José Saúde
Chicos
A máscara do tempo que o homem transporta ao longo da sua vivência terrena, transporta-o a uma viagem por trilhos incessantemente recordados onde se descobrem imagens cordiais que proliferarão eternamente no mundo desportivo. O desporto, essa benéfica condição que ampara prodigiosas mentes, tem o condão de nos transportar a períodos idos que mexeram com os nossos amáveis egos. É óbvio que não falo nos tais chico-espertos que por aí se acumulam aos montes desencadeando um fluído palavreado que mais se assemelha a improfícuos mandatários cujos fins resvalam para uma retórica excessivamente estéril. Enganam-se a si próprios e aos adeptos que neles confiam. Aliás, o olhar dúbio daqueles que a tudo dizem ámen é o resultado de um fresco beber em cartilhas de amor onde, no púlpito do “altar”, lá está um senhor expelindo baboseiras. Neste contexto, caminhando por um outro prisma, o da sinceridade e sobretudo o da humildade, ocorreu-me trazer à estampa os nomes de dois Chicos que abrilhantaram no antigamente os emblemas das cores que pintaram as suas almas de emoções: O Chico do Despertar e o Chico Toril do Atlético Aldenovense. Dois seres afáveis cuja amplitude em prol dos seus símbolos desportivos deixou explícito que as suas limitações físicas foram causas de somenos importância. Recordo, com nostalgia, o Chico do Despertar. Em dias de desafios era vê-lo a correr em volta do retângulo de jogo do Estádio Dr. Flávio dos Santos, em Beja, num incansável grito de solidariedade para com o seu velho “Rasga”. A todos dava troco. Discutia uma jogada, ralhava com o árbitro, apelava ao incitamento das massas ou respondia à letra a quem porventura contrariasse o seu pensar. Exaltado, mas nunca submisso a crenças hostis, o Chico do Despertar foi uma figura inigualável. Incomparável foi, também, o Chico Toril do Atlético Aldenovense. Franzino, mas de uma fibra ímpar, tipo antes quebrar que torcer, o Chico Toril estimulou as suas incapacidades motoras, sacou de outras competências, bem como doutras ferramentas e afirmou-se como homem íntegro no clube de Aldeia Nova de São Bento. Não obstante a herança física legada - aquele coração sempre lhe trouxe arrelias, dizia-se – o Chico fez de tudo um pouco no grémio da terra que o viu nascer. Foi massagista, roupeiro, caiou o campo, sob as terríveis intempéries de um inverno rigoroso ou debaixo de um calor intenso, limpou botas entulhadas de lama, lavou e enxugou equipamentos, distribuiu amizades e recebeu um insofismável agradecimento de uma população que ainda hoje o recorda com saudade. Chicos como os que aqui enalteço atrevo-me em dizer que já não existem. Foram peças únicas numa carruagem afável que fez deles figuras sóbrias no reino futebolístico por onde militaram. Elos mais fracos, ou nem tanto assim, mas literalmente seres superiores na entrega a gostos individuais. Que as suas almas descansem em paz!
Fonte: Facebook de Jose Saude.
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