sexta-feira, 9 de outubro de 2015

O melhor do mundo


Miguel Ângelo Romão nasceu há 26 anos em Faro e vive na cidade de Beja desde 2013. É monitor de desporto na União de Freguesias de Salvador e Santa Maria (Ufssm), colaborando, com o seu conhecimento e experiência de vida, na inclusão de jovens em risco.

Texto e foto Firmino Paixão

Mas o algarvio Miguel Romão, que já adotou a cidade de Beja como sua, foi também o guarda-redes da equipa que conquistou o terceiro lugar no Campeonato do Mundo de Futebol de Rua no passado mês de setembro, em Amesterdão, Holanda, onde foi eleito o melhor guarda-redes da prova. Numa conversa com o “Diário do Alentejo”, com palavras articuladas na proporção do orgulho e da confiança que respira, lembrou: “Tive um crescimento com as dificuldades normais de um jovem, mas houve um momento na adolescência que me marcou, foi o divórcio dos meus pais, acabou por me mudar e desvie-me para caminhos que não eram os mais corretos. Felizmente mudei esse rumo, tornei-me no homem que sou hoje e estou bastante orgulhoso”. Uma viragem que já teve Beja como cenário de uma nova vida e o projeto Inclusão pela Arte (promovido pelo Centro Social Cultural e Recreativo do Bairro da Esperança em Beja) como ferramenta que lhe fraqueou o acesso e este porto de abrigo: “Reconheço que as pessoas que encontrei em Beja foram realmente o meu porto de abrigo. A minha mudança foi positiva, alterou completamente a minha vida, acabei por encontrar a minha companheira e formar família, conheci pessoas fantásticas e fiz grandes conquistas a nível desportivo, também a nível profissional e por tudo isto estou bastante feliz”. Porém, jamais esquecerá o passado e por isso hoje trabalha com crianças que sentem as mesmas dificuldades que sentiu e com quem faz as suas brincadeiras no futebol de rua: “Quero dar-lhes algo que, por vezes, me faltou na minha vida, que foi um melhor apoio”.
Enquanto guarda-redes da seleção que representa o distrito de Beja, através do projeto Inclusão pela Arte, também já conquistou dois títulos nacionais, boas razões para dizer: “Em boa hora vim para Beja, porque no Algarve nunca teria esta oportunidade, não tinha conhecimento, nem noção da escala em que estava o futebol de rua”. E não esquece o agradecimento ao treinador bejense Francisco Seita: “Ajudou muito tê-lo por perto, estou- -lhe grato, antes era uma boa pessoa que eu conhecia, hoje considero-o um bom amigo”. Tão pouco ignora toda a visibilidade que deve ao projeto Inclusão pela Arte: “Também estou muito reconhecido a este projeto e desejo o melhor sucesso a todas as pessoas que o lideram e integram, e espero ainda ser tricampeão pela equipa do Inclusão pela Arte”. Mas isso são projeções para o futuro, o conhecimento presente é que o guardião da seleção portuguesa foi o melhor do mundial, embora confesse, humildemente: “Nunca se é o melhor do mundo se os nossos colegas também não forem os melhores do mundo e, para mim, os meus colegas de equipa, os treinadores e todas as pessoas que nos apoiaram também foram os melhores do mundo”. E continuou: “Esta distinção orgulha-me, mas é um peso, uma responsabilidade, mas também será o reconhecimento de um trabalho que foi feito com muita dedicação, muito esforço, muitas lágrimas e muitas saudades. Acabo por sentir um misto de emoções cada vez que olho para aquele troféu e penso em tudo por que passei para o conquistar”.
Valeu a pena. Vale sempre… Miguel Romão é hoje um homem “mais solidário, melhor atleta, melhor líder”: “Estou melhor em tudo. Posso ser melhor pai, melhor marido, melhor amigo, vim melhor em tudo e estou seguro disso”.
O atleta sabia que depois desta experiência na seleção nacional, patrocinada pela Associação Cais, nada seria como antes: “Sabia que só o facto de conhecer novas pessoas iria mudar tudo e, realmente, acabei por trazer como amigos todas as pessoas que nos acompanharam naqueles momentos, que até nem sempre foram bons, apesar da nossa prestação”. E assume: “Também houve momentos de angústia e de tristeza e aí também fomos fortes e acabámos por nos conquistar uns aos outros como pessoas e amigos que seremos para o resto das nossas vidas”.
Ao nível local, Miguel Romão, que representava os Ouriços Futsal (GD Alcoforado), passou a representar o Despertar Sporting Clube e garante: “É sempre para vencer, todos estamos com mentalidade de vencedores”. Mas este seu exemplo bem-sucedido de inclusão através do desporto, já mereceu o louvor da Assembleia de Freguesia da Ufssm e da Assembleia Municipal de Beja, distinção que o deixou “muito orgulhoso”. “Quero deixar uma palavra aos colegas de equipa Inclusão pela Arte que também foram bicampeões nacionais e alguns deles também já representaram a seleção nacional. Eles são também o nosso orgulho e uma forte motivação para continuarmos o nosso trabalho”, concluiu.

Fonte:  http://da.ambaal.pt/

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