Esta questão só consigo responder de uma forma: com um sorriso nos lábios. Vim para a arbitragem “sem querer”. Sempre acompanhei a vida de um árbitro por perto pois o meu pai, João Brites Lopes, foi árbitro 20 anos… E no último ano dele como árbitro (2001), surge uma nomeação que dizia que eu ia ser assistente dele…Tive uma semana intensiva de aulas práticas com ele (na altura não havia curso de candidatos a decorrer) e foi assim o primeiro jogo em 27.Fevereiro de 2001 de Infantis como Assistente, na altura os infantis era futebol 11. Era o último jogo oficial do meu pai como árbitro e o meu primeiro. Considero a “passagem de testemunho”.
2ª Qual tem sido o teu percurso na arbitragem até aqui?
O meu percurso teve altos e baixos. Com os baixos aprendi e cresci e com os altos solidifiquei aprendizagens anteriores. Como anteriormente referi apesar de ter começado em 27.Fev.2001 o meu curso de candidatos frequentei com 15 anos de idade em Outubro de 2001. Em 2005, com 19 anos subi ao Quadro Feminino da F.P.F. e é onde permaneço actualmente. Ter vindo cedo para a arbitragem para mim foi uma mais valia pois fui ganhando experiência e aprendendo cada vez mais, orgulho-me de como mulher ter 24 anos de idade e já ter uma quantidade de histórias e peripécias que a arbitragem me faz guardar e contar…
3ª Como vê o actual momento da arbitragem no nosso distrito?
Pelo que vi até agora desde que integrei o C.A. da A.F. Beja temos um grande grupo de trabalho que só pode vir a melhorar. Digo isto com toda a certeza porque sem esforço não há nada e sem trabalho também não… A arbitragem de Beja é esforçada e trabalha, como tal só pode vir cada vez mais a melhorar. Arbitragem não são só as três pessoas que equipam fim-de-semana após fim-de-semana mas também quem nos ensina, quem nos avalia, quem nos orienta e quem nos defende.
4ª No Nosso Distrito a arbitragem tem falta de Cultura ou não, e porquê?
Não considero que a arbitragem no nosso distrito tenha falta de cultura… A nossa arbitragem e tudo o que as três pessoas que equipam sabem e fazem, foi-lhes ensinado por alguém… Certamente que quem ensinou não ensinou apenas pormenores técnicos, disciplinares ou movimentações… Ensinou a ética da arbitragem, os costumes da arbitragem, a procura pela verdade desportiva e todos os valores e princípios que na minha opinião é crucial ter para se ter um bom desempenho na arbitragem, porque mais uma vez, não é só equipados que somos árbitros.
5ª Quais as pessoas que tem dificultado o teu trabalho na arbitragem?
Penso que ninguém dificulta ninguém… Ou pelo menos quero pensar desta forma. Especialmente por ser mulher todas as pedras colocadas no meu caminho surgiram por ser mulher. Quem me as pôs não estava, nem nunca esteve ligado (s) à arbitragem… São pessoas assim aquelas que têm mentalidades retrógradas onde pensam que “o futebol é para homens” quando o futebol é para todos… E que se erro é porque sou mulher e não porque sou árbitra… … Coube a mim, chutar essas mesmas pedras para longe e as que não consegui afastar, saltei por cima… Isso só me fortaleceu e continua a fortalecer.
6ª Qual a referência que tens na Arbitragem?
Sem dúvida alguma e como é obvio têm de ser mencionado em primeiro lugar, meu pai Brites Lopes, por tudo aquilo que foi, por tudo aquilo que é e pelas coisas que ainda será… Tenho orgulho por ser sua filha e tenho orgulho por ter sido ele a ensinar-me a sobreviver como moça de 15 anos na arbitragem e por ter sido ele a ensinar-me a viver como mulher na arbitragem...
7ª Qual a diferença que tem a Arbitragem em Santarém e aqui em Beja?
A nível de futebol praticado e como tal a arbitragem exigida não tem grandes diferenças o futebol distrital… em Beja é competitivo, em Santarém não é diferente. O que se exige a um árbitro de 1ª Categoria em Beja é o mesmo que em Santarém. Relativamente aos Conselhos de Arbitragem… Santarém foi quem me criou e apoiou, Beja é quem me apoia e desenvolve… Mesmo a competitividade saudável entre classificações de árbitros em Santarém e em Beja é semelhante. No âmbito geral não têm grandes diferenças de Santarém para Beja que sejam significativas para eu as ter notado.
8ª Ser Arbitra do Quadro Nacional é muito diferente do que ser do Distrital , para a Ana qual tem sido a diferença entre os Nacionais femininos e os Distritais de Beja?
Ser Árbitra do Quadro Nacional é diferente do Quadro Distrital. Mas independentemente do símbolo que se usa ao peito o que importa para mim é o respeito e o gosto que temos em representar uma Federação ou Associação…. Não é a competição em causa mas o gosto em fazer parte dela.
Relativamente à diferença entre os nacionais femininos e os distritais femininos de Beja não sei responder pois ainda não tive oportunidade de fazer um jogo feminino no distrital de Beja. Sei que no geral o futebol feminino tem vindo a evoluir a “olhos vistos” e que a tendência é para melhorar.
9ª Deixa uma mensagem para os leitores deste blogue e um comentário sobre este blogue?
Agradeço ao blogue por me ter dado oportunidade de me apresentar ao futebol Alentejano e a todos os leitores que perderam uns minutos de uma vida a ler parte do meu percurso na arbitragem, muito obrigado. Ao blogue e para terminar, continuem o bom trabalho que têm vindo a desenvolver até agora que os vossos seguidores agradecem por manter os mais curiosos informados não só de futebol mas também de outras modalidades e eventos.
Cumprimentos
Ana Brites
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