sexta-feira, 19 de maio de 2017

Uma missão de fé


Os bejenses Rui Fontes e João Cruz, atletas do Beja Atlético Clube, fizeram uma peregrinação em corrida e caminhada, entre Beja e o santuário de Fátima, nas comemorações do centenário das Aparições.

Texto e foto Firmino Paixão

Ter fé é algo como termos a certeza de que vamos receber as coisas que esperamos e termos a convicção de que uma coisa existe, mesmo quando não a vemos. Este é o conceito de fé segundo as “Epístolas” legadas por Hebreus no Novo Testamento. Os 109 quilómetros, em linha reta, que separam a cidade de Beja do santuário de Fátima aumentam para mais de 260, se a ligação for feita por estrada e foi a esta distância que os aventureiros conseguiram, através de atalhos, retirar cerca de três dezenas de quilómetros, num desafio que os dois desportistas bejenses cumpriram em dois dias e meio de muito suor, algumas lágrimas e muito maior sacrifício.
Mas “pela fé oferecem-se sacrifícios”, reza também o Novo Testamento. À fé espiritual, crença que os conduziu à superação das dificuldades para serem portadores das mensagens de esperança que lhes iluminou a alma, juntaram outro tipo de fé. A humana! A vontade e a determinação que interiorizaram, acreditando nas suas excecionais capacidades físicas e, sobretudo, as psicológicas, para levarem a missão a bom termo. Um compromisso entre os dois sentimentos foi o que esteve na base do seu sucesso.
Rui Fontes diz-se católico não praticante e João Cruz reforçou a ideia de que são dois homens de fé. A inspiração para esta aventura nasceu com Rui Fontes, 38 anos, mecânico auto, após uma intervenção cirúrgica a um joelho, “Nestas alturas as emoções veem à flor da pele, sou empresário e fiquei privado de trabalhar uns dias e isso começou a mexer muito com a minha cabeça, porque eu estava sem rendimentos e tinha que recuperar rapidamente”, lembrou o atleta. Mas assumiu também: “Quis também agradecer a Deus a sorte que tive de a cirurgia ser bem-sucedida, uma felicidade que tive e que muita gente acaba por não ter, por isso, pensei naquelas pessoas que gostariam de estar em Fátima e que não podiam caminhar até lá”. Por isso, para além do pagamento de uma promessa pelo êxito da cirurgia, adiantou que fizeram esta corrida por eles “e por essas pessoas que estão incapacitadas e não o puderam fazer, embora tivessem vontade. Fomos de coração aberto e levámos na alma as mensagens de todas as pessoas que no-las quiseram transmitir, fomos apenas por uma boa causa”.
Rui Fontes foi o mentor desta peregrinação em corrida e enalteceu a participação do João Cruz: “Temos pessoas que nas alturas de maior dificuldade nos ajudam. Somos mais do que um clube, somos uma família e há sempre pessoas que nos ajudam nestas horas. Falei com o João e ele disponibilizou-se de imediato para me ajudar a pagar esta promessa”. E tudo aconteceu num tempo em que o clube esteve em várias frentes competitivas, por isso, Rui também enalteceu o grupo: “Mais uma vez se prova que a nossa força de vontade, embora com apoios reduzidos, chega a todo o lado e é essa crença que nos move, que nos faz chegar mais longe e que faz de nós pessoas e atletas diferentes”.
João Cruz, 31 anos, militar da Guarda Nacional Republicana, lembrou que não foi um desafio fácil de cumprir, no entanto, diz, “fiz uma maratona há relativamente pouco tempo, sem treinos nenhuns para a especificidade dessa prova e consegui concretizar o objetivo. Esta foi mais uma meta a que nos propusemos e que conseguimos concluir com sucesso”, mas “fomos os dois, eu e o Rui, que carregámos esta cruz, apoiámo-nos um ao outro, somos atletas mentalmente muito idênticos e gostamos de desafio e uma vez que o Rui decidiu enfrentar esta aventura, abraçámo-la em conjunto como, aliás, já aconteceu noutras ocasiões”.
João revelou ainda que “mentalmente somos atletas com uma personalidade forte e essa foi uma condição essencial para que tivéssemos realizado o nosso objetivo. Eu até costumo dizer que, principalmente nos desportos individuais, nomeadamente no atletismo, 70 por cento das exigências apelam às capacidades psicológicas e os restantes 30 por cento são as físicas”.
Os atletas foram apoiados por uma viatura do Beja Atlético Clube conduzida pelo também atleta Celso Graciano e contaram com o apoio do diretor desportivo, Bento Palma. No regresso regozijaram-se pela forma como representaram a cidade e o seu clube que disseram ser “uma terra e um clube de vencedores”.
Uma aventura com cerca de 230 quilómetros de corrida e caminhada em 29 horas, as últimas bem dolorosas. Tiveram uma única escala em Montemor-o-Novo, a partir de onde a chuva e o frio foram os seus piores inimigos, provocando um ligeiro estado febril. Estava prevista uma segunda paragem, que não chegou a acontecer. O tempo escasseava e a ideia era assistirem às celebrações presididas pelo papa Francisco. Conseguiram-no. Força campeões! 

Fonte: http://da.ambaal.pt/

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