sexta-feira, 27 de março de 2015

Que orgulho, mister...


 
27-03-2015 9:31:55
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A Winning League/Figo Football Academy foi inaugurada em Pequim há cerca de um ano e está implantada em 10 cidades chinesas, ensinando o futebol a mais de um milhar de alunos, entre os quatro e os 13 anos.

Texto e foto Firmino Paixão



António Franco, 34 anos, ex-treinador da equipa de infantis do Despertar Sporting Clube de Beja, chegou há poucos dias à China para integrar os quadros técnicos desta academia. Ainda não se expressa em mandarim, talvez nem seja preciso, porque a universalidade do futebol nem a isso obriga, mas na bagagem levou o orgulho pela concretização de um sonho e uma desmedida ambição em triunfar. A saudade, esse sentimento tão tipicamente português, já é seguramente muita. Vamos conhecer um pouco deste desafio abraçado pelo treinador alentejano.


Concordará que aceitou um projeto algo arrojado?Acima de tudo é uma mudança radical. Habituado a viver em Beja, na minha cidade de adoção e com os nossos costumes, será uma mudança enorme porque a cultura e os hábitos na China são muito diferentes. O futebol chinês tem uma expressão muito diminuta e a nossa finalidade é desenvolver a modalidade em várias cidades chinesas, através da Winning League Figo Football Academy.


Portanto, há mais treinadores portugueses envolvidos nesse projeto?A academia tem na China cerca de duas dezenas de treinadores, primeiro seguiu um grupo de 14, depois um segundo grupo de oito, mas do Alentejo sou o único representante.


É uma aventura ou um desafio irrecusável? Como é que qualifica este projeto em que se envolveu?É um desafio muito grande! É aquilo que eu sempre ambicionei e o que mais gosto de fazer. Sou professor de Edução Física, gosto muito de dar aulas, mas o futebol sempre foi a minha paixão desde que fui praticante.


Como surgiu esta oportunidade?Os contactos surgiram através do Sport Lisboa e Benfica, clube onde eu realizei o trabalho de fim de curso da minha licenciatura. Ficaram com referências minhas, positivas, julgo eu, e o meu nome foi indicado para este projeto. Houve um processo de seleção bem-sucedido, com entrevistas e avaliação curricular e depois o acordo.


Oportunidade para dar continuidade a esse seu conhecido compromisso com a formação de jovens futebolistas…Naturalmente. A academia é vocacionada para miúdos entre os quatro anos e os 13 anos e é um projeto arrojado porque, como referi, o futebol chinês tem pouca expressão e temos de começar praticamente da base.


Financeiramente atrativo ou nem por isso?Tinha que ser algo atrativo financeiramente, porque é uma mudança de vida bastante radical e, não sendo um daqueles contratos milionários de que às vezes se ouve falar no futebol, sempre é uma proposta atrativa. O contrato tem a duração de um ano, com a possibilidade de sucessivas renovações.


Existem barreiras como a cultura, a gastronomia, a cultura, a distância e um sentimento muito português, que é a saudade?Sim, essa será seguramente a maior contrariedade, para além das dificuldades em superar todas as outras coisas, mas a saudade será enorme. São muitas horas de viagem, é uma diferença enorme, os hábitos e a cultura são diferentes, a gastronomia também, mas a vida é mesmo assim, temos que fazer sacrifícios para concretizar os nossos sonhos e fazermos o que gostamos.


É mais um jovem licenciado que emigra. Mais um treinador português lá fora…Se olharmos por esta perspetiva, nós quase que somos obrigados a ir para o estrangeiro, porque aqui as oportunidades são quase inexistentes. Sou professor, dou aulas há cerca de 10 anos e as perspetivas de as coisas melhorarem são quase impossíveis. Cada ano que passa temos menos horas de ensino, menos oportunidades de trabalho e este desafio, surgindo num contexto de acrescidas dificuldades, foi naturalmente bem acolhido, mas teve que ser muito bem ponderado e pensando no futuro.


A equipa de infantis do Despertar ficou sem o seu treinador…Pois. Foi uma mágoa muito grande, havia um trabalho com alguma continuidade, uma ligação forte com os miúdos e com as famílias, mas as coisas são assim, tivemos que fazer a despedida, foi triste, foi marcante, mas a equipa ficou bem entregue e continuará no bom caminho. Certamente que serão campeões. A despedida foi emotiva embora tivéssemos preparado esse momento de forma a não ser uma coisa muito abrupta.


Quando voltar a Portugal nada será igual ao que era antes, ganhou mais conhecimento, mais ambição e legitimidade para redimensionar o sonho?Esta experiência será marcante, tenho essa noção. Vai enriquecer-me em termos humanos e profissionais, vou crescer, vou evoluir e estarei melhor preparado para os desafios futuros. O meu grande sonho foi sempre profissionalizar-me no futebol, esta etapa pode ser um princípio, mas espero não ficar por aqui, quero, realmente, tornar esse sonho numa grande realidade.

Fonte: http://da.ambaal.pt/

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