sexta-feira, 29 de julho de 2016

Saudade


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José Saúde

Visitei, recentemente, o Lar Nobre Freire, em Beja, sendo o pretexto reencontrar o meu velho amigo António Dionísio, conhecido também pelo “Macarrão”. Reconheço que o cenário deparado não foi nada cativante. Ali cruzam-se existências que o tempo se encarregou em transformar. Vergado ao peso da idade transporta consigo recordações de um período fulgente e já distante. Na generalidade todos os utentes são merecedores de estimação e de respeito. Foram jovens irreverentes aptos em desafiar as adversidades que o quotidiano impunha. Hoje, aguardam que a máquina do tempo faça romper mais uma nova aurora. Longe da algazarra das multidões, ou dos aplausos de um público frenético, cruzei olhares com o Dionísio, um homem que nasceu em Trigaches a 8 de dezembro de 1937. Habituei-me a vê-lo como um jogador de classe afinada. Um atleta para quem o futebol não tinha segredos. A sua elegância em campo era primorosa. Com uma estatura baixa, o Dionísio não temia a valência física que o adversário ostentava. Jogou no Desportivo de Beja e no FC Serpa nos tempos áureos dos serpenses na 2.ª divisão nacional a troco de uma motorizada pelo contrato ajustado. No Desportivo protagonizou uma carreira brilhante. A cidade admirou o craque. Curiosamente foi meu treinador nos juvenis do Despertar sendo que nessa época fomos campeões distritais. Depois seguiu-se o meu ingresso no Sporting e como sénior foi o Desportivo de Beja o emblema que me acolheu. Nesta fase, ele já veterano, desfrutei o prazer de o ter como companheiro num grupo de trabalho onde o saudoso Suarez era o treinador/jogador. Dionísio foi o técnico da equipa do Cabeça Gorda, o popular Ferróbico, que eliminou (1-0, golo de Pepe) o Penafiel, 1.ª divisão nacional, na Taça de Portugal, numa temporada em que o conjunto duriense era comandado por António Oliveira. Um feito brilhante que marcou os anais da história futebolística bejense. Agora, o seu estado de saúde é mesmo muito débil. Subjugado a uma cama, ali vai sobrevivendo. Saudade doutros tempos, amigo!

Fonte:  http://da.ambaal.pt/

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