sábado, 4 de janeiro de 2020

Carlos Estebaínha: Futebolista


“No meu tempo, o futebol era um bocadinho diferente, não havia tantas oportunidades. Eu e outros jogadores com capacidade para podermos chegar um pouco mais longe, por um, ou por outro motivo, não o conseguimos. Mas a vida é mesmo assim, não me arrependo de nada. Dei o meu contributo a muitos clubes deste distrito, portanto, essa foi a minha história. Se calhar, eu ficarei na sua história e os clubes ficam no meu coração”.

Texto e foto Firmino Paixão

Quando um futebolista abre assim, de par em par, as portas do seu coração, para que nele caibam, indiferentemente, todos os emblemas que representou ao longo de uma carreira, invulgarmente, prolongada, garantidamente, que já está na história do futebol.

Carlos Estebaínha nasceu na vila mineira de Aljustrel e virou, há pouco mais de um mês, a página das 52 primaveras. Foi naquela “terra viva” que, aos seis anos, iniciou a sua carreira desportiva, com a camisola do Sport Clube Mineiro Aljustrelense, que o criou e lhe deu asas para, ao longo destes 46 anos de atividade desportiva, afirmar o seu valor como futebolista e o seu caráter enquanto homem.

Percorreu alguns dos clubes mais representativos do futebol bejense (Aljustrelense, Desportivo de Beja, Castrense, Ourique, Odemirense), mas também jogou em escalões secundários (Alvorada e Jungeiros) ou no futebol do Inatel (Vale d’Oca e Alvaladense). É a camisola “à barreirense’, do clube de Alvalade-Sado, que ainda veste aos fins de semana, nos intervalos da sua atividade profissional como técnico analista de laboratório na Somincor – Sociedade Mineira de Neves Corvo SA, entidade onde trabalha há mais de três décadas. Uma opção que o levou a desinvestir na sua carreira desportiva.

Qual será, então, o segredo para tamanha frescura física, que demonstra ainda nos campos de futebol? “O segredo para a minha condição física foi manter-me ativo durante estes anos todos. Nunca parei. Jogo à bola desde os seis anos. Cheguei já aos 52, sempre a correr e a treinar e, felizmente, com saúde, o que me tem permitido dar o meu contributo a vários clubes do distrito e agora, desde há três temporadas, ao Futebol Clube Alvaladense”.

Provavelmente, um dos atletas mais velhos, ainda em atividade, em provas do Inatel. “Não sei. Mas se não for o mais velho, certamente que andarei lá perto. Não é fácil chegar aos 52 anos e ainda continuar a jogar e a merecer ser, semanalmente, uma opção do treinador”.

Pendurar as chuteiras é uma ideia que tem, sistematicamente, adiado. “Recordo-me de estar a caminho dos 40 anos e pensar que, uma vez lá chegado, haveria de parar, mas cheguei aos 50 e continuei. Ainda cá estou. Na época passada fomos campeões, dei um grande contributo a esta equipa e, neste ano, não os quis deixar assim ‘de ânimo leve’, portanto, nesta época continuei com eles e depois, para a próxima época, logo se verá”.

Carlos Estebaínha integrou grandes equipas do distrito, acumulando um inestimável capital de experiência que, hoje, partilha com os atletas mais jovens da sua equipa e não deixa de reconhecer: “Joguei em grandes equipas e em grandes campeonatos, na altura existia a terceira divisão, era uma competição muito forte. Eu, e muitos amigos, que representámos clubes do distrito de Beja conseguimos grandes êxitos. Espero que o nosso distrito continue bem representado e consiga formar bons jogadores, permitindo que o Alentejo seja falado e que continue a ter equipas no Campeonato de Portugal, ou mais além”.

Ao mesmo tempo vaticina: “Espero que a formação continue a dar bons frutos e que os jogadores se mantenham, porque muitos desistem facilmente, por isso, deixo aqui uma palavra aos jovens, para que, querendo chegar longe, é necessário empenharem-se, motivarem-se e trabalharem muito para conseguirem atingir os seus sonhos. Não basta, apenas, nós querermos e pensarmos que as coisas acontecem do nada, temos de ser nós a fazer com que elas aconteçam”.

Nascido em Aljustrel, não admira que o sangue “mineiro” lhe corra nas veias, mas Estebaínha recorda: “O Mineiro é o clube da minha terra, não foi o emblema que representei durante mais tempo, até joguei mais épocas no Castrense, mas devo dizer que, por onde passei, todos ficaram no meu coração. Agora, tendo nascido em Aljustrel, é evidente que o Mineiro é um clube que me merece todo o carinho, é um clube muito representativo, mas também não posso deixar para trás o Castrense, o Desportivo de Beja, que foi praticamente o meu início de carreira. Deixei o Mineiro e fui para Beja, onde consegui grandes êxitos”.

O Bairro Mineiro de Vale d’Oca foi outro projeto que abraçou. “Teve muito simbolismo, estive no campeonato do Inatel com o Vale d’Oca. A nossa grande ideia era tentarmos ganhar um campeonato do Inatel. Foi um projeto muito bonito, havia jogadores da formação do Mineiro, muitos deles campeões nas camadas jovens, e, eu e três ou quatro jogadores mais velhos, unimo-nos a eles e conseguimos fazer uma boa equipa e representar bem Aljustrel e Vale d’Oca”.

Feliz com o seu percurso desportivo, confessa: “Eventualmente, podia ter chegado mais longe mas, por opção minha, desisti cedo. Hoje, as coisas, felizmente, são muito diferentes para os jovens. Hoje em dia os grandes clubes já têm ‘olheiros’ em todos os lados no Alentejo. Assim que um jogador se destaca, eles proporcionam-lhe uma oportunidade, mas eu também tenho uma história muito gratificante. Hoje, por onde passo, tenho sempre pessoas que me cumprimentam. Fico feliz, porque isso pode significar que, além de ter sido bom jogador, se calhar, também representava alguma coisa para essas pessoas e eu gosto sempre de retribuir”.
Fonte:  https://diariodoalentejo.pt

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