sexta-feira, 4 de janeiro de 2013
Mussa Djau: um diamante a lapidar nas oficinas do Beja Atlético Clube: Ele nasceu para triunfar...
Chegou a Portugal há cerca de quatro anos, vindo da longínqua Guiné Bissau. Deixou para trás o amor materno na ilusão de que o progenitor lhe abrisse as portas de um mundo novo.
Texto e foto Firmino Paixão
Uma aventura bem-sucedida? Só o futuro o dirá! Mas no princípio nem tudo foram rosas para este jovem imigrante, que em janeiro de 2009 desembarcou em Portugal, então com 13 anos, depois de navegar muitas milhas de ondas revoltas do Atlântico, para vir ao encontro da paz e do amor que o progenitor lhe negou. Os tempestuosos, longos e penosos dias que se seguiram levaram a que o Tribunal de Menores sancionasse a sua entrega à proteção da Casa Pia de Beja, garantindo-lhe a segurança, quiçá o carinho e afeição, que o pai não foi capaz de lhe dar, e aqui nasceu um tempo novo para este miúdo, hoje com 17 anos, aluno do 6.º ano de escolaridade na EB 2,3 de Santa Maria, na cidade de Beja.
Mussa Djau é de poucas palavras. Esguio como uma gazela, tem o olhar sereno e ondulado por vagas de tristeza, mas uma forte convicção de que a capacidade atlética que possui, e as qualidades humanas que Deus lhe confiou, serão boas âncoras para a sua felicidade futura. O sucesso de um corta-mato escolar empurrou -o para o atletismo, conta Mussa: “Um amigo que estuda na minha escola sugeriu-me que fosse praticar atletismo, disse-me que seria bom para mim praticar desporto, mas como eu não sabia como o devia fazer deu-me o contacto do Carlos André, o seu treinador no Beja Atlético Clube (BAC). Assim foi, telefonei, marcámos um encontro, comecei a treinar e ganhei logo a primeira prova onde fui, o corta-mato de Alvito, e até agora tem corrido tudo bem”.
O dia a dia deste jovem tem como vértices a Casa Pia, a Escola de Santa Maria e a pista Fernando Mamede. Por isso, confessa: “Atualmente sou um jovem feliz, estou a fazer aquilo de que gosto. Estou a estudar e o atletismo trouxe-me também muitas alegrias, mas estou a praticar, apenas, há dois anos, ainda tenho de trabalhar muito para conseguir ser um bom atleta”. O esforço do desportista é reconhecido na Casa Pia: “Está tudo a correr bem, as pessoas sabem que eu pratico atletismo, incentivam-me muito a progredir e a aproveitar uma oportunidade que possa garantir ou melhorar o meu futuro”.
A outra família está no clube, assinala o jovem: “No Beja Atlético Clube tratam-me muito bem, sou como um filho, acarinham-me, toda a gente gosta de mim, só sairei um dia em que surja uma boa oportunidade, para um clube como o Benfica ou o Sporting, não tenho preferência por nenhum deles, são dois grandes clubes, mas sei que tenho de trabalhar muito para que isso possa acontecer. Terei que continuar a treinar bem para ser um bom atleta de um grande clube, para conseguir uma boa oportunidade na minha vida que me permita ser profissional”.
A ilusão deste jovem é oceânica, tão larga como os mares que navegou até vestir a camisola vermelha do BAC e ganhar os inúmeros títulos que já lhe pertencem, mas a ambição não tem limites: “Os Jogos Olímpicos são o meu grande sonho, acho que serão o sonho de qualquer atleta, mas até lá chegar, se é que um dia o conseguirei atingir, tenho muito que trabalhar”.
Mussa Djau teve uma infância humilde e como qualquer jovem africano do seu tempo, não conviveu com as guerras ou conflitos sociais no seu país: “Vim para Portugal em janeiro de 2009, com 13 anos, o meu pai estava cá e eu vim ter com ele”. E depois Mussa? “Não quero contar muito disso, mas houve problemas entre mim e o meu pai, estivemos a viver juntos um ano e tal, as coisas não correram bem e, entretanto, mandaram-me aqui para a Casa Pia, não tive mais contacto com ele”. E a mãe, esse amor negro que ficou para lá do Atlântico, lavando a saudade com as lágrimas do tempo? “A minha mãe ficou na Guiné, eu já tive o contacto dela, agora está perdido, mas tenho amigos em Portugal que talvez me possam ajudar a recuperá-lo, para um dia tentar contactá-la”.
O jovem atleta do Beja Atlético Clube tem um invulgar potencial para a modalidade, mérito que refresca com as “muitas saudades da minha mãe e dos outros familiares”: “Tenho boas recordações da minha infância, dos meus amigos e familiares, quem sabe se um dia poderei voltar à Guiné para os visitar, mas regressarei para Portugal, porque aqui está a correr tudo bem”. O atletismo é para Mussa Djau um paliativo essencial ao seu bem-estar: “Um bom contributo para me sentir bem; estou longe da família, mas isso ainda me motiva mais para a minha valorização”. E quando ultrapassa a meta de cada corrida pensa na família e sente “um enorme impulso para trabalhar e superar as dificuldades por que tenho passado”. Mussa corre que se farta, foge do passado, sprinta para o futuro. E vai conseguir. Ele nasceu para triunfar.
Mussa Djau
(Beja Atlético Clube)
Época 2010/2011
Campeão distrital de corta-mato por escalões
Campeão distrital de estrada
Campeão distrital 2000 m obstáculos
Campeão distrital 3000 m
Época 2011/2012
Campeão distrital de montanha por escalões
Campeão distrital de estrada
Campeão distrital juniores 1500 m
Campeão distrital juvenis 800 m
Campeão distrital de absolutos 1500 m
Época 2012/2013
Campeão distrital de montanha por escalões
Corta-mato de abertura/Crosse dos Cavaleiros
Encontro Algarve/Beja/Andaluzia (1.º juvenil)
Grande Prémio de Santa Bárbara (1.º juvenil)
Fonte: http://da.ambaal.pt/
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