sábado, 1 de outubro de 2011

Gonçalo Nunes, Casa do Benfica de Castro Verde

11061 1166171762398 1471045383 30444833 453022 n O comprometimento com a equipa tem de ser total!, Gonçalo Nunes, Casa do Benfica de Castro Verde
1) Nome Completo: Gonçalo Henriques Nunes

2) Equipa: Casa do Benfica de Castro Verde

3) Qual o seu percurso desportivo?

- Desporto Escolar (Organizador / Atleta) – 1994/98;

- Ediclube (Futsal) – 1995/96;

- GCD Del Negro (Futsal Feminino – Colaborador);

- 3M (Futsal) – 1996/98;

- GDCR Rio de Mouro (Futebol – Distrital) – 1998/99;

- Olímpico Futebol Clube (Futsal – 1ª Div) – 1999/00;

- Selecção da Marinha de Guerra Portuguesa/Armada (Futebol e Futsal) – 1998/2000;

- Arbitragem de Futsal na Marinha de Guerra Portuguesa/Armada – 1999/2000.

- Guarda Nacional Republicana (Futebol e Futsal) – 2004/2006;

- Alcariense (Futebol Inatel) – 2006/08;

- GDC Sete (Futebol – Distrital) – 2008/10;

- Casa do Benfica de Castro Verde (Futebol 7 Feminino – Treinador);

- Junta de Freguesia de Almodôvar (Futsal Feminino – Treinador) – 2011;

- Curso de Formação de Árbitro Estagiário de Voleibol – 2011.

067 O comprometimento com a equipa tem de ser total!, Gonçalo Nunes, Casa do Benfica de Castro Verde

4) Olhando para a sua própria experiência, quais são as grandes competências ou características que deve ter para poder exercer a função de treinador?

Acima de tudo, o treinador deve ser portador de brio e paixão pelo jogo em si. O acompanhamento da evolução do próprio jogo nunca deve ser descurado. Não podemos estar fechados no nosso próprio mundo.

O treinador de uma equipa feminina tem de saber adaptar-se. As circunstâncias não são as mesmas e o modo de interagir com as atletas é realmente diferente do sector masculino.

Enquanto atleta passei por vários clubes, desde a 1ª divisão de Futsal à vertente Inatel e menos profissional do Futebol, que me fizeram experienciar diferentes realidades e exigências. Participei durante bastantes anos na organização de competições a nível do Desporto Escolar e da Marinha. Cada momento serviu para me moldar, para interiorizar aprendizagens que procurarei transmitir às jogadoras da CBCV.

Em todo o caso, a CBCV é dotada de uma equipa técnica que funciona como um só, complementando-nos em alguns pontos, onde a experiência tenha algumas lacunas.

5)  Que tipo de princípios/ideias são fundamentais para si enquanto treinador?

Enquanto treinador da CBCV, sei que toda a equipa técnica ambiciona que as atletas incorporem um espírito de Dedicação, Ambição, Desportivismo, Amizade e Crescer no Saber.

O comprometimento com a equipa tem de ser total! Têm de saber que os objectivos são comuns a todas, e não se pode tolerar individualismos em detrimento do colectivo.

Pretendo em todos os momentos ser fiel aos meus princípios de jogo mas também humanos. Se no final do dia for para casa e fizer uma retrospectiva do que sucedeu num determinado treino ou jogo, sei que estarei de consciência tranquila em relação a tudo o que procurei transmitir às minhas atletas, esteja ou não satisfeito com os resultados. Não estando satisfeito, só terei de procurar inverter tal situação com o apoio da restante equipa técnica e direcção, procurando novos caminhos, novas soluções.

6)  Enquanto treinador, o que é para si ter sucesso?

Ter sucesso é saber que nos esforçámos ao máximo para transmitir os ensinamentos tidos por necessário para que as atletas singrem no futebol. Na minha opinião, ter sucesso é, no final, saber que vamos para casa conscientes de que o empenho foi total, aprendendo e corrigindo erros cometidos. O Saber advém da Experiência. Ter sucesso é formar jogadoras mas acima de tudo mulheres, porque a CBCV orgulha-se de ter 60% de atletas com idade igual ou inferior a 18 anos, que procuram formação desportiva, mas que esta nunca camufle a sua própria formação pessoal. Ter sucesso é orgulhar-me de todas as jogadoras que dirigimos. A média de idades da equipa cifra-se nos 19 anos. Saber que cresceram e moldaram também um pouco a sua personalidade connosco é o factor que aponto como maior objectivo pessoal.

7)  Quais são os objectivos a médio, longo prazo da sua equipa?

A CBCV, sua equipa técnica e direcção está fortemente empenhada em dar seguimento à grande época transacta, cuja ascensão considero meteórica. Ambicionamos vencer, sempre! Vamos lutar pela conquista do Campeonato e da Taça. É isso que nos move! Mas também ambicionamos proporcionar espectáculo e entretenimento, chamando cada vez mais adeptos aos estádios por onde passamos.

Numa outra vertente, não menos importante, a CBCV empenhou-se na formação de atletas com idade inferior a 14 anos, procurando superar a lacuna da formação futebolística que infelizmente ainda está bem presente no sector feminino. Vamos abraçar junto da equipa um conjunto de jogadoras na casa dos 10/11 anos, que serão devidamente acompanhadas pelo restante plantel, direcção e equipa técnica, integrando-as, a seu tempo, na fase de construção de jogo, junto do restante plantel, motivando-as e retirando das aprendizes o melhor do seu desenvolvimento.

Temos ainda uma estreita relação com a ART (Associação de Respostas Terapêuticas), sita em Castro Verde, ajudando deste modo à integração social de 4 raparigas. São jogadoras que procuram no desporto a sua tão desejada integração mas também particularmente o carinho das novas amizades, adquirindo uma nova vida nesta terra que, tal como os seus costumes, também lhes é praticamente desconhecida. Estas atletas provêm de meios familiares que, por um ou outro motivo, se tornaram disfuncionais, pelo que aqui abraçam uma nova família, e a Casa do Benfica de Castro Verde orgulha-se de as acolher pelo segundo ano consecutivo.

icon cool O comprometimento com a equipa tem de ser total!, Gonçalo Nunes, Casa do Benfica de Castro Verde Quais são as suas expectativas para o campeonato?

Ambicionamos vencer jogo a jogo, conscientes das dificuldades inerentes a cada situação, pelo que vai ser necessário motivar todo um plantel para se suplantar e lutar por cada vitória.

Acredito que as demais equipas se reforçaram mas, acima de tudo, têm a possibilidade de aproveitar nesta época toda a aprendizagem e experiência adquirida durante o ano transacto.

Noutra vertente, seria importante conseguir cativar mais e melhor público para acompanhar os jogos, criando um movimento em torno da equipa da CBCV, mas também junto dos restantes clubes.

Acredito que, cada vez mais, o futebol feminino passa a ser encarado de um modo sério, desmistificando o desporto em geral.

Saúdo o aumento do número de clubes em competição, embora não no número desejável e que até foi quase viabilizado, mas que por problemas seguramente financeiros mas também de meios humanos, acabou por não passar de um projecto.

9)  Que condições lhe são dadas para exercer as suas funções de treinador? Ou seja, sente que possui as condições humanas, financeiras e materiais para exercer a sua função?

Julgo que as condições são criadas por todos nós (intervenientes no jogo).

Tratando-se de um desporto amador, existem condicionantes ao seu normal desenvolvimento, seja devido à situação profissional / estudantil das atletas como dos seus treinadores e dirigentes, seja devido à situação financeira dos clubes, que dependem maioritariamente de subsídios de apoio ao desporto e, em boa parte, do contributo de particulares que, felizmente, vão constituindo, no nosso caso, a Casa do Benfica de Castro Verde.

A situação financeira vai, obviamente, repercutir-se materialmente junto do grupo de trabalho, seja nos mais ínfimos objectos auxiliares de treino, até ao modo de deslocamento das jogadoras que, como referi, em grande parte não possuem automóvel para se deslocar para os treinos e jogos, em razão da sua menor idade, juntando a tudo isto os custos inerentes à alimentação das atletas.

10)  Até que ponto sente apoio da direcção/administração ao seu trabalho?

E Pluribus Unum!!! O Grupo de trabalho funciona como um todo. Divididos todos nós cairíamos. “De todos, Um” objectivo em comum. Não faria sentido de outro modo. A direcção empenha-se diariamente junto da equipa, até porque não tratamos apenas o campo desportivo mas também a vertente social de cada jogadora.

11)  E quais são os grandes problemas e obstáculos que encontra no exercício das suas funções?

O maior obstáculo é a ocupação pessoal de cada interveniente, seja na sua profissão ou no seu meio escolar. O pouco tempo livre que resta a uma jogadora estudante é repartido e utilizado em prol da equipa. Claro que a parte pessoal e familiar é directamente afectada. Outras jogadoras, bem como eu próprio, trabalhamos por turnos, o que implica não poder comparecer em todos os treinos e até jogos do campeonato, sabendo que em muitos casos prescindimos também do descanso para poder treinar, ainda que horas após estejamos a trabalhar toda a noite.

Continuamos também a precisar de desmistificar o papel da mulher no desporto, em particular no futebol. Existe ainda uma boa parte da sociedade que não revê na mulher a capacidade física, técnica e táctica necessária à prática do futebol, o que é completamente erróneo, e que julgo que a equipa da CBCV vai conseguir ultrapassar completamente durante esta época.

Noutra vertente, um dos maiores problemas com que continuamos a deparar-nos é a incapacidade de explorar convenientemente a equipa, nomeadamente por não termos o número desejável de treinos semanais, devido ao aproveitamento dos espaços do estádio municipal. Existem muitos escalões de formação a ocupar o mesmo recinto de jogo/treino, o que inviabiliza melhor aproveitamento e exploração da capacidade das jogadoras. Os treinos têm de ser um pouco mais resumidos, o que por outro lado implementa a obrigatoriedade de maior concentração em tudo o que é proposto e exigido durante o treino.

No seguimento desta problemática, durante a época transacta, fomos obrigados a jogar sempre a partir das 17h00 nos jogos caseiros (inclusive jogámos um jogo no Estádio de Ourique, sendo os anfitriões…), o que implicava jogar praticamente a partida inteira de noite (durante a fase de inverno), com a agravante da iluminação do campo sintético não ser de todo a desejável. No fundo, a equipa feminina foi sempre segregada e colocada para segundo plano, cabendo aos escalões de formação masculinos jogar durante o período diurno.

Julgo que seria um problema de fácil resolução, não implicando custos, nomeadamente com a rotatividade do espaço, para uma justa repartição ao longo da época, ou até a marcação de jogos durante o período da manhã, o que levaria, por exemplo, a que uma equipa que viaja bastantes quilómetros não tivesse de regressar a casa pela noite dentro.



Muito obrigado pela oportunidade de expor um pouco da Alma da CBCV.

O futebol feminino precisa de chegar a todos os que gostam de desporto, futebol em particular. O Portal Futebol Feminino em Portugal está de parabéns icon wink O comprometimento com a equipa tem de ser total!, Gonçalo Nunes, Casa do Benfica de Castro Verde 
Entrevista conduzida por Ana Silva para o Portal de Futebol  Feminino
Fonte: http://futebolfemininoportugal.com/

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