apelo do
projeto de formação, em risco devido a um impasse diretivo, levou-o a dar um
passo em frente. “Havia um projeto na formação para dez anos, por isso não
podia deixá-lo cair. É da formação que vem noventa por cento dos nossos
jogadores”, conta Joaquim Santos. Aos 67 anos, este homem da área imobiliária e
técnico oficial de contas ainda dedica a maior parte do seu tempo ao Elvas,
tentando que o clube alentejano se aproxime mais do seu passado de glória.
O treinador Manuel Henriques
A vida deste treinador até podia ter
sido diferente na carreira de Manuel Henriques, ele que chegou a comandar o
Campomaiorense na I Divisão (“orientei a equipa numa vitória em Paços de
Ferreira quando o Carlos Manuel saiu”). Hoje, este professor de educação física,
com 24 anos de carreira como treinador, admite que foi por culpa própria que
nunca deu o salto. “Tive oportunidades de ir para equipas mais acima, mas optei
por ficar cá…Se agora aparecesse uma boa situação? Quem sabe…”.
Rui Santos põe avançados na linha
Um eletricista a jogar como central é
algo que poderia dar choque, pelo menos com os avançados contrários. Mas Rui
Santos, capitão do Elvas, desmente que seja preciso bater muito para dar
segurança a uma defesa que, em quatro jogos, só sofreu um golo. “Os avançados
que têm menos qualidade aqui que, por exemplo, na III Divisão”, refere o
defesa, de 31 anos.
O Elvas teve cinco presenças na I
Divisão: três na década de 40 e duas nos anos 80. Os feitos mais relevantes
foram os triunfos no Campo Grande, então casa do Benfica (47/48) e no Alentejo,
frente ao FC Porto (48/49).
Na taça de Portugal, O Elvas brilhou
em 84/85: eliminou o Belenenses e forçou o Sporting a segundo jogo, após empate
em Alvalade (0-0).
Patalino, Palmeiro, Agatão, Soeiro,
Ulisses Morais, Vítor Pontes, Basaúla, Sereno, José Soares, além do clã Vidigal,
são alguns dos nomes de ex raianos que fizeram carreira no futebol nacional e
não só.
O estádio onde joga o Elvas recebeu o
nome da sua maior figura. Domingos Patalino, falecido em 1989
Fundação: 15 agosto de 1947
Estádio: Campo Domingos Patalino
Equipamento: camisola azul com lista
horizontal amarela, calções e meias azuis
Títulos: 1 campeonato da III Divisão
(54/55); 9 campeonatos AF Portalegre (50/51; 51/52; 52/53; 54/55; 56/57; 58/59;
70/71; 01/02; 10/11; 1 Supertaça da AF Portalegre (01/02)