sexta-feira, 15 de julho de 2011

Entrevista com Dinis Gorjão Arbitro da 3ªCategoria Nacional

Como entraste na Arbitragem e quando?
Em primeiro lugar agradeço a oportunidade que o blog me concede para me dar um pouco a conhecer. Respondendo à questão, desde muito cedo senti o desejo em dirigir jogos e fi-lo no desporto escolar de forma regular até ao 9º ano. Soube que a idade mínima para ser árbitro federado era 16 anos e tracei logo o plano para deixar de jogar nessa altura. Nesse verão de 2001 trabalhei e guardei inclusive uns trocos para pagar o curso que afinal....era gratuito! Melhor ainda. Iniciei o curso em setembro desse ano, curso dado pelo Luís Lameira e Manuel Costa. E essa foi a minha 1ª época como estagiário, passando depois na época seguinte à 2ª Categoria Distrital.

2ª Qual tem sido o teu percurso na arbitragem até aqui?
Tenho até ao momento 10 temporadas conluídas. 2001/02 como estagiário. 2002/03 como árbitro de 2ª Categoria Distrital onde fui o 1º classificado com 17 anos. Em 2003/04 fui 1º classificado novamente mas na 1ª Categoria (provavelmente o mais novo de sempre). Em 2004/05 abdiquei um pouco da minha carreira individual sendo árb.assistente na 3ª Categoria de Luís Lameira de forma a maturar um pouco a minha pouca experiência na altura. Ainda assim consegui um 4º lugar e fui às provas nacionais como suplente e fiquei apto na 7ª posição (84 pontos) não subindo, só houve 3 vagas (Porto, Lisboa e Braga). Em 2005/06 tentei a subida mas era muito jovem ainda, e nem sempre consegui ser regular nas minhas prestações e repeti o 4º lugar, e novamente suplente no acesso. Fiquei apto novamente com 84 pontos e a 8ª posição não me valeu a subida, pois só subiram quatro (Porto, Lisboa, Braga e Aveiro). Em 2006/07 era quase um tudo ou nada, e consegui levar de vencido o objectivo da subida, fiquei em 1º lugar pela 2ª vez, e subi. Em 2007/08 estive na 3ª Categoria e fiquei em lugar de descida (128ºlugar), foi uma época em que andei literalmente abandonado no nacional e paguei bastante caro a minha inexperiência, ainda assim deixei uma boa imagem. Acabei por descer devido a um jogo em que supostamente devia ter marcado um penalty e eu adverti o avançado por simulação.

Desci e foi um momento durissimo, um revés, magoado pensei em abandonar. Mas sair quando estava em baixo era deixar uma ultima imagem negativa e continuei no distrital, mesmo sabendo que teria que estar 2 épocas a "marcar passo".
Na 1ª em 2008/09 fiz 1º lugar novamente e arbitrei a minha única final da Taça entre Desportivo de Beja e Moura, que foi um dos melhores momentos. Em 2009/10 novamente fiquei no 1º posto (pela 4ª vez) e voltei a subir.

Na última época em 150 árbitros fiquei no 72º posto.
10 épocas cumpridas, às quais há ainda a acrescentar 5 nomeações para o melhor árbitro da Gala do Desporto da Castrense, que orgulhosamente venci as 5 (2004, 2005, 2007, 2009 e 2010).
Como vê o actual momento da arbitragem no nosso distrito?
No futebol como noutros sectores o momento não é o melhor. Não há possibilidades de investimento e os dividendos serão poucos no futuro garantidamente. Vivemos o apogeu há 20 anos atrás com 2 internacionais - Rosa Santos e Veiga Trigo, e depois disso qualquer jovem que apareça com alguma margem de progressão é lhe colocado o fardo de sucessão, porque essa é a esperança que as pessoas têm, de voltar a ter alguém na ribalta.

Sinceramente não vejo maneira de nos próximos anos promover alguém até ao topo. Não deverá ser a minha geração a recuperar o estrelato, mas vamos trabalhar para deixar bases para o futuro. Quando um dia eu deixar de ser árbitro não vou abandonar o sector. Serei dirigente, observador, monitor, ou ficarei noutra função necessária. Onde estão agora os árbitros de beja que andaram pelos nacionais nos últimos 20/30 anos? Viraram-nos costas de grosso modo. E assim ficou difícil.
No Nosso Distrito a arbitragem tem falta de Cultura ou não e porquê?
Não me parece. Nos últimos 6/7 anos as pessoas sentiram com toda a certeza o rejuvenescimento da arbitragem, hoje em dia já não é o quarentão barrigudo que arbitra os jogos, mas sim o teenager com ambição de carreira. No quadro de árbitros distrital temos pessoas formadas como nunca houve. Ver todos os anos jovens a aderir ao movimento, só se pode justificar com muita paixão pelo futebol. Um árbitro é isso mesmo, um elemento amador, logo que ama aquilo que faz. Só assim se sujeita a ser árbitro. Não teve jeito para jogar, mas quer estar dentro deste mundo, e procura a melhor forma de se encaixar. Julgo que no nosso distrito de época para época temos melhorado, os árbitros são cada vez mais pessoas sabedoras da sua função. Temos crescido.
5ª Quais as pessoas que tem dificultado o teu trabalho na arbitragem?
Por vezes somos nós o pior inimigo de nós próprios. Confesso que ter sido árbitro do ano aos 18 anos me fez sonhar. E quem sonha tende a colocar-se em bicos de pés para almejar algo. E isso prejudica, atrasa a evolução, são grãos na engrenagem.

Ter subido e descido modificou-me. É nas derrotas que mais se aprende.

Qual a referência que tens na Arbitragem?
Tenho muitas. Antes de ser árbitro adorava o Urs Meier, retirado em 2004. Collina e Anders Frisk eram nomes que também via com atenção. A nível doméstico, de topo, quando o Vítor Pereira atingiu dois mundiais, foi digno de registo. Era eu um puto quando o vi pessoalmente na rua, num dia de verão no algarve, e fui pedir-lhe um autógrafo. Era um árbitro de extrema classe, até a sua expressão corporal inspirava confiança. Hoje em dia o meu ídolo é o Pedro Proença, carácter forte, diferente, implacável!
No nosso distrital e voltando ao começo, com 16 anos fui árbitro assistente do Jaime Vieira, era um "velho do restelo", mas um sábio com muito para dizer aos jovens e disse-me muitas coisas boas, com a sua paciência inesgotável corrigiu-me várias vezes. O José Teodósio também me aturou muito e eu sei de cor as suas "estórias". O Luís Lameira e o Edgar Gaspar também me ensinaram muito.
7ª Como te sentes como arbitro da 3ª categoria Nacional?
Sinto-me bem claramente, sinto que tenho valor para aqui estar. Lutei muito para cá chegar a 1ª vez, e mais ainda para voltar. É um mundo difícil. Não há margem de erro, e os deslizes pagam-se caros! A competitividade é enorme, qualquer detalhe faz a diferença. 
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Já lá vai o tempo em que seguíamos o desporto regional pelo Jornal o Ás, ou pelo programa desportivo das rádios. Hoje isso praticamente não existe e surgiram os blogues. E bem! Já fui blogger na área da arbitragem e sei dar valor ao imenso trabalho que dá. É difícil e só com a ajuda de todos se constroem coisas positivas, daí que todos devem contribuir. Este blog, tal como todos os outros do género, é necessário, é oportuno e deve continuar por muito tempo!
Obrigado por nos conceder a entrevista e boa sorte para o Futuro.


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