José Saúde
Desportivamente: até logo!
“Despedida, despedida, sabe Deus quem se despede, quem se despede chorando, não faz uma despida alegre”. Esta é uma pequena estrofe introduzida numa moda do Cante Alentejano, considerado pela UNESCO Património Imaterial do Humanidade, que entoa amiúde pelo mais inóspito recanto desta província. A linha da vida, cada vez mais curta, impõe-nos regras de conduta que nos envia para um repensar o dia de amanhã. O mundo do desporto é concordante com a passagem dos atletas pelas mais diversificadas modalidades e onde o fim é inevitavelmente um dado adquirido. Ando no jornalismo desportivo há quase 40 anos, sendo os últimos 13 (quase 14) passados a debitar textos semanais para o “Diário do Alentejo” (“DA”) em artigos de opinião onde ressalta a “Bola de trapos”. Mas, o meu AVC, que leva 15 anos de existência, foi, pausadamente, debilitando o meu corpo. O universo da escrita fora sempre a minha praia. Uma praia onde tive o privilégio de conhecer notáveis senhores do jornalismo desportivo de renome regional, nacional e internacional. No “DA” entreguei-me de corpo e alma a expor, semanalmente, pequenas narrativas (gratuitamente), recebendo como compensação o sublime agrado dos leitores que a mim se dirigem agradecendo os textos historiados sob a minha pena. Afirmo que o mote de memórias por mim angariadas ao longo dos anos, e transportado para livros, sendo que último lançado foi a “Associação de Futebol de Beja 90 Anos de Memórias e Relatos Os Clubes, a sua Criação e Trajetórias”, obedeceu a um trabalho exaustivo, tarefa literalmente inserida no campo da investigação, tendo percorrido o distrito de lés a lés, contabilizando milhares de quilómetros, assim como as muitas horas, dias, semanas, meses e anos de uma dedicação explícita a uma causa de todo inesquecível. E foi nesta luta intransigente que considero essencialmente firme, que algumas das “Bolas de trapos” tivessem como fontes aquelas que eu próprio angariei e que guardo religiosamente no baú da saudade, onde recupero essências que, caso não fossem resgatadas em tempo considerado oportuno, ter-se-iam perdido num indeclinável e perpétuo esquecimento. Hoje, sinto o meu corpo ceder por via de uma maleita que teima em não dá tréguas, tornando-me cada vez mais dependente de um estado físico que se vai curvando perante o peso da idade. Falta-me engenho e arte para ultrapassar obstáculos. Tento, em vão, dedilhar no meu computador mais uma “Bola de trapos”, uma temática que dantes me era trivial, procurando, ou reconquistando, conteúdos desportivos de diversa ordem, mas eis que o trilho, antes fácil de superar, apresenta-se agora quase inacessível. Procurei voltar ao jogo, todavia, depressa tudo escurece e nem tão-pouco a bola, agora feita em fibra leve, dá folgas ao tremendo pesadelo. Defendo que na vida não existem impossíveis, contudo, subsistem depauperadas inevitabilidades que nos leva a proteger do resultado da caminhada. Desportivamente: até logo!
Fonte: Facebook de Jose Saude.
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