Visto de fora José Saúde
Luís Covas Lima Bancário
Tive o privilégio de estar no dia 21 de outubro na Casa do Alentejo. O
motivo prendeu-se com o lançamento de mais um livro publicado pelo meu
amigo José Saúde, AVC – Recuperação do Guerreiro da Liberdade. Homem
bom, desportista, jornalista de vocação e um verdadeiro humanista,
mereceu um programa pleno das nossas raízes e que aproximou, de
sobremaneira, a diáspora ao nosso Alentejo. Estando em Lisboa, senti-me
em casa, em Beja e no Baixo Alentejo. O evento contou ainda com a
evocação ao cante alentejano enquanto Património Imaterial da
Humanidade. Estiveram presentes o grupo musical Os Alentejanos, de
Serpa, e o grupo coral Cantadores do Desassossego, de Beja. Nota alta,
muito alta, para uma tarde inesquecível.
A apresentação do livro foi
valorizada por um painel de luxo. Numa sala memorável, digna de tempos
passados, no que era então o Majestic Club, e repleta de pessoas, a
introdução foi feita pela dra. Rosa Calado, distinta diretora da Casa do
Alentejo e que, em boa hora, tive o prazer de conhecer. Iniciou a sua
preleção com a divulgação da história da Casa do Alentejo, falou dos
eventos organizados pela associação que ostenta um emblema onde figuram
os brasões de Beja, Évora e Portalegre, abordou o esforço, sempre em
crescendo, da recuperação de um património de eleição, com destaque para
os frescos e pinturas, aproveitamento de espaços outrora alugados e que
serão agora destinados à promoção de produtos do Alentejo, artesanato
incluído. De seguida falou da personalidade do homem que sempre
acreditou que o destino depende de uma força interior, no seu caso
específico, inabalável, e que o fez superar os seus próprios limites
numa situação que é explicada na primeira pessoa. Tudo isso é transposto
para o seu livro e por isso deve ser lido e vivido como um exemplo.
A palavra coube depois ao apresentador da obra, o dr. Luís Graça,
professor jubilado da Escola Superior de Saúde de Lisboa. Uma narrativa
invulgar e de uma dimensão proporcional à altura e notoriedade do
acontecimento. De forma sintetizada e objetiva falou da biografia e da
bibliogafia do autor. Camarada de armas que participou na guerra,
mencionou a importância da blogosfera, na qual o blogue “Os Amigos da
Guiné” se transformou, para o José Saúde, num processo de
“blogo-terapia” e que terá também contribuído para a celebração da vida.
Com propriedade, enalteceu a saúde como um meio para sermos livres, os
fenómenos da exclusão, a reaprendizagem, a recuperação, a vitória do
mundo dos silêncios e o antes e o depois. A audiência estava encantada e
a transição do discurso levou-nos até ao momento mais esperado, o do
autor.
José Saúde, de forma emotiva, lembrou o trajeto da doença, os
amigos, recordou uma decisão desumana e que com tanta leviandade lhe
foi comunicada. O emoldurar a carta de condução numa parede. Nunca se
deu por vencido. Falou no silêncio e na solidão. Em determinada altura,
terá apelado à mãe para que o ajudasse. Agradeceu ao desporto, à tropa
especial que teve, ao centro de medicina para a reabilitação, aos
profissionais de saúde e, particularmente, ao seu carro adaptado para
que conseguisse contrariar um desígnio nunca assumido e, entretanto,
complementado e vencido.
Vale a pena viver e mais não digo porque a
obra não tem que ser contada e desvendada neste espaço de opinião, tem
que ser adquirida, lida e relida, aprendida e assimilada enquanto marco
inquestionável de um ser excecional que acreditou e conseguiu.
Não
poderia acabar melhor. Depois de uma sessão de autógrafos e
dedicatórias, o acolhedor lanche na Casa do Alentejo. Uma carne de porco
à alentejana sem igual, enchidos e taleigos com pão da nossa terra.
Cantares do nosso cante à mistura. Foi lindo e preenchido. Obrigado José
Saúde. Até sempre!
Uma nota: um agradecimento especial ao Fernando
Mamede e à Alzira, amigos de uma vida do Zé, pelas suas presenças, e ao
António Fernandes, que acompanhou o José Saúde nesta viagem fantástica e
que fez uma reportagem fotográfica impressionante que tornará
inesquecível este momento. Recordá-lo-ei sempre.
Fonte: Fecbook de Jose saude
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