sábado, 16 de julho de 2022

Bola de trapos, edição de 15/7/2022, no Diário do Alentejo

 

José Saúde
Andebol
O tempo, meteoricamente sem tempo, proporciona um reviver de emoções que nos transporta a patamares de uma dimensão surpreendente. Ontem, fomos jovens, transpusemos fronteiras desportivas, deambulámos pelas parcas modalidades disponíveis, desfrutámos do prazer do jogo, ou dos seus duelos, mas tudo inserido numa disputa física considerada essencialmente como salutar, vivemos também momentos de alegria com a vitória alcançada, ou desgosto pela derrota infligida, enfim, pedaços de memórias que contemplam ainda hoje a razão da nossa existência com o fabuloso mundo desportivo. Puxo pela mente, ordeno recordações, instituo coordenadas na longevidade dos tempos e fixo-me na modalidade do andebol. Do andebol guardo excelentes lembranças, principalmente daqueles jogos que opunham a Escola Industrial e Comercial de Beja e o Liceu. Naquele rinque liceal, com uma turba de alunos provenientes dos respetivos estabelecimentos de ensino, o fervor dos andebolistas era, de facto, divinal. As meninas do Liceu, vestidas com colete, batina e saia preta, ao invés dos rapazes que naturalmente usavam calças, enchiam a “bancada superior”, isto é, o cimo mais elevado do terraço do edifício, enquanto as meninas da Escola, de bata branca, lá escolhiam o seu lugar. Era o tempo de carapaus a um lado, sardinhas a outro. Dia de dérbi era sinónimo de romaria. A Avenida Fialho de Almeida enchia-se de gentes e a moçada estudantil lá partia para o local do jogo, muitos deles com os livros debaixo dos braços. Convivi, recentemente, com um dos jogadores de andebol, antigo aluno da Escola, que naquele tempo causava terror ao mais destemido guarda-redes: o popular “Zé da Burra”, como fora conhecido. Um remate seu à baliza, simbolizava mais um golo para a equipa. Tal era a potência que a bola levava e copiosamente lançada dos seus afamados braços. Recorde-se que estes divertimentos integravam os campeonatos da extinta Mocidade Portuguesa. Subjugo o ónus de um filme a preto e branco passado, submeto-me a visionar imagens escondidas no meu ego, reencontro-me com o nostálgico instrumento da saudade, assim como as décadas já queimadas, e logo me deparo com realidade presente. Na realidade o andebol evoluiu ressonantemente na região, surgiram novos clubes e coletividades que se entregam no presente de alma e coração à sua evolução, trabalha-se com exiguidade o fator humano, as suas proficientes técnicas, os treinadores são agora pessoas com formação, os novos gimnodesportivos concelhios são espaços que oferecem aos atletas condições de trabalho, sendo que toda a amálgama de contextos alcançados, revertem, como é óbvio, para uma maior dimensão do nosso andebol em termos nacionais. Nesta conjuntura, importa mencionar que na presente época, 2021/2022, o Centro de Cultura e Popular de Serpa, em seniores, conseguiu a manutenção no Campeonato da II Divisão Nacional, fruto de um trabalho verdadeiramente competente.
Fonte: Facebook de Jose Saude.

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