sábado, 4 de setembro de 2021

Bola de trapos, edição de 3/09/2021 no Diário do Alentejo

José Saúde
A lenda e as memórias desportivas
Diz a lenda que uma jovem de Aldeia da Fonte do Canto se apaixonou por um rapaz da vizinha Cabeço de Vaqueiros, só que o encanto se desvaneceu quando o cavalheiro não aceitou a súplica da moça. Na historieta existiram contornos rudes e desavenças entre as populações dos lugares. A ladainha acrescenta que desse ímpeto amoroso emergiu Aldeia Nova de São Bento. O perfil do enredo derrapa para brigas que opuseram portugueses e espanhóis. Portugal encontrava-se sob o domínio da dinastia filipina e a guerra da Restauração da Independência de 1640 estava ao rubro, sendo o Alentejo palco de permanentes batalhas. A moçoila, antes enamorada pelo rapaz vizinho, casou com um soldado espanhol, mas o assunto ferveu com a ralé e o jovem apressou-se a chefiar um grupo de homens das duas aldeias que declararam luta aos estranhos. Finaliza a lenda que a bravura dos portugueses foi materializada o que levou à retirada das tropas de Espanha e as preces de vitória levaram o povo a afirmar que “São Bento tinha concedido um milagre”. Passemos agora para a realidade desportiva. Em 1923 um grupo de estudantes, num dos períodos de férias, resolveu fomentar o vício do jogo da bola na freguesia. As eiras eram os espaços privilegiados onde a juventude se entretinha em tardes de lazer. Curioso foi o facto da rapaziada se concentrar, regularmente, na Sociedade Renascença. Falava-se, com veemência, da modalidade e consumiam-se largos momentos, dissecando-se os conteúdos de uma circunstância tida como imparável. Neste encadeamento de episódios toca a erigir um emblema. José Morais Louro, filho de um lavrador abastado, assumiu o comando das hostes e no ano de 1923 formou-se o Aldenovense Foot-Ball Club, sendo que só a 30 de novembro de 1938, e sob a presidência de Francisco Assis Teixeira, se verificou a sua filiação na Associação de Futebol de Beja. Mas, o decisório ímpeto para a afirmação do futebol ocorreu a 20 de agosto de 1947 quando o capitão Alcino Pires formou o Atlético Clube Aldenovense, sigla depois alterada para Clube Atlético Aldenovense. Numa investigação sobre a razão que determinou a modificação não foram encontrados dados plausíveis que possamos exemplarmente esclarecer. Há vagas opiniões que não carecem de credíveis justificações. Na época de 1974/1975 o Atlético participou, pela primeira vez, em seniores nas competições associativas e por lá se preserva. Ao longo deste percurso averbou dois títulos de campeão distrital da primeira divisão e, logicamente, a subsequente concorrência em provas nacionais: o primeiro, sob a presidência de António Cubaixo; o segundo, quando Manuel Luís Nunes assumia comando da embarcação aldenovense. Mas cada epístola semanal que subscrevo neste espaço, leva-me a aplaudir os 74 anos de existência do Atlético, um emblema que usufrui de esplêndidas infraestruturas, onde se destaca um maravilhoso complexo desportivo, sendo o campo de futebol relvado, e um pavilhão com esplendorosas condições, para além de uma ampla sede própria.

Fonte: Facebook de Jose Saude

 

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