domingo, 12 de setembro de 2021

Bola de trapos, edição de 10/09/2021 no Diário do Alentejo

 

José Saúde
Clã Penas
Amália Rodrigues no fado “Lágrima” entoava a seguinte estrofe: “Cheia de penas, cheia de penas me deito, e com mais penas, com mais penas me levanto”. Não vamos, obviamente, debruçarmo-nos sob o sentimento de um nostálgico desgosto ou de um mote que reflete confiscação de valores morais quando a temática resvala para o pormenor gramatical acerca do substantivo penas. Sim, porque em Beja houve uma família de apelido Penas que muito gratificou o futebol na velha Pax Júlia. É certo que não terão sido protagonistas de grandes manchetes em jornais, escassos à época, ou de colossais títulos na imprensa. Comentava-se nas antigas tabernas ou nos cafés dos insignes feitos de um clã Penas que deixou memórias no inolvidável fenómeno futebolístico. Se a mente não me falha, pois se assim o não for assumirei tal lacuna, que a tribo Penas terá assumido o Despertar Sporting Clube, de Beja, como emblema de eleição. Vistoriando páginas de glórias da agremiação, dou conta de um antigo jogador chamado Luciano Penas que envergou a camisola despertariana ao longo de várias épocas. Mas a linhagem Penas espalhou-se por várias décadas, sendo que mais tarde Manuel Penas, seu sobrinho, um rapaz franzino e de habilidade extraordinária, dignificou, com honra e presunção o ímpeto familiar. O Manuel Penas teve como berço o Despertar, sendo que mais tarde transitou para o Vasco da Gama de Sines, onde brilhou no emblemático clube sineense. Nesses tempos o Vasco da Gama militava na II Divisão Nacional e o moço de Beja integrava o 11 da costa alentejana. Esse novo rumo trouxe ao Penas novas valências que se cimentaram com o evoluir das eras, visto que ali encontrou emprego e por lá se estabilizou numa urbe que o recebeu com pompa e circunstância. É com uma absoluta e crível afirmação que recordo a geração Penas no panorama desportivo bejense, sabendo que outros ter-se-ão espalhado por modalidades diferentes, designadamente pelo hóquei em patins, onde houve atletas, um treinador e um árbitro. Fica porém a certeza que, dado que o tema exposto é também olhado por um outro prisma, Genoveva Penas, esposa do “tio” Faustino, um despertariano de corpo e alma, foi proprietária de um forno em Beja, sendo que este se situava na Rua Manuel de Arriaga, antiga Rua da Capelinha, um sítio onde se assavam iguarias divinais. O extinto Girafa, propriedade dos irmãos Brito (Bernardino, Manuel e Arlindo), era cliente assíduo dos excelentes préstimos de Genoveva Penas. O Girafa fora um ponto de encontro de pessoas que viviam entusiasticamente o prodígio desportivo. Ali se fixavam admiradores de vários emblemas, mas onde existia o respeito recíproco de todos os interlocutores. O saudoso Bernardino, o homem do leme de uma embarcação deveras eclética, impunha ordem na rota e com o aviar de mais uma imperial lá vinha atrás um naco de carne assado no forno de Genoveva Penas. Mas será que o ciclo de desportistas Penas se terá fechado? Ou outros o seguirão! Fica o repto.

Fonte: Facebook de Jose Saude

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