sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

O judo para todos


A regra é que os bombeiros apaguem fogos e socorram vítimas. As exceções, que são muitas neste país, são que as associações que os enquadram podem ter uma intervenção social na comunidade envolvente.

Texto e foto Firmino Paixão


A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Beja é uma entidade que, ao longo dos seus quase 127 anos de existência, tem dado bons exemplos na dinâmica do associativismo desportivo e cultural, através do incremento do futebol, do atletismo, das artes marciais e na promoção da cultura musical, pela via da filarmónica ou do cante alentejano, quase sempre ancorada a questões sociais. Os ciclos têm-se sucedido com maior ou menor temporalidade, mas a história, invariavelmente, repete-se.
O judo voltou aos Bombeiros de Beja, mais de duas décadas depois de ali ter feito escola, pela mão do mestre Francisco Carvoeiras. Há quatro meses atrás a modalidade voltou a florescer e a ganhar nova identidade sob a sigla dos “soldados da paz”.
João Trincalhetas, judoca graduado no 2.º Dan e Treinador de 1.º Grau, é o novo dinamizador da secção de judo e o próprio assumiu: “Iniciámos este projeto em outubro de 2015 e, desde então, temos tido um sucesso muito relevante”. E explicou: “Assumimos que o projeto seria ‘Judo para todos’ e, por essa via, fomos contactar a Casa Pia, o Centro de Acolhimento ‘A Buganvília’, também a Fundação Manuel Geraldo de Sousa e castro, e têm vindo atletas dessas entidades, portanto, a secção está a assumir todos os encargos com esses jovens, pois, em nossa opinião, era uma lacuna o desporto, nomeadamente este tipo de atividade, não ir à procura desses miúdos. E então, por essa via, temos aumentado o número de praticantes”.
O desporto, neste caso o judo, tem uma relevante intervenção social na comunidade, concordou o técnico. “Essa é uma das principais vertentes do nosso projeto, temos miúdos de todo o lado, mas falámos com os diretores técnicos destas instituições, para explicarmos o que pretendíamos, sublinhando que o judo revela, muitas vezes, comportamentos dentro do tapete que podem ser extrapolados para fora, e como os miúdos precisam de outras aprendizagens o judo é muito importante nessa questão”, sublinhou Trincalhetas.
A Secção de Judo dos Bombeiros está, atualmente, com cerca de 60 atletas, número que o técnico considerou “absolutamente notável, numa cidade como Beja. E enumerou: “Temos praticantes desde os quatro aos 60 anos de idade, vários escalões, mas o grande objetivo é a formação, na faixa entre os quatro e os 22 anos, porque o judo é considerado pelo Comité Olímpico Internacional o melhor desporto praticado pelos jovens, por isso, queremos demonstrar à cidade de Beja que este é um desporto alternativo a outros que estão muito mais massificados”.
De resto, é uma atividade que regressou a uma casa conhecida e onde dispõe de uma boa logística, reconheceu João Trincalhetas. “Não há grandes alternativas na cidade de Beja com infraestruturas para se montar um tapete de judo, demonstrámos o nosso interesse junto da direção dos bombeiros de Beja, que mostrou toda a disponibilidade e nós estamos muito reconhecidos por isso”. Reforçando o quadro de clubes filiados na Associação de Judo de Beja, e sem qualquer tipo de cisão ou concorrência com o Judo Clube de Beja, referiu: “Absolutamente nenhuma. É o clube mais antigo do País e temos uma coexistência muito pacífica”. A Secção de Judo dos Bombeiros de Beja pretende, isso sim, reforçar a representatividade da associação regional junto da respetiva federação, com o intuito de “ter mais poder para reivindicar algumas necessidades”, sublinhou Trincalhetas.
Com um plano de atividades que consideram “arrojado”, pretendem levar os seus jovens praticantes às competições nacionais. “O judo é um desporto muito representativo em Portugal, temos atletas com classe mundial e achamos que Beja pode tentar elevar o nível dos seus atletas, é o nosso sonho e, por essa via, queremos que os miúdos vão a competições para se sentirem bem e começarem a ganhar. Eu, como treinador, quero formar campeões”, confessou. Por isso, “se tal vier a acontecer, provavelmente o judo, na sua globalidade, passará a ser visto de outra forma, porque achamos que tudo o que tem bola é massificado, e até é normal, mas se tivermos resultados no judo, provavelmente, ganharemos capacidade reivindicativa. Queremos medalhar atletas, é o sonho deles, é o nosso sonho e todos nós temos essa legitimidade, e se conseguirmos resultados muito fortes para a cidade de Beja, estaremos a projetá-la para outros níveis desportivos”, concluiu.

Fonte:  http://da.ambaal.pt/

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