- Como foi no seu ponto de vista esta época desportiva (2012/2013)?
Até ao momento, está a ser uma época
fantástica, plena de sucesso, embora este seja um termo muito relativo
quando ainda temos tanto em disputa, como a Taça Distrital de Beja,
Supertaça Distrital de Beja, Taça do Sul e a Taça Nacional.
Temos trabalhado com afinco, sem nos
desviarmos do rumo traçado e, neste momento sinto que a equipa está
muito confiante e consciente do empenho que tem de aplicar em cada jogo,
independentemente do grau de dificuldade com que nos deparemos.
Vencemos o Campeonato Distrital de modo
inequívoco, onde somámos apenas um empate num enorme restante leque de
vitórias, jogando sempre com os olhos postos na baliza adversária mas
também num colectivo capaz de proporcionar bom futebol, com permanente
posse e circulação de bola, indo ao encontro do que já havíamos feito na
temporada passada, quebrando um pouco o paradigma do futebol directo
que ainda continua a ser a opção de muitas equipas.
Soubemos impor o nosso futebol, variando o estilo de jogo sempre que
necessário, e isso deixa-me realmente satisfeito porque tenho perfeita
noção que o futebol que estas Meninas praticam é exactamente o futebol
pelo qual eu pagaria um bilhete para as ver jogar.
Trouxemos para Castro Verde o primeiro
título de Futebol Feminino, acabando por ser, nesta época, a maior
referência deste concelho não só a nível distrital como também nacional,
por toda a repercussão que as minhas atletas têm tido no meio
desportivo.
- Como é ver as suas jogadoras a serem convocadas para as seleções?
É um Sonho fantástico!!! Desde que
peguei nesta equipa, há dois anos, procurei sempre que elas pensassem
mais alto do que a nossa “realidade distrital”, não por menosprezo do
nosso Campeonato (bem pelo contrário), mas sim porque entendi que havia
ali potencial para chegarem a patamares de excelência. Não só chegarem
às selecções nacionais, mas por lá permanecerem como figuras de
referência.
Havendo talento, bastou explorá-lo,
exigir mais de cada jogadora e com isso potenciar o futebol deste
plantel de um modo geral, acabando por puxar ainda mais por outras
jogadoras, da minha e de outras equipas.
A primeira convocatória da Joana
“Carona” Assunção foi uma lufada de ar fresco no futebol em Beja!
Acompanhada pela Marta Bernardo (SC Odemirense) permitiu-nos ver que o
caminho a seguir era exactamente o que tanto vínhamos explorando. A
Carona vinha de outra equipa (Ourique DC), e já tinha sido chamada para
um estágio com as Sub-18 nacionais graças a um brilhante desempenho no Torneio
Inter-Associações em Lisboa, onde a perspicácia do Mister Ruben Lança a
levou a ser o esteio da defesa, posição onde nunca tinha jogado, ou
pelo menos apenas de modo muito esporádico. Quando chegou à nossa
equipa, pegou de estaca no centro da defesa, voltando a ser chamada a um
estágio das Sub-19.
Depois veio a Ana Capeta, um autêntico
prodígio do futebol feminino, cujo nome acredito que irá perdurar!!!
Recebi a Ana com 13 anos e de imediato se tornou numa das referências da
minha equipa, porque incorporava para si mesmo ganas de chegar à
Selecção Nacional, e lutava em cada treino para isso, fizemo-la crescer a
passos largos, sofreu e soube sofrer e evoluir, e agora é com enorme
orgulho que a vi envergar a mítica camisola 10 e a braçadeira de capitã
das Sub-16, passando posteriormente para as Sub-19 com idêntica
qualidade.
A Carolina Silva é um daqueles talentos
grotescos… A bola ganha magia nos seus pés! É provavelmente a jogadora
mais tecnicista do campeonato (juntamente com a Cristina Teixeira).
Quando o Prof. José Paisana me telefonou a convocar a Carol foi das
melhores sensações que senti na vida. A Carol merece, tem perfil e
qualidade para estar nas Sub-19 nacionais, apesar de ter apenas 16 anos.
Depois da Carol ter ganho o prémio de Melhor Jogadora do Torneio
Inter-Associações em Castelo Branco, senti perfeitamente que parte do
trabalho estava feito. Agora espero ver crescimento e regularidade!
Chegará muito longe!!
Mais do que o título de Campeão
Distrital de Beja, estas são as nossas conquistas!!! Trocava todos os
troféus por mais convocatórias das minhas Meninas! Desde o regresso da
Carona, também uma oportunidade para a Jeka Pacheco e Ana Rita Batista,
bem como da nossa menina prodígio Isabel Peixeiro, a Guarda-redes de 13
anos que é a imagem fiel da Ana Capeta sempre que, por opção, a
colocamos a jogar na frente de ataque. Sem desprimor para todo o
restante plantel, sabemos perfeitamente que estas são as Meninas que se
seguem, e têm toda esta família por trás a ajudá-las na concretização
desse Sonho! Sem esta família nada disto seria viável.
O paradigma do futebol feminino é que as
Meninas têm o sonho de chegar à equipa das Quinas mas, por vezes,
parece que a Crença não acompanha o Sonho. Muitas vezes desistem pura e
simplesmente do futebol, ou não têm realmente condições para a prática
em local acessível ao seu meio escolar/residencial. Por outro lado, se
não tentamos evoluir, caímos num marasmo tremendo que leva que o futebol
seja apenas um mero hobby, e a minha perspectiva é que temos de
levar a prática a sério em todas as vertentes, desde o treino, postura
desportiva e social, acompanhamento escolar…
Agora estou ainda mais ciente que o
caminho traçado foi bem delineado, até porque sinto que o nosso meio
desportivo chegou bem alto, sinal de reconhecimento que neste distrito
há talento.
- Como é ser o treinador de uma equipa como a equipa CBCV?
É a melhor ocupação que poderia desejar, visto não ser profissional de futebol. Por outro lado, não encaro a função como um hobby.
É e será sempre algo que levo muito a sério, como se treinasse um
colosso do futebol mundial. Se exijo das minhas jogadoras, tenho de
exigir de mim mesmo uma postura e exemplo com que poderei demonstrar a
faceta de líder!
Quando cheguei à CBCV encontrei um
plantel com um ano de trabalho, com notória fragilidade, mas com
bastante potencial, que já tinha sido bem trabalho em muitos campos.
Meses antes, em torneios de futsal de verão, havia sido abordado pela
Ana Capeta e Jeka Pacheco, que mostraram interesse em trabalhar comigo, e
após algumas conversas com os pais, aceitei de muito bom grado o
reforço da que veio a ser a minha equipa.
Construí uma equipa muito jovem, onde
mais de metade do plantel tinha entre 13 e 17 anos!!! Isto para jogar
num campeonato sénior…
Dois anos volvidos, estas e outras
meninas onde vingava a imaturidade desportiva, tornaram-se em potências
distritais e nacionais, com muito trabalho pelo meio, algumas lágrimas e
incredulidade face às críticas e ataques que muitas vezes fomos alvo.
Mas hoje tenho noção que, mais que tudo, toda a gente as vê como o
exemplo a seguir em muitas áreas.
Tenho a sorte da minha namorada ser a
capitã desta equipa, aliás, foi isso mesmo que me levou a querer ajudar a
CBCV, até porque desde a adolescência que sempre estive a par do futsal
feminino, especialmente no distrito de Lisboa, pelo que a oportunidade
de pegar numa equipa de futebol 7 foi de imediato aceite.
Tenho muito orgulho na equipa que
conduzo, orgulho nos feitos já conseguidos, mas, acima de tudo, imenso
orgulho e carinho por saber que também ajudei estas Meninas a crescer,
acabando por criar laços realmente familiares com todo este plantel,
inclusive com jogadoras que entretanto saíram do clube.
A união de toda esta família é que tem permitido que as nossas atletas cheguem à equipa nacional.
- Quais a previsões futuras para CBCV?
Bom, a época ainda é longa! Aliás, vai ser a mais longa época de sempre, talvez até a nível nacional.
Em primeiro lugar temos a Taça Distrital e Supertaça Distrital para disputar. São troféus importantes no nosso panorama, com alguma visibilidade, pelo que a equipa está empenhada em continuar a trabalhar, visando a conquista destes mesmos troféus.
Em primeiro lugar temos a Taça Distrital e Supertaça Distrital para disputar. São troféus importantes no nosso panorama, com alguma visibilidade, pelo que a equipa está empenhada em continuar a trabalhar, visando a conquista destes mesmos troféus.
Posteriormente vamos disputar a Taça
Nacional Sub-18, onde julgo que irão marcar presença as maiores equipas a
nível nacional, provavelmente as campeãs dos respectivos distritos que
apresentam campeonato de futebol 7 feminino Sub-18. Será a maior prova
de fogo que esta equipa irá ter esta época, até porque, face ao nosso
campeonato ser Sénior, causa-nos alguns entraves a nível de plantel e
até dinâmica de jogo, visto ter de prescindir de jogadoras fundamentais
para esta equipa. Em todo o caso, é o maior troféu nacional a nível de
futebol 7 feminino, pelo que marcaremos presença, conforme já foi
acordado com a A.F.Beja e graças também ao seu esforço e capacidade de
dinamização do futebol neste distrito.
Teremos ainda a Taça do Sul para
disputar com os representantes da A.F.Algarve, que será sempre uma
incógnita, visto ali apenas existir futsal. Esta Taça poderá ser o elã
para implementar o futebol 7 naquele distrito, e mais um alento para
esta equipa.
Todas estas competições vão permitir
manter a equipa em trabalho e competição até bem mais tarde do que
previsto, podendo ser de extrema importância face aos compromissos da
Selecção Nacional Sub-17, que irá disputar o apuramento para o Europeu
em Julho, em Israel, e onde Sonho ver algumas das nossas atletas.
- Como acha que vai ser a próxima época, mesmo estando ainda longe do início dela?
Como já referi noutras ocasiões, a
próxima época é sempre uma incógnita! É um dos males do futebol feminino
– muita indefinição em coisas que são primordiais, principalmente por
se tratar de uma equipa com enorme potencial.
Falta-nos o que existe no sector
masculino, nomeadamente a normal implementação de escalões de formação,
de um modo transversal, onde já nem se colocaria a remota hipótese de
“não manter” equipa feminina na próxima temporada.
Especificamente na CBCV, a Casa passa
por um período conturbado a nível de órgãos sociais, onde existe
pendente uma situação eleitoral. Por tudo isto, continua a ser uma
incógnita o futuro desta equipa, até porque há condições das quais não
prescindo, porque em primeira instância salvaguardo sempre os interesses
das minhas atletas.
Em todo o caso, sei que existem
interessados nesta equipa, até porque a repercussão dos seus feitos e
das suas atletas ultrapassam as barreiras distritais. Note-se por
exemplo toda a repercussão da Ana Capeta (principalmente). Até a nível
de patrocínios, os parceiros da CBCV tiveram uma tremenda divulgação
inerente ao sucesso das minhas Meninas. É retorno garantido, e no
desporto tudo isto conta e muito!
Aliás, eu próprio já prometi às minhas
Meninas que tudo farei por lhes dar um seguimento natural e, acima de
tudo, evolutivo, caso não existam condições para continuar na CBCV.
Interessa-nos evoluir, e espero
sinceramente que o nosso campeonato também evolua, em primeiro lugar a
nível de clubes inscritos, e depois obviamente em qualidade, para que
também não sinta que chegámos a um patamar em que nada mais temos a
atingir.
Os clubes podem apostar em equipas
jovens, mas teimam em apostar numa equipa apenas se sentirem que podem
ganhar alguma coisa… O que importa é dar espaço ao crescimento, ninguém
nasce ensinado. Mas também é preciso escolher muito bem que lidera as
Meninas…
Fonte: http://futebolfemininoportugal.com/
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