sexta-feira, 23 de junho de 2017

Flávio Pacheco (paraciclista) tem os Jogos de Tóquio 2020 no horizonte


Texto Firmino Paixão

Nasceu em Ermidas-Sado, Santiago do Cacém, há 32 anos, e é operador de caixa da Área de Serviço da Galp Gest, em Aljustrel, na A2. É atleta do Sporting Clube de Portugal e acabou de vencer mais uma prova da Taça de Portugal em paraciclismo, em Águeda, na classe H4.
“Perdi o membro inferior esquerdo aos 19 anos, num acidente de moto perto da aldeia de Ermidas, onde morei. Regressávamos de um passeio e aconteceu aquele azar, nem era eu que conduzia, era outro amigo que, infelizmente, acabou por falecer. Embatemos num carro, sofri várias fraturas na perna direita, na bacia, no crânio, estive cerca de um mês em coma e tiveram que me amputar a perna esquerda”, recorda. Seguiram-se quatro anos de recuperação até encontrar uma prótese e ambientar-se a ela: “Foi um tempo muito complicado. Tenho uma prótese eletrónica que é a minha sorte, para ser mais independente e poder trabalhar”.
Flávio tem hoje uma vida quase normal, mas aquele momento do acidente foi marcante para o seu futuro: “Tinha 19 anos, estava na flor da idade, no tempo de me divertir com os amigos e muitos sonhos foram por água abaixo. Dois deles foram mesmo. Queria ir para a Marinha e jamais consegui, o outro era ser motorista de pesados e, infelizmente, também não o concretizei. Agora com as novas tecnologias, se calhar, já conseguia, mas esse tempo passou, a vida mudou muito, esses dois sonhos foram embora”.
Na força da juventude viu a sua vida dar uma volta de 180 graus, mas a força que sentiu à sua volta ajudou-o a superar o infortúnio, revela o atleta ermidense: “Uma grande volta, sem dúvida nenhuma, tive um grande apoio dos meus amigos e da minha família, ajudaram-me a levantar, principalmente o meu pai, que é a pessoa mais forte lá de casa. A minha avó, infelizmente, não aguentou, a minha mãe esteve muito mal, mas já vai recuperando. Quando a minha avó faleceu voltei a bater no fundo, mas foi quando conheci a minha namorada, hoje minha esposa, e até hoje temos sido felizes, tenho que lhe agradecer muito o apoio que ela me deu e que me fez erguer novamente”.
Flávio Pacheco já recuperou a felicidade e a força para viver: “Faço a minha vida, obviamente existem sempre algumas limitações, mas a vida continua. Hoje já vejo as coisas de outra forma, tenho a minha profissão, a minha família e no plano desportivo faço aquilo que me é possível fazer, mas faço-o com muita paixão e muita determinação. Trabalho muito, treino cerca de 14 horas por semana, chego a fazer 500 quilómetros semanais”. Não admira, por isso, que “o pouco tempo livre que me resta dedico-o à família, mas não é fácil, tenho um miúdo com dois anos, outro com seis, e este já reclama a minha disponibilidade, mas as coisas têm vindo a evoluir positivamente”.
O paraciclismo entrou na sua vida “através de um grande amigo de longa data, o Luís Costa, também amputado. Ele teve um acidente um ano antes do meu, conhecemo-nos num ginásio e criámos uma grande amizade. O Luís começou o paraciclismo mais cedo do que eu e estava sempre a dizer-me que eu devia experimentar, até que me convenceu”.
Em finais de 2014 adquiriu a bicicleta, reuniu alguns apoios para poder competir e, disse com alguma naturalidade, “ganhei logo a primeira prova e venci a Taça de Portugal. No ano passado fiz duas provas internacionais, uma em Abu Dhabi e outra em Bilbau, na Taça do Mundo, com a camisola da seleção nacional”. Em Portugal “voltei a vencer a Taça de Portugal e fui campeão nacional de contra relógio e vice-campeão de estrada e neste ano já venci duas provas da Taça de Portugal (Viana do castelo e Águeda) e estive em Brescia a competir”.
Foi também pela mão de Luís Costa que se comprometeu com o Sporting até 2020, ganhando outra visibilidade e dando início a um ciclo de qualificação olímpica: “O meu grande objetivo é esse, estou com os olhos postos em Tóquio. Já no ano passado fui pré-convocado para os Jogos do Rio, fiquei como suplente, tinha atletas mais fortes do que eu, que até conseguiram excelentes classificações para Portugal. Mas agora vou lutar para estar em Tóquio e espero ir lá com o Luís Costa”. 

Fonte: http://da.ambaal.pt/

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