1) Nome Completo: Gonçalo Henriques Nunes
2) Equipa: Casa do Benfica de Castro Verde
3) Qual o seu percurso desportivo?
- Desporto Escolar (Organizador / Atleta) – 1994/98;
- Ediclube (Futsal) – 1995/96;
- GCD Del Negro (Futsal Feminino – Colaborador);
- 3M (Futsal) – 1996/98;
- GDCR Rio de Mouro (Futebol – Distrital) – 1998/99;
- Olímpico Futebol Clube (Futsal – 1ª Div) – 1999/00;
- Selecção da Marinha de Guerra Portuguesa/Armada (Futebol e Futsal) – 1998/2000;
- Arbitragem de Futsal na Marinha de Guerra Portuguesa/Armada – 1999/2000.
- Guarda Nacional Republicana (Futebol e Futsal) – 2004/2006;
- Alcariense (Futebol Inatel) – 2006/08;
- GDC Sete (Futebol – Distrital) – 2008/10;
- Casa do Benfica de Castro Verde (Futebol 7 Feminino – Treinador);
- Junta de Freguesia de Almodôvar (Futsal Feminino – Treinador) – 2011;
- Curso de Formação de Árbitro Estagiário de Voleibol – 2011.
4) Olhando para a sua própria
experiência, quais são as grandes competências ou características que
deve ter para poder exercer a função de treinador?
Acima de tudo, o treinador deve ser
portador de brio e paixão pelo jogo em si. O acompanhamento da evolução
do próprio jogo nunca deve ser descurado. Não podemos estar fechados no
nosso próprio mundo.
O treinador de uma equipa feminina tem
de saber adaptar-se. As circunstâncias não são as mesmas e o modo de
interagir com as atletas é realmente diferente do sector masculino.
Enquanto atleta passei por vários
clubes, desde a 1ª divisão de Futsal à vertente Inatel e menos
profissional do Futebol, que me fizeram experienciar diferentes
realidades e exigências. Participei durante bastantes anos na
organização de competições
a nível do Desporto Escolar e da Marinha. Cada momento serviu para me
moldar, para interiorizar aprendizagens que procurarei transmitir às
jogadoras da CBCV.
Em todo o caso, a CBCV é dotada de uma
equipa técnica que funciona como um só, complementando-nos em alguns
pontos, onde a experiência tenha algumas lacunas.
5) Que tipo de princípios/ideias são fundamentais para si enquanto treinador?
Enquanto treinador da CBCV, sei que toda
a equipa técnica ambiciona que as atletas incorporem um espírito de
Dedicação, Ambição, Desportivismo, Amizade e Crescer no Saber.
O comprometimento com a equipa tem de
ser total! Têm de saber que os objectivos são comuns a todas, e não se
pode tolerar individualismos em detrimento do colectivo.
Pretendo em todos os momentos ser fiel
aos meus princípios de jogo mas também humanos. Se no final do dia for
para casa e fizer uma retrospectiva do que sucedeu num determinado
treino ou jogo, sei que estarei de consciência tranquila em relação a
tudo o que procurei transmitir às minhas atletas, esteja ou não
satisfeito com os resultados. Não estando satisfeito, só terei de
procurar inverter tal situação com o apoio da restante equipa técnica e
direcção, procurando novos caminhos, novas soluções.
6) Enquanto treinador, o que é para si ter sucesso?
Ter sucesso é saber que nos esforçámos
ao máximo para transmitir os ensinamentos tidos por necessário para que
as atletas singrem no futebol. Na minha opinião, ter sucesso é, no
final, saber que vamos para casa conscientes de que o empenho foi total,
aprendendo e corrigindo erros cometidos. O Saber advém da Experiência.
Ter sucesso é formar jogadoras mas acima de tudo mulheres, porque a CBCV
orgulha-se de ter 60% de atletas com idade igual ou inferior a 18 anos,
que procuram formação desportiva, mas que esta nunca camufle a sua
própria formação pessoal. Ter sucesso é orgulhar-me de todas as
jogadoras que dirigimos. A média de idades da equipa cifra-se nos 19
anos. Saber que cresceram e moldaram também um pouco a sua personalidade
connosco é o factor que aponto como maior objectivo pessoal.
7) Quais são os objectivos a médio, longo prazo da sua equipa?
A CBCV, sua equipa técnica e direcção
está fortemente empenhada em dar seguimento à grande época transacta,
cuja ascensão considero meteórica. Ambicionamos vencer, sempre! Vamos
lutar pela conquista do Campeonato e da Taça. É isso que nos move! Mas
também ambicionamos proporcionar espectáculo e entretenimento, chamando
cada vez mais adeptos aos estádios por onde passamos.
Numa outra vertente, não menos
importante, a CBCV empenhou-se na formação de atletas com idade inferior
a 14 anos, procurando superar a lacuna da formação futebolística que
infelizmente ainda está bem presente no sector feminino. Vamos abraçar
junto da equipa um conjunto de jogadoras na casa dos 10/11 anos, que
serão devidamente acompanhadas pelo restante plantel, direcção e equipa
técnica, integrando-as, a seu tempo, na fase de construção de jogo,
junto do restante plantel, motivando-as e retirando das aprendizes o
melhor do seu desenvolvimento.
Temos ainda uma estreita relação com a
ART (Associação de Respostas Terapêuticas), sita em Castro Verde,
ajudando deste modo à integração social de 4 raparigas. São jogadoras
que procuram no desporto a sua tão desejada integração mas também
particularmente o carinho das novas amizades, adquirindo uma nova vida
nesta terra que, tal como os seus costumes, também lhes é praticamente
desconhecida. Estas atletas provêm de meios familiares que, por um ou
outro motivo, se tornaram disfuncionais, pelo que aqui abraçam uma nova
família, e a Casa do Benfica de Castro Verde orgulha-se de as acolher
pelo segundo ano consecutivo.
Quais são as suas expectativas para o campeonato?
Ambicionamos vencer jogo a jogo,
conscientes das dificuldades inerentes a cada situação, pelo que vai ser
necessário motivar todo um plantel para se suplantar e lutar por cada
vitória.
Acredito que as demais equipas se
reforçaram mas, acima de tudo, têm a possibilidade de aproveitar nesta
época toda a aprendizagem e experiência adquirida durante o ano
transacto.
Noutra vertente, seria importante
conseguir cativar mais e melhor público para acompanhar os jogos,
criando um movimento em torno da equipa da CBCV, mas também junto dos
restantes clubes.
Acredito que, cada vez mais, o futebol feminino passa a ser encarado de um modo sério, desmistificando o desporto em geral.
Saúdo o aumento do número de clubes em
competição, embora não no número desejável e que até foi quase
viabilizado, mas que por problemas seguramente financeiros mas também de
meios humanos, acabou por não passar de um projecto.
9) Que condições lhe são dadas
para exercer as suas funções de treinador? Ou seja, sente que possui as
condições humanas, financeiras e materiais para exercer a sua função?
Julgo que as condições são criadas por todos nós (intervenientes no jogo).
Tratando-se de um desporto amador,
existem condicionantes ao seu normal desenvolvimento, seja devido à
situação profissional / estudantil das atletas como dos seus treinadores
e dirigentes, seja devido à situação financeira dos clubes, que
dependem maioritariamente de subsídios de apoio ao desporto e, em boa
parte, do contributo de particulares que, felizmente, vão constituindo,
no nosso caso, a Casa do Benfica de Castro Verde.
A situação financeira vai, obviamente,
repercutir-se materialmente junto do grupo de trabalho, seja nos mais
ínfimos objectos auxiliares de treino, até ao modo de deslocamento das
jogadoras que, como referi, em grande parte não possuem automóvel para
se deslocar para os treinos e jogos, em razão da sua menor idade,
juntando a tudo isto os custos inerentes à alimentação das atletas.
10) Até que ponto sente apoio da direcção/administração ao seu trabalho?
E Pluribus Unum!!! O Grupo de
trabalho funciona como um todo. Divididos todos nós cairíamos. “De
todos, Um” objectivo em comum. Não faria sentido de outro modo. A
direcção empenha-se diariamente junto da equipa, até porque não tratamos
apenas o campo desportivo mas também a vertente social de cada
jogadora.
11) E quais são os grandes problemas e obstáculos que encontra no exercício das suas funções?
O maior obstáculo é a ocupação pessoal
de cada interveniente, seja na sua profissão ou no seu meio escolar. O
pouco tempo livre que resta a uma jogadora estudante é repartido e
utilizado em prol da equipa. Claro que a parte pessoal e familiar é
directamente afectada. Outras jogadoras, bem como eu próprio,
trabalhamos por turnos, o que implica não poder comparecer em todos os
treinos e até jogos do campeonato, sabendo que em muitos casos
prescindimos também do descanso para poder treinar, ainda que horas após
estejamos a trabalhar toda a noite.
Continuamos também a precisar de
desmistificar o papel da mulher no desporto, em particular no futebol.
Existe ainda uma boa parte da sociedade que não revê na mulher a
capacidade física, técnica e táctica necessária à prática do futebol, o
que é completamente erróneo, e que julgo que a equipa da CBCV vai
conseguir ultrapassar completamente durante esta época.
Noutra vertente, um dos maiores
problemas com que continuamos a deparar-nos é a incapacidade de explorar
convenientemente a equipa, nomeadamente por não termos o número
desejável de treinos semanais, devido ao aproveitamento dos espaços do
estádio municipal. Existem muitos escalões de formação a ocupar o mesmo
recinto de jogo/treino, o que inviabiliza melhor aproveitamento e
exploração da capacidade das jogadoras. Os treinos têm de ser um pouco
mais resumidos, o que por outro lado implementa a obrigatoriedade de
maior concentração em tudo o que é proposto e exigido durante o treino.
No seguimento desta problemática,
durante a época transacta, fomos obrigados a jogar sempre a partir das
17h00 nos jogos caseiros (inclusive jogámos um jogo no Estádio de
Ourique, sendo os anfitriões…), o que implicava jogar praticamente a
partida inteira de noite (durante a fase de inverno), com a agravante da
iluminação do campo sintético não ser de todo a desejável. No fundo, a
equipa feminina foi sempre segregada e colocada para segundo plano,
cabendo aos escalões de formação masculinos jogar durante o período
diurno.
Julgo que seria um problema de fácil
resolução, não implicando custos, nomeadamente com a rotatividade do
espaço, para uma justa repartição ao longo da época, ou até a marcação
de jogos durante o período da manhã, o que levaria, por exemplo, a que
uma equipa que viaja bastantes quilómetros não tivesse de regressar a
casa pela noite dentro.
Muito obrigado pela oportunidade de expor um pouco da Alma da CBCV.
O futebol feminino precisa de chegar a
todos os que gostam de desporto, futebol em particular. O Portal Futebol
Feminino em Portugal está de parabéns
Entrevista conduzida por Ana Silva para o Portal de Futebol Feminino
Fonte: http://futebolfemininoportugal.com/
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