“Se
passares à minha aldeia, não vás de cabeça ao léu…”, reza o poema que o
aldenovense João Monge escreveu para o rancho de cantadores da sua
terra natal. “Quando o sol mais almareia, podes por o meu chapéu”,
completou a sua conterrânea Ana Gonçalves, confirmando os seus dotes
para entoar as modas desta planície doirada. Mas aqui a música é outra.
Texto Firmino Paixão
Ana Gonçalves, jovem ali nascida, há 18
anos, destaca-se também como a única árbitra de futebol e futsal no
quadro do Conselho Regional de Arbitragem da Associação de Futebol de
Beja. Vamos conhecê-la? “Sou uma jovem simpática, alegre e sempre
disposta a ajudar o próximo mas, acima de tudo, com a característica de
possuir uma personalidade muito forte”, assim se define esta nativa do
signo peixes, cujo mapa astral tem presente “um forte otimismo e sonhos
de uma vida melhor”.
Ana teve uma infância feliz e, desde
muito cedo, ligada ao desporto. Aos quatro anos praticou patinagem de
velocidade, na Associação de Jovens de Vila Nova de São Bento. No
entanto, foi logo desde muito pequena que começou a “andar nos relvados”
na companhia do pai, diretor do Aldenovense. “Eu era aquela menina que
corria logo atrás da bola, sempre que ela saia do terreno de jogo”. Mais
tarde foi mesmo jogar futebol. “Eu e os meus colegas de turma fomos ter
com um funcionário da escola, que era treinador, e sugerimos-lhe fazer
uma equipa para participarmos nos jogos municipais”.
O passo seguinte foram as camadas jovens
do clube da terra, com cuja camisola venceu, em 2017, a Taça Disciplina,
no escalão de iniciados. O fascínio pelo futebol, e o sonho de se
tornar jogadora, começou por essa altura. Mais adiante, conta Ana
Gonçalves, foi jogadora do Aldenovense, esteve na seleção distrital de
futebol feminino e, por fim, fez uma pré-época no Futebol Clube
Castrense, sempre na posição de extremo esquerdo. “Joguei sempre com
amor à camisola que vestia, com garra, e dando o melhor de mim para que,
no final, eu e a minha equipa ficássemos felizes com o jogo que
tínhamos feito”.
Com uma noção de grande realismo, Ana
Gonçalves assume ter enveredado pela arbitragem uma vez que não se
“afirmou” como jogadora de futebol. “Como já tinha desempenhado o papel
de jogadora, despertou-me a curiosidade de tirar um curso de árbitros de
futebol e um curso de árbitros de futsal, de forma a avaliar com qual
dos papéis me identificava”. Nos torneios de verão do Aldenovense, em
futsal, desempenhava, habitualmente, o papel de cronometrista, algo que a
familiarizou com a arbitragem, não tendo, sequer, faltado o “empurrão”
motivacional do árbitro Edgar Gaspar.
O primeiro jogo em que participou, mais a
sério, foi uma partida de juvenis entre o Serpa e o Vasco da Gama, como
assistente de Artur Janeiro e a par de Filipe Mestre. Estávamos no
segundo dia do mês de fevereiro do ano passado. Um mês depois, era
lançada, a solo, num jogo entre o Moura e o Cabeça Gorda, em benjamins,
onde assume ter cometido “um pequeno erro” em relação ao posicionamento
no terreno. Uma qualidade! O reconhecimento dos próprios erros. Hoje em
dia, diz-se “uma árbitra responsável, autoritária, disciplinada e
pedagógica”, créditos que utiliza para o futuro.
“Espero chegar longe, como a grande
árbitra Sandra Bastos, que um dia gostaria de conhecer, ou, não
conseguindo isso, pelo menos, atingir o nível da Catarina Campos”, duas
referências na arbitragem nacional. Um caminho em que a Ana Gonçalves
promete dar o seu melhor, para chegar o mais longe possível e, em cujo
percurso, vai contando, segundo revela, “com o apoio da família, dos
amigos e colegas e da União de Freguesias de Vila Nova de São Bento.
Agradeço muito a todos, por este grande apoio que me dão em todas as
situações”.
No início de outubro de 2019 realizou-se,
em Beja, o XVIII Encontro Nacional de Árbitros Jovens, um evento
formativo em que Ana Gonçalves conseguiu o terceiro lugar na sua
categoria, conquistando o direito a ser convidada para estar presente na
final da supertaça de futebol de feminino. “Logicamente que será um
momento inesquecível e um momento que irá ficar na minha memória”,
garante a jovem, sublinhando que esse encontro nacional “foi um momento
de grande aprendizagem, em que tivemos formação e avaliações, sem
dúvida, um momento de grande valorização que me foi proporcionado e que
devo agradecer à Associação de Futebol de Beja e, também, à Associação
Portuguesa de Árbitros de Futebol”.
“Hoje em dia fala-se em futebol feminino e
em futebol masculino, porque a maior parte das pessoas pensam que o
futebol é só para homens, algo que está muito errado. O futebol tanto é
para mulheres como para homens, o futebol é um desporto coletivo entre
equipas, sejam elas do sexo feminino ou do sexo masculino”. Nem mais!
Feliz com este, ainda curto, trajeto na arbitragem, onde espera
continuar a crescer, até pelos sonhos largos que alimenta, a jovem
aldenovense está ainda focada na vida académica. “Conclui o ensino
básico em Vila Nova de S. Bento e estou a fazer o secundário na cidade
de Beja. Quando terminar essa etapa logo irei pensar num curso superior,
numa área de desporto, ou, em alternativa, concorrer às forças de
segurança”. Vamos ver.
Fonte: https://diariodoalentejo.pt/
Sem comentários:
Enviar um comentário