sexta-feira, 9 de junho de 2017

João Miguel Torrão, um cavaleiro serpense na alta-roda, sonha com os grandes palcos


Quis o acaso que João Miguel Varela Torrão tivesse nascido em Lisboa, mas, ainda de tenra idade, veio para o Alentejo, torrão natal dos progenitores, que se fixaram nos arredores de Serpa. Tem, por isso, toda a legitimidade em se confessar alentejano e serpense dos quatro costados.


Texto e foto Firmino Paixão


O Alentejo, o campo e os cavalos, um triângulo em cujos vértices se alicerça uma vivência de 23 anos, ao longo dos quais foi fortalecendo essa enorme paixão, que roça a loucura, pelos cavalos, pelo seu ensino e pela competição, mas que, afinal, é também a sua profissão. Um dos seus maiores êxitos competitivos foi vivido, há dias, no Concurso Internacional de Dressage de Segóvia (Espanha).

Serpa continua a ser o seu refúgio para tratar dos seus cavalos?Toda a minha vida foi feita aqui em Serpa, fiz aqui o secundário normal, até ao 12.º ano, e depois licenciei-me em Equinicultura, na Escola Superior Agrária de Elvas. Trabalho em Arraiolos, mas também ligado a esta área. Sou instrutor no Monte Velho Equo Resort, uma coudelaria onde criavam cavalos puro-sangue lusitano que, mais recentemente, se tornou num espaço de turismo equestre, onde recebemos pessoas de toda a parte do mundo para terem aulas com os cavalos que lá temos. Sou um dos instrutores da coudelaria, com a Coralie Baldrey, que é a minha treinadora, e, para além das aulas, sou também o cavaleiro patrocinado pelo Monte Velho.


Tem uma grande paixão pelos cavalos?Desde muito novo que gosto de cavalos. Sou completamente apaixonado por eles. Desde pequeno que gosto de todo o tipo de animal, mas o cavalo foi sempre aquele que me despertou mais curiosidade. É mais do que uma paixão, é uma grande loucura.


Uma loucura influenciada pelo ambiente onde viveu a sua juventude e adolescência …Sim, quando os meus pais regressaram ao Alentejo fomos viver para um monte e eu fui criado no campo, até à adolescência, rodeado de animais. Por volta dos meus 10 anos o meu pai comprou-me um cavalo.


Com toda essa vivência, e uma licenciatura na área equestre, o percurso competitivo foi um processo natural?Posso dizer que tive sorte, porque quando acabei a faculdade fui logo trabalhar para este local, que já conhecia, porque durante os estudos estagiei lá várias vezes e, pela minha dedicação, consegui ter bons resultados em competições nacionais e o progresso foi notório. Mas, na verdade, quando entrei para a faculdade, o meu objetivo era competir ao mais alto nível.


A qualidade do conjunto, cavaleiro e montada, são determinantes para o desporto que pratica…A modalidade que eu pratico chama-se dressage (ensino) e exige uma harmonia perfeita entre o cavaleiro e o cavalo, uma boa combinação entre estes dois seres vivos, ou seja, se eu não tivesse um bom cavalo se calhar não teria os bons resultados que tenho. Tem que existir uma simbiose perfeita entre o conjunto, sem que os juízes se apercebam das indicações que o cavaleiro dá ao cavalo. Mas é um desporto um pouco subjetivo porque, às vezes, o que é bom para um juiz não será tão bom para outro.


Disputou recentemente o Concurso Internacional de Dressage em Segóvia (Espanha), onde os juízes foram unânimes em dar-lhe dois primeiros lugares.Foi o segundo concurso internacional que fiz com o mesmo cavalo, o Equador. Foi uma prova de três estrelas, em Segóvia, e correu muito bem. Ganhámos as duas primeiras provas, entre 22 concorrentes, um resultado que não estava nas nossas expectativas. Foi muito bom para a minha carreira, sou novo e ainda não tenho muita experiência. Marquei um bocadinho a minha posição neste desporto e foi bom também para o cavalo lusitano, porque competimos contra muitos holsteiner black que são a raça forte deste desporto. Em Portugal não compito muito, mas sempre que o fiz tivemos bons resultados, muitos primeiros lugares e muitos pódios.


Com 23 anos de idade ainda tem um longo caminho a percorrer neste desporto? Para chegar até onde?O meu sonho é tentar sempre ser o melhor profissional possível, claro que a competição passa também pelo meu futuro profissional, por isso quero sempre conseguir mais e melhor e acho que qualquer cavaleiro ambiciona estar, um dia, no palco das maiores competições europeias e mundiais. Quero marcar presença nessas provas, mostrar que Portugal e o cavalo lusitano têm valor, embora num desporto que, no nosso país, ainda está em fase de descoberta. Os jogos olímpicos serão o sonho maior. Um dia, quem sabe, representar o meu país nos jogos olímpicos seria o auge da minha carreira.

Fonte:  http://da.ambaal.pt

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