sexta-feira, 1 de junho de 2018

Bola de trapos, edição no Diário do Alentejo de 1 de junho de 1018

José Saúde
Gémeos Rações
Num desafio a uma austeridade imposta pela razoabilidade da rotineira evolução desportiva, leva a audácia do escriba a caminhar por veredas onde sobressaem antigos deuses da bola que fascinaram um público que literalmente se rendeu à sua arte. Cruzo territórios sul alentejanos, recordo clássicos futebolistas e a minha imperecível sensibilidade conduz-me à novel cidade de Serpa. Naquela comarca deram à luz génios que trataram a esfera saltitante com agilidade. Cito os famosos gémeos Rações que brilharam ao serviço do FC Serpa. O seu talento fez-se sentir no palanque futebolístico regional. Manuel Guerreiro Rações e Francisco Guerreiro Rações nasceram na urbe serpense no dia 24 de janeiro de 1943. Os primeiros passos futebolísticos foram dados em jogos de rua entre grupos de moços que disputavam amistosos desafios. Mais tarde o seu destino foi o clube da terra onde foram protagonistas de uma carreira interessante. Escalpelizando os princípios da década de 1960, século passado, concluímos que os manos Rações iniciaram a sua atividade desportiva oficial em 1961. Antes o FC Serpa, sob o comando diretivo de João Diogo Cano, roçou o céu. Na época de 1956/1957 sagrou-se campeão nacional da III divisão e os cânticos da euforia deixaram um rastilho positivo numa juventude que sonhava representar o deslumbrante emblema. O Manuel evoca a realidade sentida nesses tempos: “Depois daqueles anos do senhor João Diogo, onde o clube conheceu grandes momentos, apareceram muitos jogadores que pretendiam jogar no Serpa. Os treinos eram às sete da manhã e os duches com água fria. Levávamos uma semana inteira a limparmo-nos com a mesma toalha. Um dia, depois do treino matinal, o falecido Zé Miguel não teve tempo de tomar banho porque tinha que entrar na oficina, só que quando se preparava para sair do campo o treinador Di Paola apercebeu-se e toca a mandá-lo para o banho. Ele obedeceu, claro. Hoje, é impensável uma coisa destas. Mas nesse tempo era assim. Havia respeito”. O futebol de antigamente é repleto de crónicas encantadoras. Vejamos esta situação passada em 1968. “Fomos jogar pela seleção de Beja ao Algarve. O jogo realizou-se em Faro e o nosso treinador era o Manuel Trincalhetas. Nessa seleção estava o Manuel Baião, um grande defesa central que nesse tempo jogava no Desportivo. Chegámos no outro dia a Beja às oito horas da manhã e como éramos de Serpa apanhámos a automotora até à ponte do Guadiana, mas o caminho da ponte do Guadiana a Serpa foi feito a pé. Quem é que hoje fazia isto”. As histórias caem em catadupa e o Manuel fecha com esta. “Na época de 1972/1973 já não estava inscrito na AF Beja, mas aconteceu que o Ferreirense veio jogar a Serpa e eu joguei com o cartão do meu irmão. Lembro-me do Juan falar comigo como do meu irmão se tratasse. Não me desmanchei e respondia-lhe à letra”. Histórias admiráveis dos gémeos Rações.
Fonte: Facebbok de Jose  Saude.

Sem comentários:

Enviar um comentário