Texto e Foto Firmino Paixão
Presentemente, já está a ser equacionado o
regresso às atividades que envolvem a comunidade, nomeadamente
equitação e hipoterapia, diz Francisca Guerreiro, em entrevista ao
"Diário do Alentejo", revelando todas as motivações, mas também as
dificuldades e a forma como foram superadas, numa comunidade com a
especificidade que se conhece, e sem deixar de manifestar também algumas
mágoas.
Como é que a comunidade do Centro de Paralisia Cerebral de Beja (CPCB) tem enfrentado estes tempos de ameaça epidemiológica?
Quanto aos utentes do lar residencial,
resposta que nunca fechou, os utentes mantêm-se em segurança, calmos e
felizes, graças ao enorme esforço despendido por esta direção e alguns
colaboradores. Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance para cumprir
as orientações emanadas das autoridades competentes, reinventando a vida
do lar residencial, para manter os utentes protegidos, em segurança e a
sentirem o menos possível todas as alterações que, obrigatoriamente
foram realizadas. Para alguns colaboradores a situação revelou-se
complicada pois não demonstraram qualquer (ou demonstraram muito pouca)
preocupação com esta problemática.
Se calhar, com o sentimento de estarem a lutar contra algo que desconhecemos e que modificou substancialmente as nossas vidas?
Provámos, mais uma vez, que pelos nossos
utentes fazemos tudo o que for necessário e que seja humanamente
possível realizar. A dedicação foi total, com prejuízo próprio, mas
temos a certeza de que cumprimos o nosso dever. A maior lição a tirar é
que tudo pode mudar a qualquer momento. Só quem está com alma e coração
entregue às suas funções é capaz de arregaçar as mangas e agir.
A especificidade dos utentes, pessoas com limitações cognitivas e de mobilidade exigiram cuidados especiais?
A especificidade dos utentes não se reduz
a limitações cognitivas e mobilidade reduzida, pois os mesmos
apresentam várias outras comorbilidades associadas, o que agrava a sua
condição, tornando-os mais sensíveis e vulneráveis, bem como exigindo
cuidados muito específicos. Tendo em conta o diagnóstico, mais ou menos
grave, dos utentes, estes foram divididos em duas alas, acompanhados de
equipas em exclusividade (em espelho), no sentido de melhor os proteger.
Sentiu que a sociedade local e as
pessoas mais próximas do CPCB interpretaram estas ideias e se
mobilizaram em torno da instituição, ou nem por isso?
Nem por isso. Se, por um lado, tivemos quem nos desse
alguma ajuda, houve igualmente quem se desinteressasse por completo,
chegando mesmo a não cumprir as regras estipuladas e emanadas pelas
autoridades competentes, revelando um total desprezo por quem tem tanta
falta de ajuda. Fizemos pressão junto das entidades com responsabilidade
na área, e na região, e não obtivemos das mesmas qualquer resposta
plausível. Sentimo-nos completamente abandonados, com o peso total de
procura e aplicação das medidas mais corretas, em cima dos ombros,
acrescendo ainda que, apenas, a Autoridade das Condições do Trabalho se
lembrou do CPCB, com exigências completamente despropositadas e em
situação que entendemos sem sentido e completa ignorância da situação de
ameaça que enfrentámos e do problema que estávamos a atravessar.
A Taça de Maratonas BTT, uma das iniciativas com forte visibilidade nos últimos anos, está comprometida?
A realização das provas continua a ser da
responsabilidade dos clubes e das equipas organizadoras e a nossa
presença e participação, à semelhança do que fizemos nas anteriores
edições, neste momento, é completamente inviável. Esta participação era
de extrema importância em termos sociais e aguardada com bastante
expectativa por parte dos utentes. Este era o maior ganho desta Taça de
Maratonas.
O CPCB tem em curso um protocolo
com o Instituto Politécnico de Beja na área da promoção do boccia. Como
está e evoluir o processo?
O boccia, como desporto adaptado, tem
impacto positivo no cumprimento da missão do CPCB, contribuindo para a
prevenção, habilitação e reabilitação de crianças, jovens e adultos com
problemas neuromotores. Neste sentido, o protocolo tem a intenção de
promover uma cultura de inclusão, com a colaboração de estagiários da
área de desporto, na planificação de torneios e de encontros
desportivos. Esta parceria irá favorecer o nível de competição dos
atletas de boccia do CPCB e permitirá a aquisição de novos equipamentos e
apoios para a prática da modalidade.
Que retorno em termos de
socialização e inclusão têm identificado com a participação nos Torneios
de futsal adaptado, organizados pela Associação de Futebol de Beja?
O desporto adaptado tem vindo, de forma
gradual, a ganhar protagonismo enquanto ferramenta de inclusão. A
interação desportiva fomenta a igualdade dos praticantes, atenuando
barreiras e desmistificando preconceitos. A nossa equipa de futsal
(Caobola), para além da situação desportiva, exalta as qualidades de
cada um dos atletas e enaltece o espírito de equipa e de entreajuda. Os
torneios facilitam a socialização, proporcionam a partilha de
experiências e o convívio com outros atletas e equipas técnicas de
outras instituições congéneres do distrito.
Os picadeiros da Horta de Todos
mantêm uma importante atividade de terapias equestres direcionadas aos
vossos utentes e à comunidade em geral...
Claro que sim, a atrelagem adaptada e
hipoterapia abrangem muitos utentes da instituição e a equitação com
fins terapêuticos, a hipoterapia, vem dar uma resposta com muita procura
no distrito. A realização deste tipo de apoios, desenvolvidos por
profissionais especializados, marca a qualidade da nossa oferta à
comunidade nesta área.
Fonte: https://diariodoalentejo.pt
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