terça-feira, 30 de abril de 2013

Gonçalo Nunes faz reflexão sobre sua equipa Casa do Benfica de Castro Verde e seus feitos

 Gonçalo Nunes
- Como foi no seu ponto de vista esta época desportiva (2012/2013)?
Até ao momento, está a ser uma época fantástica, plena de sucesso, embora este seja um termo muito relativo quando ainda temos tanto em disputa, como a Taça Distrital de Beja, Supertaça Distrital de Beja, Taça do Sul e a Taça Nacional.
Temos trabalhado com afinco, sem nos desviarmos do rumo traçado e, neste momento sinto que a equipa está muito confiante e consciente do empenho que tem de aplicar em cada jogo, independentemente do grau de dificuldade com que nos deparemos.
Vencemos o Campeonato Distrital de modo inequívoco, onde somámos apenas um empate num enorme restante leque de vitórias, jogando sempre com os olhos postos na baliza adversária mas também num colectivo capaz de proporcionar bom futebol, com permanente posse e circulação de bola, indo ao encontro do que já havíamos feito na temporada passada, quebrando um pouco o paradigma do futebol directo que ainda continua a ser a opção de muitas equipas. Soubemos impor o nosso futebol, variando o estilo de jogo sempre que necessário, e isso deixa-me realmente satisfeito porque tenho perfeita noção que o futebol que estas Meninas praticam é exactamente o futebol pelo qual eu pagaria um bilhete para as ver jogar.
Trouxemos para Castro Verde o primeiro título de Futebol Feminino, acabando por ser, nesta época, a maior referência deste concelho não só a nível distrital como também nacional, por toda a repercussão que as minhas atletas têm tido no meio desportivo.
capeta e batista
- Como é ver as suas jogadoras a serem convocadas para as seleções?
É um Sonho fantástico!!! Desde que peguei nesta equipa, há dois anos, procurei sempre que elas pensassem mais alto do que a nossa “realidade distrital”, não por menosprezo do nosso Campeonato (bem pelo contrário), mas sim porque entendi que havia ali potencial para chegarem a patamares de excelência. Não só chegarem às selecções nacionais, mas por lá permanecerem como figuras de referência.
Havendo talento, bastou explorá-lo, exigir mais de cada jogadora e com isso potenciar o futebol deste plantel de um modo geral, acabando por puxar ainda mais por outras jogadoras, da minha e de outras equipas.
A primeira convocatória da Joana “Carona” Assunção foi uma lufada de ar fresco no futebol em Beja! Acompanhada pela Marta Bernardo (SC Odemirense) permitiu-nos ver que o caminho a seguir era exactamente o que tanto vínhamos explorando. A Carona vinha de outra equipa (Ourique DC), e já tinha sido chamada para um estágio com as Sub-18 nacionais graças a um brilhante desempenho no Torneio Inter-Associações em Lisboa, onde a perspicácia do Mister Ruben Lança a levou a ser o esteio da defesa, posição onde nunca tinha jogado, ou pelo menos apenas de modo muito esporádico. Quando chegou à nossa equipa, pegou de estaca no centro da defesa, voltando a ser chamada a um estágio das Sub-19.
Depois veio a Ana Capeta, um autêntico prodígio do futebol feminino, cujo nome acredito que irá perdurar!!! Recebi a Ana com 13 anos e de imediato se tornou numa das referências da minha equipa, porque incorporava para si mesmo ganas de chegar à Selecção Nacional, e lutava em cada treino para isso, fizemo-la crescer a passos largos, sofreu e soube sofrer e evoluir, e agora é com enorme orgulho que a vi envergar a mítica camisola 10 e a braçadeira de capitã das Sub-16, passando posteriormente para as Sub-19 com idêntica qualidade.
A Carolina Silva é um daqueles talentos grotescos… A bola ganha magia nos seus pés! É provavelmente a jogadora mais tecnicista do campeonato (juntamente com a Cristina Teixeira). Quando o Prof. José Paisana me telefonou a convocar a Carol foi das melhores sensações que senti na vida. A Carol merece, tem perfil e qualidade para estar nas Sub-19 nacionais, apesar de ter apenas 16 anos. Depois da Carol ter ganho o prémio de Melhor Jogadora do Torneio Inter-Associações em Castelo Branco, senti perfeitamente que parte do trabalho estava feito. Agora espero ver crescimento e regularidade! Chegará muito longe!!
Mais do que o título de Campeão Distrital de Beja, estas são as nossas conquistas!!! Trocava todos os troféus por mais convocatórias das minhas Meninas! Desde o regresso da Carona, também uma oportunidade para a Jeka Pacheco e Ana Rita Batista, bem como da nossa menina prodígio Isabel Peixeiro, a Guarda-redes de 13 anos que é a imagem fiel da Ana Capeta sempre que, por opção, a colocamos a jogar na frente de ataque. Sem desprimor para todo o restante plantel, sabemos perfeitamente que estas são as Meninas que se seguem, e têm toda esta família por trás a ajudá-las na concretização desse Sonho! Sem esta família nada disto seria viável.
O paradigma do futebol feminino é que as Meninas têm o sonho de chegar à equipa das Quinas mas, por vezes, parece que a Crença não acompanha o Sonho. Muitas vezes desistem pura e simplesmente do futebol, ou não têm realmente condições para a prática em local acessível ao seu meio escolar/residencial. Por outro lado, se não tentamos evoluir, caímos num marasmo tremendo que leva que o futebol seja apenas um mero hobby, e a minha perspectiva é que temos de levar a prática a sério em todas as vertentes, desde o treino, postura desportiva e social, acompanhamento escolar…
Agora estou ainda mais ciente que o caminho traçado foi bem delineado, até porque sinto que o nosso meio desportivo chegou bem alto, sinal de reconhecimento que neste distrito há talento. 
- Como é ser o treinador de uma equipa como a equipa CBCV?
É a melhor ocupação que poderia desejar, visto não ser profissional de futebol. Por outro lado, não encaro a função como um hobby. É e será sempre algo que levo muito a sério, como se treinasse um colosso do futebol mundial. Se exijo das minhas jogadoras, tenho de exigir de mim mesmo uma postura e exemplo com que poderei demonstrar a faceta de líder!
Quando cheguei à CBCV encontrei um plantel com um ano de trabalho, com notória fragilidade, mas com bastante potencial, que já tinha sido bem trabalho em muitos campos. Meses antes, em torneios de futsal de verão, havia sido abordado pela Ana Capeta e Jeka Pacheco, que mostraram interesse em trabalhar comigo, e após algumas conversas com os pais, aceitei de muito bom grado o reforço da que veio a ser a minha equipa.
Construí uma equipa muito jovem, onde mais de metade do plantel tinha entre 13 e 17 anos!!! Isto para jogar num campeonato sénior…
Dois anos volvidos, estas e outras meninas onde vingava a imaturidade desportiva, tornaram-se em potências distritais e nacionais, com muito trabalho pelo meio, algumas lágrimas e incredulidade face às críticas e ataques que muitas vezes fomos alvo. Mas hoje tenho noção que, mais que tudo, toda a gente as vê como o exemplo a seguir em muitas áreas.
Tenho a sorte da minha namorada ser a capitã desta equipa, aliás, foi isso mesmo que me levou a querer ajudar a CBCV, até porque desde a adolescência que sempre estive a par do futsal feminino, especialmente no distrito de Lisboa, pelo que a oportunidade de pegar numa equipa de futebol 7 foi de imediato aceite.
Tenho muito orgulho na equipa que conduzo, orgulho nos feitos já conseguidos, mas, acima de tudo, imenso orgulho e carinho por saber que também ajudei estas Meninas a crescer, acabando por criar laços realmente familiares com todo este plantel, inclusive com jogadoras que entretanto saíram do clube.
A união de toda esta família é que tem permitido que as nossas atletas cheguem à equipa nacional.
 cb castro
- Quais a previsões futuras para CBCV?
Bom, a época ainda é longa! Aliás, vai ser a mais longa época de sempre, talvez até a nível nacional.
Em primeiro lugar temos a Taça Distrital e Supertaça Distrital para disputar. São troféus importantes no nosso panorama, com alguma visibilidade, pelo que a equipa está empenhada em continuar a trabalhar, visando a conquista destes mesmos troféus.
Posteriormente vamos disputar a Taça Nacional Sub-18, onde julgo que irão marcar presença as maiores equipas a nível nacional, provavelmente as campeãs dos respectivos distritos que apresentam campeonato de futebol 7 feminino Sub-18. Será a maior prova de fogo que esta equipa irá ter esta época, até porque, face ao nosso campeonato ser Sénior, causa-nos alguns entraves a nível de plantel e até dinâmica de jogo, visto ter de prescindir de jogadoras fundamentais para esta equipa. Em todo o caso, é o maior troféu nacional a nível de futebol 7 feminino, pelo que marcaremos presença, conforme já foi acordado com a A.F.Beja e graças também ao seu esforço e capacidade de dinamização do futebol neste distrito.
Teremos ainda a Taça do Sul para disputar com os representantes da A.F.Algarve, que será sempre uma incógnita, visto ali apenas existir futsal. Esta Taça poderá ser o elã para implementar o futebol 7 naquele distrito, e mais um alento para esta equipa.
Todas estas competições vão permitir manter a equipa em trabalho e competição até bem mais tarde do que previsto, podendo ser de extrema importância face aos compromissos da Selecção Nacional Sub-17, que irá disputar o apuramento para o Europeu em Julho, em Israel, e onde Sonho ver algumas das nossas atletas.
gonçalo nunes
- Como acha que vai ser a próxima época, mesmo estando ainda longe do início dela?
Como já referi noutras ocasiões, a próxima época é sempre uma incógnita! É um dos males do futebol feminino – muita indefinição em coisas que são primordiais, principalmente por se tratar de uma equipa com enorme potencial.
Falta-nos o que existe no sector masculino, nomeadamente a normal implementação de escalões de formação, de um modo transversal, onde já nem se colocaria a remota hipótese de “não manter” equipa feminina na próxima temporada.
Especificamente na CBCV, a Casa passa por um período conturbado a nível de órgãos sociais, onde existe pendente uma situação eleitoral. Por tudo isto, continua a ser uma incógnita o futuro desta equipa, até porque há condições das quais não prescindo, porque em primeira instância salvaguardo sempre os interesses das minhas atletas.
Em todo o caso, sei que existem interessados nesta equipa, até porque a repercussão dos seus feitos e das suas atletas ultrapassam as barreiras distritais. Note-se por exemplo toda a repercussão da Ana Capeta (principalmente). Até a nível de patrocínios, os parceiros da CBCV tiveram uma tremenda divulgação inerente ao sucesso das minhas Meninas. É retorno garantido, e no desporto tudo isto conta e muito!
Aliás, eu próprio já prometi às minhas Meninas que tudo farei por lhes dar um seguimento natural e, acima de tudo, evolutivo, caso não existam condições para continuar na CBCV.
Interessa-nos evoluir, e espero sinceramente que o nosso campeonato também evolua, em primeiro lugar a nível de clubes inscritos, e depois obviamente em qualidade, para que também não sinta que chegámos a um patamar em que nada mais temos a atingir.
Os clubes podem apostar em equipas jovens, mas teimam em apostar numa equipa apenas se sentirem que podem ganhar alguma coisa… O que importa é dar espaço ao crescimento, ninguém nasce ensinado. Mas também é preciso escolher muito bem que lidera as Meninas…
Fonte:  http://futebolfemininoportugal.com/

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