José Saúde
Mulheres na arbitragem
Deparamo-nos, nos tempos que correm, com uma projeção das mulheres na arbitragem nas suas diferenciadas modalidades, tendo em conta que a evolução humana trouxe outros envolventes bélicos no contexto desportivo. Julgava-se, noutras épocas, que a respeitável arte do apito estava restrita aos homens, sendo óbvio que o sofisma universal da sociedade impunha ordem no instante em que a separação das águas se tornava visível. Em tempos idos as senhoras só poderiam ir a um espetáculo desportivo desde que fossem acompanhadas por um homem, em particular com o marido. Reza a obsoleta história que nos primórdios o seu acesso estava vedado ao interior de um espaço desportivo onde a classe masculina expunha os seus portes atléticos. Observemos o que se passava nos primórdios dos Jogos Olímpicos, onde o seu ingresso lhes estava absolutamente proibido. Depois, lá se deu uma abertura para as senhoras contemplarem ao vivo o cenário desportivo. Vestiam-se a rigor, levavam um aristocrático chapéu na cabeça, um pomposo lenço ao pescoço, as vestes eram de primeira qualidade, o subordinado criado de servir levava uma cadeira para a patroa se sentar, a seguir veio a época em que a sua assiduidade era num lugar privilegiado de uma bancada feita em madeira, seguindo-se uma natural evolução que esbarra hoje com a sua forte comparência numa diversão desportiva. Num contexto generalizado, revejo a forma como as mulheres circunscreveram os seus saberes na arbitragem. A sua dedicação a um motivo dantes proibitivo, é agora uma inquestionável realidade que lhe transmite preparação, não só no conhecimento às leis do jogo, assim como uma boa condição física no momento em ajuizar um espontâneo lance. Ana Gonçalves, de 20 anos de idade, é uma jovem natural de Vila Nova de São Bento, é árbitra de futebol e dá também um jeito no futsal na Associação de Futebol de Beja (AF Beja). Admitindo que a arbitragem é, por enquanto, um legado no qual proliferam os homens, Ana Gonçalves vislumbra, no seu horizonte, que as portas para uma fulcral ascensão feminina estão totalmente franqueadas a jovens, tal como ela, entrarem neste vasto mundo do apito. O prazer do jogo e toda a carga emocional que a circunstância absorve, herdou-a quando jogava futebol no Atlético Aldenovense. De atleta passou para o cosmos do apito, sendo árbitra da AF Beja desde a época de 2018/2019. O curioso foi a maneira como se iniciou numa causa que agora defende, pois foi precisamente no pavilhão de Vila Nova que Ana Gonçalves se prontificava para integrar os elementos da mesa, mas somente como mera ajudante, em jogos de futsal em que a equipa local defrontava outros adversários, sendo que daí terá nascido a sua empatia pela causa que agora assume. Ana Gonçalves é, se nada o impedir, uma promessa que continuará a voar num meio onde as mulheres na arbitragem continuam a evoluir a bom ritmo.
Fonte: Facebook de Jose Saude