sexta-feira, 22 de março de 2013

Ícone


José Saúde
Popular, simpático, companheiro de batalhas de outrora, outras recentes, amigo do seu amigo, afável no dar e receber, incansável na sua azáfama quotidiana e de uma nobre entrega na arte de bem servir, entre outros adjetivos que lhe possamos adicionar, são conceções sintéticas que me levam a trazer às páginas do “Diário do Alentejo” o nosso saudoso amigo Zé Agostinho. O Zé foi um indestrutível ícone. Homem íntegro no meio social. Fazia o obséquio, e a gentileza, em tratar o cliente num plano de igualdade. As suas contas eram feitas por baixo e a olho. Nos restaurantes que possuiu o cliente jamais se sentiu defraudado. Ele, amavelmente, retribuía a razão da freguesia com um incessante sorriso. Santa Clara de Louredo e Beja foram dois dos palcos onde o Zé Agostinho desenvolveu o seu dom para a gastronomia alentejana. O seu corpo, já pesado, escondia realidades que os mais novos desconheciam. O Zé foi meu companheiro na equipa de juvenis do Despertar no tempo do histórico presidente Zeca Pereira. Falávamos amiúde da nossa condição de “velhos decanos” despertarianos. Jovens que em meados da década de 60 brilharam em defesa da camisola bejense. Fomos campeões distritais da AF Beja e viajámos pelo nacional. Era o nosso avançado-centro. Esguio e com uma velocidade estonteante, o rapaz da Boavista impunha ordem nos defesas adversários que intencionalmente arriscassem tapar os seus espaços. Corria que se fartava, driblava, esquivava-se e faturava. Golos magistrais que se transformavam em vitórias esplêndidas. Foi homem da marinha. Conheceu as agruras da antiga guerra colonial. A sua estrutura física foi paulatinamente sofrendo alterações. No seu cardápio, ou seja, na cédula pessoal, lá ficarão registos de uma vida que materialmente não lhe foi nada fácil. O Zé deixou-nos. Morreu. Um ícone que ficará para a história de uma sociedade que jamais lhe franqueou portas para uma intrínseca cooperação. Descansa em paz, amigo
Fonte:  http://da.ambaal.pt

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