José Saúde
São Domingos em 1950
A intemporal gratidão pelo prodígio desportivo, resvala para a inestimável vontade que capricha neste já usado escriba, sendo certo que a espontânea viagem que façamos pelo universo ancestral são brados de irrefutáveis memórias que merecem consideração. O calendário da vida sinalizava o dia 11 de junho de 1950 aquando o São Domingos Futebol Clube recebeu no Campo de Jogos Cross Brown o Olhanense. Detenho-me perante uma fotografia que retrata a cerimónia de abertura do jogo e os seus detalhes: atrás, os jogadores locais, devidamente equipados, tendo um deles um lenço atado à cabeça que visava absorver o suor que ao longo do encontro deslizava pela cara abaixo; depois, uma senhora, bem vestida, de saia preta e de blusa branca que, pressupostamente, terá ido dar as boas vindas aos atletas, bem como ênfase aos espetadores que se posicionavam fora das quatro linhas; um homem, que se julga tratar-se de um dirigente da agremiação da casa, vestindo um fato e com um galhardete na mão que significava, quiçá, gratidão ao adversário pelo amistoso momento desportivo; o árbitro envergando uma “jaqueta” comprida e calções que iam abaixo dos joelhos, sendo o seu traje todo ele preto; ao fundo, uma multidão para aplaudir os desportistas; e, por fim, as delimitações do retângulo de jogo assentes com ripas de madeira suportadas com estacas. Eram os tempos áureos do São Domingos no futebol regional e nacional, ficando ali ao lado os labirintos da mina, onde os homens labutavam arduamente nas entranhas da terra na procura do precioso minério. A sede era, e mantém-se, na Casa dos Ingleses, um espaço que fazia jus a um emblema que, à época, dava brado no fenómeno futebolístico nacional. Alfredo Valadas, Domingos Lopes e Valentim Quarenta, sendo que os dois primeiros assumiram o estatuto de internacionais, representaram o Benfica e o Sporting. O São Domingos fora um emblema que projetou alguns dos seus jogadores para palcos nacionais verdadeiramente elucidativos. Havia trabalho e a firma Mason and Barry deliciava a plebe com a majestosa arte do jogo da bola. Eram os tempos em que as moças, aos domingos e em dia de jogo, se passeavam ao longo da estrada, mostrando os seus elegantes corpos. Retratos de épocas douradas que resvalaram para a realidade presente. O lugarejo perdeu habitantes, da mina abandonada restam as memórias, as pessoas partiram na procura de uma vida melhor, o desporto perdeu substância, valendo a desinteressada dedicação de dirigentes que sempre recusaram jogar a toalha ao chão e lá vão viajando à boleia dos desejos na procura de um amanhã melhor. Na presente época, 2022/2023, o São Domingos apresenta-se em competição com a equipa sénior, porque há um homem, de entre outros companheiros de aventura, que merece a nossa merecida vénia, visto ser ele um dos grandes timoneiros de uma embarcarão que persiste em navegar por mares encrespados: António Calhegas.
Fonte: Facebokk de Jose Saude
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