sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Sinais do tempo


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José Saúde

O desporto apresentou-‑se sempre como um sublime palco de emoções. Recordo os tempos em que fui aprendiz dos velhos balneários onde predominava a modalidade de futebol. Lembro, ainda, a forma eufórica como os novatos eram recebidos pela velha guarda que honrava a sensibilidade do companheiro recém chegado. Não havia medidas de receção exageradas. Umas meias rotas, umas botas com pregos, uns calções rasgados, uma camisola enorme que mais parecia uma peça para dormir, a primeira entrada em campo num jogo de apresentação à novel aquisição precedida com ligeiros toques na nuca, uma ou outra aldrabice inventada na hora pelos mais velhos, enfim, momentos áureos que permanecem ainda bem vivos numa mente que vai por ora recordando esses antigos costumes. No atual mundo global desportivo, a cosmética da ação resvalou para performances paralelas que tornam a essência do fenómeno desmedido. Na tela existem hediondos hábitos que deixam o espetador incomodado. A visibilidade  de algumas claques organizadas afigura-se como uma faca de dois gumes. A camaradagem entre os atletas, não sendo igualzinha aos tempos idos, é sobretudo semelhante. Todavia, essa nova presunção de puxar pela equipa através de grupos organizados, deixa, por outro lado, cair máscaras de preocupação. A nível nacional há claques que se gladiam e chefes de torcidas que impõem rigor no seio do grupo. Na horizontalidade desta afronta, revejo que a realidade regional, a nossa, continua a merecer gáudios de excelência. Para trás ficaram as longínquas e inusitadas zangas regionais, as lutas crispadas com o calor do embate, os momentos de exaltação, que, por vezes, resultavam em confrontos físicos, dando-se agora alvíssaras ao pacato comportamento das claques no apoio exclusivo ao espetáculo desportivo. As clubites, outrora exacerbadas, deram lugar a compreensões saudáveis e amigáveis. Sinais do tempo!
Fonte:  http://da.ambaal.pt/

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