sábado, 3 de agosto de 2013

O velho capitão

José Saúde

Morreu o velho capitão! É a lei da vida. O cosmos terrestre, no seu irrefutável movimento giratório, não é, declaradamente, uma contemplativa verdade para o singular comum dos mortais. A malfadada morte, sempre inaceitável, é uma irreversível precisão que mais tarde ou mais cedo tocará a cada um de nós. Seremos um dia fúnebres passageiros da tal viagem sem regresso. Chamava-se Marcelino José Montez Lança, um cidadão que nasceu em Beja no dia 18 de agosto de 1933. O Marcelino foi um dos supremos futebolistas de uma família que herdou a arte de fazer vibrar multidões. O seu pai foi um dos pioneiros do jogo da bola na velha Pax Julia e o seu tio, Mário Montez, figura de proa que brilhou ao serviço do Vitória de Setúbal. O velho capitão alcançou, indiscutivelmente, o expoente máximo no futebol bejense. Jogador elegante e finalizador aprumado, era dos seus pés que saíam magistrais jogadas e tiros certeiros para uma baliza que, para ele, não apresentava mistérios. O Desportivo de Beja apresentou-se como o inegável emblema que o Marcelino sempre honrou. No ano de 1950, o então craque de Beja, ainda puto, foi assediado pelo Benfica, treinado por Ted Smith, e já com o cachet alinhavado o seu pai não autorizou a transferência para Lisboa, alegando que o rapaz fazia-lhe falta atrás do balcão do famoso café Cortiço, uma bíblia que outrora se afirmou como um ícone aprazível para uma profícua recolha de assuntos desportivos. Em 1955, o valoroso jogador do Desportivo esteve ao serviço da seleção militar onde proliferavam jogadores de craveira nacional e internacional, sendo os casos de Hernâni, Germano, Costa Pereira, Vital, Faia, Pereira da Silva, entre outros. Agora, o capitão finou-se. Familiares, antigos companheiros, homens do desporto, amigos e população em geral, acompanharam-no à sua última morada. Descanse em paz, velho capitão!

Fonte:  http://da.ambaal.pt/

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