Torneio Lopes da Silva
Afonso Sousa, número 7 da AF Porto, é filho de Ricardo Sousa e neto do António Sousa que brilhou na Seleção Nacional e no FC Porto, na década de oitenta. Diogo Carvalha, central da AF Setúbal, é filho ex-jogador do Sporting Litos. E Rodrigo, extremo da AF Aveiro, é filho do internacional português Sérgio Conceição.
“Não sei se herdei o jeito do meu pai ou do meu avô, mas sei que quero chegar ao nível deles. E ninguém anda comigo ao colo por ter o nome Sousa”, afirma Afonso, de olhos bem abertos, para acentuar o tom dramático com que fala: “Estive nas escolinhas do FC Porto, fui dispensado e só não desisti porque a minha mãe me motivou todos os dias. Voltei agora ao clube porque dei o litro”.
Para o jovem Afonso, “não há milagres nem genes que influenciem no futebol”: Para sobressair, “é preciso trabalhar muito e ser humilde”. É o que lhe diz o avô e o seu sonho é ser como ele, “campeão da Europa” e “vencedor de várias Taças”. Também admira o pai e quer “ter os pés do Deco”, mas por enquanto quer mostrar-se no Torneio Lopes da Silva:
“Estão aqui os Treinadores das Seleções Nacionais e não vou mentir: o meu objetivo é ser chamado à Seleção Sub-15 no final do ano. Se fico nervoso por saber que estou a ser observado? Não”.
[Afonso Sousa (à direita) disputa uma jogada com a camisola da AF Porto]
Diogo Carvalha é o mais reservado deste trio de jovens. Também é o melhor aluno dos três. E, após uma longa conversa com o fpf.pt, confessa que se sente “pressionado” quando as pessoas o confrontam com os feitos do pai. “Porque dizem sempre a mesma coisa: ‘ai, o teu pai era um prodígio na tua idade; ai, era ele e o Futre. Ai, ele era único. Ai, vais ter muito que andar’”.
Para evitar comparações, escolheu cedo o que queria fazer em campo: “defender, cortar, recuperar”. Joga no eixo da defesa na seleção da AF Setúbal, mas é trinco no clube Leão Altivo. Passar para os leões de Alvalade seria “um sonho, nunca uma obsessão”. “Gosto tanto do futebol como dos livros. A minha mãe é diretora da minha escola [E.B. Carlos Cagaré] e cedo me fez ver que a formação é muito importante na vida. Tive oito cincos este ano e quero tirar um curso superior, seja ou não futebolista”.
Para Rodrigo, extremo da seleção da AF Aveiro e filho de Sérgio Conceição, o futebol sempre foi encarado “como uma diversão”, até porque jogou em vários clubes, consequência da carreira internacional do pai, primeiro como jogador e depois como treinador. “Ele nunca me exigiu que fosse jogador, eu é que quero. Agora estou no Anadia, amanhã posso ir para o Minho. Logo se verá”.
Para Rodrigo, falar em genes de craque faz sentido quando vê jogar o irmão mais novo: “Somos quatro irmãos a jogar e o mais novo, o Francisco, de 11 anos, é raçudo e tem as arrancadas explosivas do meu pai. Já está no Sporting”. “Para a maioria dos jogadores, as coisas não saem com tanta naturalidade. O Francisco tem um dom, é como tocar piano”, reforça.
Rodrigo “gostava de ser profissional um dia”, embora não se defina como um fora de série em campo. “Sou um jogador que trabalha muito, com um bom passe e que quer evoluir. Tirando casos como o meu irmão, acho que o talento aprende-se com a prática. Se calhar muitos jogadores das seleções não eram jogadores de topo aos 13 -14 anos, mas sabiam que tinham qualidade e trabalharam incansavelmente até chegar a um nível alto”.
[Rodrigo Conceição a dar toques numa pausa do Torneio Lopes da Silva]
Pais disputaram torneio
Sérgio Conceição representou a AF Coimbra no Torneio Lopes da Silva e diz que a experiência lhe mudou a vida. “Foi uma semana fantástica. Recordo que perdemos na meia-final com Castelo Branco. Pessoalmente, o torneio foi um trampolim para a Seleção Sub-15. O Carlos Queiroz viu-me, gostou e chamou-me pela primeira vez às seleções”.
Ainda assim, o internacional português fez questão de passar uma mensagem de sentido único ao filho Rodrigo: “Disse-lhe para desfrutar do convívio e dos valores principais do jogo, como o fair-play, o desportivismo e o espírito de equipa. É uma experiência enriquecedora nesse sentido”.
Litos venceu o torneio inter-associações com a camisola da AF Aveiro, mas não cobra um triunfo igual ao filho: “Só quero que o Diogo se sinta bem e seja feliz”. Já Ricardo Sousa faz votos para que o talento do jovem Afonso “seja reconhecido”. “Não sei o futuro e sempre lhe disse para levar o futebol com leveza, mas ele realmente tem potencial para ir muito longe e é um bom menino”, frisa.
“Talento adquirido com trabalho”
O Diretor Técnico Nacional da FPF duvida que o talento dos pais futebolistas passe diretamente para os filhos. Para Silveira Ramos, os genes podem apontar tendências, mas agem em interação com o ambiente e a própria motivação dos jogadores, não lhes impondo destinos rigorosos.
“As influências genéticas existem, mas não são diretas nem inevitáveis. Não há estudos que demonstrem nenhuma evidência científica ou empírica de que um desportista de elite passe esse talento para os seus descendentes”, refere.
Silveira Ramos reconhece que “nas várias áreas humanas, há algumas exceções de pessoas que conseguem fazer carreiras relevantes quando comparadas com os progenitores talentosos”, mas frisa que a diferença “está, sobretudo, na motivação e no facto de haver vários fatores potenciadores de excelência à sua volta”.
“Depois é muito trabalho feito em cima das competências de cada um e a capacidade de encontrar os caminhos de cada um. O talento é, por isso, adquirido com trabalho e não herdado geneticamente”.
FOTOS: FPF/DIOGO PINTO
Fonte: FpF.PT
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