À distância de três anos do centenário da fundação, o Clube Desportivo de Beja dá sinais de profunda agonia, com a mais que provável supressão do futebol sénior e a renúncia a um campeonato nacional de juvenis.
Texto Firmino Paixão
As portas da velha sede do Clube Desportivo de Beja, à rua do Sembrano, voltaram a abrir-se para mais uma assembleia geral, marcada após fortes indícios de que um grupo de antigos atletas do clube se apresentaria a sufrágio para encetar um processo de recuperação de um dos mais antigos e prestigiados emblemas do Baixo Alentejo.
Ao ainda presidente da mesa da assembleia geral, Rogério Palma Inácio, juntaram-se Florival Graça e Rui Fernandes, sobreviventes de sucessivas comissões administrativas. Uma troika de salvação que tem andado com o clube às costas e que ainda dá a cara por ele, mantendo a porta aberta, apesar dos crescentes sinais de agonia.
Os troféus e diplomas alinham-se pelas paredes do salão nobre da sede. Bocados de história, recordações de rostos e imagens de gente que através dos tempos ajudou a construir uma grandiosa obra que ameaça ruir. Foi-lhe conferido estatuto de utilidade pública, reconhecido mérito municipal, grau ouro, pelo município de Beja, a medalha de bons serviços desportivos do Ministério da Educação, o diploma de mérito do Governo Civil do Distrito de Beja, distinções que sobram, à míngua de homens que enfrentem o desafio de não deixarem morrer o Desportivo de Beja, campeão nacional da 3.ª divisão na época de 94/95, sob orientação do “magriço” Jaime Graça.
Na última época desportiva, aquela em que a equipa principal caiu para o escalão mais baixo do futebol regional, o clube ainda movimentou 188 atletas, em oito diferentes escalões. Mantém o contributo ativo de cerca de 400 associados, apesar da meia dúzia que subiu as escadas para a última reunião magna.
Mas, afinal, o que afasta as pessoas do clube? O medo do passivo? Rogério Palma Inácio assegura: “O montante das dívidas está mais do que determinado e não é nada que possa impedir o funcionamento normal do clube”. E explica: “Existe um passivo oficial com base nas dívidas a entidades oficiais, isso está identificado, são algumas dezenas de milhares de euros, não é nada por aí além”. E, perante a nossa insistência, quantifica: “Digamos que as dívidas oficiais do clube não excederão nunca o montante de 40 mil euros”. Quanto ao aparecimento de novos credores, penhoras ou processos de execução, e recorde-se que Palma Inácio falou em passivo oficial, o ainda dirigente explica: “A questão de novos credores está desmistificada, desde 2010 que não existem novas dívidas, têm sido liquidadas ou negociadas, todas as dívidas existentes são anteriores a 2010, nada que impeça que o clube seja gerido de uma forma tranquila”.
Ainda assim, não existe quem se aventure a dar corpo a uma direção e o líder da mesa da assembleia lamenta: “Tínhamos expetativas em torno da entrada de um grupo alargado de elementos para a comissão administrativa, que permitiriam constituir uma direção, acabou por não se concretizar e pronto, o clube vai continuar com os elementos que estavam na anterior comissão e mais alguns acabam de se disponibilizar, mas o futuro está garantido, temos atletas, temos treinadores, corpo médico, faltam, sobretudo, dirigentes”.
Mas que futuro tem o Desportivo de Beja já na próxima temporada? Palma Inácio lembra: “Já tivemos a garantia de que vai continuar todo o futebol de sete, uma equipa de iniciados em futebol de 11 e o futsal. Em relação aos restantes escalões – juvenis, juniores e seniores –, ainda vamos fazer um último esforço até ao início da época, tentando assegurar, pelo menos, dois desses três escalões”.
Palma Inácio recusa aceitar a suspensão do futebol sénior como sinal de declínio e explica: “Excetuando aquele período em que celebrou um protocolo abdicando da formação, será talvez a época em que o clube tem menos equipas a competir e isso podia evidenciar declínio, mas eu digo que não. Repare que estamos há dois anos a apostar forte no futebol de 7, temos dezenas de jovens que, a médio prazo, poderão fazer regressar o clube aos bons velhos tempos”. Mas a inexistência de futebol sénior belisca o prestígio e a tradição do emblema: “Sim, não vou camuflar isso”, diz o dirigente. Acentuando: “Talvez seja inédito na história do clube, e é uma situação que me entristece bastante. Também foi decidido não participar no Nacional de Juvenis, mas essa renúncia tem a ver, apenas, com questões financeiras”.
E a escassos três anos da data de fundação do antigo Luso, o mais antigo emblema dos que se uniram para criar o Clube Desportivo de Beja, e que lhe emprestou o dia de fundação, fica a garantia: “O problema do Desportivo é a falta de pessoas que queiram ter paciência, gosto e alguma disponibilidade, mas ele não fechará as portas, tenho dito várias vezes que só o abandonarei quando fizer 100 anos, até lá, esta troika, pelo menos na parte que a mim me diz respeito, estará presente até ao centenário do Clube Desportivo de Beja”.
Fonte: http://da.ambaal.pt
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