Os mais antigos
adeptos do S.C. Farense têm muitas experiências amargas do resultado de jogos
decisivos, desde as antigas "liguilhas" de subida da 2ª à 1ª divisão,
passando pelos jogos na década de sessenta de subida da 3ª à 2ª e pela disputa
dos títulos de campeão das 3ª e 2ª divisões, sem contar com a final da Taça de
Portugal.
Portanto, quando
aparece um jogo destes, definitivamente decisivo para a obtenção de um
objectivo, estas memórias são um entravo a encarar estas partidas com
optimismo...
Eu tentei fazer
ver que agora estávamos numa sequência de 6 finais sucessivas e que depois de 5
vitórias, era apenas mais uma...
A moldura humana
deste jogo, era um espanto, todos os lugares completamente preenchidos,
incluindo escadas e corredores, cerca de 14 mil adeptos a puxar pelo Farense,
tinha que ter algum efeito... E na verdade, a equipa teve um comportamento como
ainda não se tinha visto esta época, do começo ao fim , sempre a querer ter a
bola e na procura incessante do golo.
As coisas não
podiam ter começado melhor, pois logo aos 2 minutos, e na sequência de um
canto, o central Bruno Bernardo cabeceou para o fundo da baliza adversária,
dando origem à 1ª explosão de alegria dos adeptos (que nesta altura ainda não
enchiam as bancadas). Mas a equipa não se acomodou, continuou no mesmo ritmo,
não deixando que o U. Leiria tivesse qualquer hipótese de se acercar da baliza
de Serrão, procurando com afinco o golo que lhe desse outra tranquilidade e só
não o conseguiu porque o fiscal de linha conseguiu descortinar um fora de jogo
num excelente cabeceamento de Diop, e depois numa recarga de Matias, anulando 2
golos, o primeiro dos quais muito duvidoso, para não dizer mais... Na 1ª parte
ainda Fajardo fez a bola embater na barra na marcação de um livre direto.
Na 2ª parte, o
U. Leiria apareceu mais adiantado no terreno, a pressionar os defesas do
Farense, na tentativa de estancar o sufoco que tinha sido toda a 1ª parte, e na
verdade até conseguiram fazer parar a respiração de Serrão e de muitos adeptos,
quando um remate cruzado do lado esquerdo, passou a rasar a barra da baliza
Farense. Este lance fez ver à equipa que era urgente conseguir o 2º golo, pois
o improvável poderia acontecer e o Farense intensificou a pressão sobre a
baliza adversária, mas um cabeceamento de Matias ao poste e mais um golo anulado
por pretenso fora de jogo, inviabilizaram o golo da tranquilidade.
Aos 74 minutos
aconteceu o que os mais pessimistas temiam e num lançamento para a área
apareceu rápido Emiliano Té a cabecear para o fundo da baliza. O estádio ficou
gelado de espanto e durante alguns segundos o silêncio foi
"ensurdecedor", mas passado o choque, empurrados pela claque South
Side e prontamente acompanhada pela enorme massa humana a equipa reagiu ao
infortúnio e passados 6 minutos, viu Matias cair na área quando se aprestava
para rematar um cruzamento da direita. Imediatamente o árbitro apontou a marca
de grande penalidade, ficando toda a gente suspensa do que faria o jovem
Ibukun, mas a confiança era grande, pois este jogador tinha sempre tido êxito
neste tipo de acções e mais uma vez não falhou, enviando a bola para o lado esquerdo
do guarda redes, quando este se atirou, com toda a convicção para o lado contrário.
A explosão de alegria foi enorme... Ainda faltavam quase 10 minutos, mas já ninguém
acreditava que a vitória pudesse fugir... nem mesmo quando o árbitro deu mais 6
minutos (o habitual nos jogos do Farense em casa), mas desta vez com alguma justificação,
pela demora dos festejos do golo do Farense e das lesões de Serrão e Anselmo
(este teve mesmo que ser substituído).
Ao fim de um
jogo que nunca mais acabava, mas sempre controlado pelo Farense junto da linha
de fundo adversária, lá veio o apito final e a consagração de uma equipa que
conseguira um objectivo que a certa altura parecia querer fugir e a invasão de
campo com os adeptos a envolverem num abraço de gratidão pela felicidade que
lhes tinham proporcionado...
Crónica de Eduardo Roque
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