sexta-feira, 7 de julho de 2017

Carlos Padrão revisitou a cidade onde foi feliz e onde se fez futebolista


Chamavam-lhe, muito carinhosamente, o “Carlinhos Retornado”, o que, literalmente, não correspondia à verdade. Porque “retornado é alguém que retorna ao sítio onde pertence”, defendeu a historiadora Helena Matos, num estudo sobre a descolonização de Angola.

Texto e foto Firmino Paixão

E Carlos Padrão, o protagonista da nossa história de vida de hoje, nasceu em Angola, portanto, a sua vinda para Portugal, aos 15 anos, aconteceu por contingência do retorno dos pais, esses sim, ao país de origem. E no caso da mãe, também à cidade de Beja, onde tinha raízes familiares, e onde se encontra sepultada.
O seu percurso desportivo começou nas escolas do ASA – Atlético Sport Aviação, clube da capital de Angola, patrocinado pela TAAG – Linhas Aéreas de Angola. Quem sabe se fonte de inspiração para os largos voos que o antigo guarda-redes Carlos Padrão deu ao longo da sua longa carreira desportiva de duas décadas, em que representou cerca de duas dezenas de emblemas, alguns ao mais nível no futebol português e com quatro títulos entremeados. Foi campeão da 2.ª Divisão Nacional pelo União de Leiria, campeão nacional da 1.ª Divisão, vencedor da Taça de Portugal e da Supertaça, pelo Futebol Clube do Porto.
Carlos Manuel Costa Padrão nasceu no Lobito (Angola), em 1959, tem, por isso, dupla nacionalidade. Chegou a Beja após a Revolução de Abril e prosseguiu os estudos no antigo liceu, onde participava nos jogos escolares. A sua agilidade entre os postes levaram um companheiro de estudos, José Manuel Damásio, já atleta do Desportivo de Beja, a alertar o professor Manuel Fonseca, técnico do clube, para a qualidade de Carlos Padrão.
Contou-nos aquele “detetor de talentos” que “foi observar o jogador” e confirmou “de imediato as suas qualidades” e daí até vestir a camisola com o emblema com a torre de menagem bejense foi um pequeno passo. Mais rápida só a sua inclusão na equipa principal do Desportivo, como revelou o próprio Carlos Padrão em recente visita a Beja: “Foi uma experiência fantástica jogar com 16 anos na 3.ª Divisão. O Lança fraturou o menisco, o Chico ‘Cagaré’ partiu um braço e eu fui promovido à primeira equipa. São memórias que nunca se apagam e, por isso, hoje sinto alguma tristeza por não ver o Desportivo de Beja, pelo menos, no Campeonato de Portugal”.
Neste seu regresso a uma terra onde foi feliz, Padrão revelou enorme gratidão: “Beja é uma cidade muito marcante para mim, é aqui que a minha mãe está sepultada, foi aqui que tudo começou, e onde tive o prazer enorme de reencontrar o professor Manuel Fonseca, pessoa a quem devo tudo. Se eu fui jogador de futebol devo-o ao professor Manuel Fonseca, devo-o ao Clube Desportivo de Beja e naturalmente a esta cidade de que muito gosto”.
Beja foi ponto de partida para uma carreira que o levou a representar vários clubes nacionais (Sporting, Riopele, Beira-Mar, União de Leiria, Belenenses, Vitória de Setúbal, Chaves, Boavista, FC do Porto, Paços de Ferreira e Olhanense), mas confessou: “O Desportivo de Beja ficou sempre no meu coração. Di-lo-ei sempre, nunca esquecerei o carinho, a amizade, aquilo que as pessoas representaram para mim e para a minha família. Vínhamos de África, eu nem Portugal conhecia, e a verdade é que no ‘Alentejo vermelho’ dessa altura, o ‘Carlinhos Retornado’, como ainda hoje algumas pessoas me conhecem em Beja, foi feliz. Foi um tempo fantástico. Tudo o que fui e fiz no futebol foi porque o Desportivo de Beja me deu essa oportunidade”.
Padrão saiu de Beja para o Sporting fruto da amizade de Manuel Fonseca com o antigo jornalista David Sequerra, e ali fez três épocas. Mas será que Carlos Padrão quando, pontualmente, regressa a esta cidade, reencontra caras desse tempo? “Nem por isso, mas as redes sociais são um espaço onde realmente me tenho cruzado com algumas pessoas conhecidas. A verdade é que o Horta, o Rosa, o Vítor Madeira, o Francisco Agatão, o João Caixinha, são pessoas com quem mantenho algum contacto, o filho Pedro que nessa altura era pequenino, mas relaciono-me com pessoas de Beja, alguns já aqui não viverão, mas os laços ficaram para sempre”.
Carlos Padrão reparte hoje a sua vida entre Angola, onde tem uma empresa de construção civil, e Portugal, onde tem atividade no agenciamento de jogadores e, no seu olhar sobre a cidade que o acolheu em 1975, confessa que “está mais bonita, tem um complexo desportivo fabuloso, não estava nada à espera de encontrar isto, por isso, penso que está no tempo e na hora de as pessoas de Beja ajudarem a levar o clube, pelo menos, para o Campeonato Nacional de Seniores”.

Fonte:  http://da.ambaal.pt

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