José Saúde
“Nói” Alves
Foi, indubitavelmente, um dos ícones do futebol de outrora que marcou gerações de prodigiosos guarda-redes que proliferaram num trono onde só os temerários assumiam a difícil posição. A simplicidade, aliada a uma humildade que na sua essência lhe fora peculiar, conduziu o “Nói” Alves aos píncaros de uma irrefutável fama que se expandiu na infinidade do tempo. José Honório Rodrigues Alves nasceu em Beja a 2 de março de 1940 e avocou-se como um dos excelentes guardiões bejenses. Com os afáveis cuidados de dona Custódia, sua mãe, “Nói” Alves cedo fez do futebol de rua a sua ardente bandeira. Porém, uma particularidade o distinguia dos outros companheiros: jogava à baliza, um espaço que, à época, era definida por duas pedras. “Comecei a jogar à bola com os moços do meu tempo. O nosso campo era num local pertencente ao João Barbeiro e havia rivalidades entre os bairros da cidade”. Amizades de companheiros do dia-a-dia, que transvazam para as tais rivalidades quando o jogo era a doer. “Nesses tempos jogávamos nas eiras e as lutas entre a malta eram renhidas”. Subsistia, no entanto, uma curiosidade que o saudoso “Nói” Alves comentava com nostalgia: “Um dia houve uma equipa com a malta que jogava nessas eiras que ia disputar um desafio a Aldeia Nova de São Bento, mas como precisavam de um guarda-redes lembraram-se de mim. Eu fui e fiz um bom jogo, sendo que o Despertar soube disso e logo me fez um convite, que aceitei”. Contextualizando o seu passado no mundo do futebol, concluímos, com fidelidade, que “Nói” Alves, após uma passagem pelo velhinho “Rasga”, como júnior, ingressou no Desportivo e a sua carreira atingiu o patamar da perfeição. “Foi o Elói, como treinador, que me levou para o Desportivo, onde permaneci durante 18 anos”. Na época de 1960/61 o extinto jornal “Mundo Desportivo” considerou-o como o melhor guarda-redes do Campeonato Nacional da II Divisão, Zona Sul. Tive, felizmente, o prazer de ser seu companheiro num grupo de trabalho quando cheguei ao Desportivo, com 18 anos. A empatia entre ambos reforçou-se e equipávamo-nos sempre lado a lado, quer nos treinos, quer quando o jogo tivesse lugar em Beja. Aliás, os nossos lugares cativos eram ao fundo do balneário onde o meu “compadre” me dava dicas proveitosas. Recordo um jogo em Alhandra (vencemos por 1-0), da Taça de Portugal, em que o Rodrigues Pereira ao defender uma bola bateu com a cabeça no poste e foi parar ao hospital de Vila Franca de Xira, entrando o “Nói” Alves para a baliza, posição onde se manteve nas jornadas subsequentes. Com a lesão do Rodrigues Pereira debelada, o treinador Suarez, ao enunciar a equipa para o duelo dessa longínqua tarde, colocou o “Nói” Alves como titular, mas, de imediato, ele levantou-se do banco e respondeu: “Não ‘mister’, o lugar é do Rodrigues Pereira e não meu, portanto esta camisola número 1 é dele”. Este pormenor de elegância e a sua sublime honestidade simbolizam a enorme nobreza de “Nói” Alves.
Fonte: Facebook de Jose saude
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