Era uma vez…
Existem paradigmas populares que levam o mais dos incautos comum dos
mortais a parafrasear princípios de contos aquando as nossas avós nos
relatavam encantadoras histórias que deixavam a pequenada completamente
pasmada. As explanações, que deslumbravam a irrequieta miudagem,
iniciavam-se assim: Era uma vez…. Pois é, era uma vez um mundo
desportivo onde proliferava uma velha e colateral amizade entre as cores
clubistas que os adeptos, alguns ferrenhos, manifestamente
exteriorizavam. Vivia-se num tempo em que a luta no interior das quatro
linhas ditavam uma imensurável entrega dos jogadores ao duelo e a
assistência aplaudia expansivamente o calor do dérbi. O público era
ordeiro e estimulava, entre si, o padrão da cordialidade. O ópio do
povo, isto é, a envolvência do futebol estabelecia balizas e as
discordâncias não passavam de pequenos arrufos que terminavam com um
abraço de afeição entre amigos. Era o tempo onde o prodígio desportivo
colhia simpatia no seio de gentes que, após mais um dia de uma
infatigável faina, se entregavam aos bélicos prazeres que a vida
amiudadamente lhes proporcionava. Discutia-se, é verdade, mas as razões
das discórdias eram geralmente pacíficas. Atualmente perderam-se esses
inestimáveis valores, sobretudo os éticos. Os clubes autorizaram as
claques organizadas e o antigo “vício do jogo da bola” enveredou por
caminhos impensáveis. As claques são agora uma espécie de “instituições”
que pressupostamente mandam nas gerências das coletividades. A sua
força é de tal ordem que a classe dirigente se vê submissa a uma catrefa
de desordeiros que vivem, alguns deles, à custa da receita alheia.
Assumem-se como patronos do seu grémio, fazem faustosas vidas, pouco ou
nada lhes é pedido, não pagam impostos ao Estado, vagueiam por mundos
esquisitos e no preciso momento eis os rapazes a imporem ordens
instigadoras. Neste contexto, sublinho que era uma vez um outro tempo,
que felizmente conheci, onde tudo resvalava para meras discórdias e os
instantes mais assovelados terminavam com um forte enlaço entre velhos
opositores. Presentemente, todas estas praxes são filmes do canal da
história. Ninguém se sente seguro. Ir a um qualquer estádio é um
tremendo desafio e raros são aqueles que se atrevem em levar a família a
um divertimento futebolístico. Antes tudo era uma alegria. Levava-se o
farnel e confraternizava-se. Ia-se na paz dos anjos e regressava-se com a
pacificação que a viagem de volta por norma aconselhava. Agora
agridem-se atletas, invadem-se espaços tidos como proibitivos, os
desordeiros enfrentam os governantes desportivos e os heróis da desgraça
dão-se ao luxo de tudo intimidarem. Esta não é de facto a minha praia.
Era uma vez… um outro tempo pautado pela honestidade, serenidade,
companheirismo, estima ao próximo e sobretudo pelo respeito por uma
sociedade desportiva que, mesmo oprimida, debitava um literal encanto.Fonte: Facebook de Jose saude
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