Firmino Paixão
O Governo elimina fatores de
sustentabilidade às regiões do interior com a facilidade e cadência com
que uma competição desportiva progride dos 32 avos de final para as
meias-finais.
Primeiro reduzem a metade, depois tiram metade da metade sobrante e por aí adiante, até restar pouco ou nada, os finalistas.
No
futebol, mais do mesmo! Sejamos sérios no exercício de questionarmos o
mérito da seleção portuguesa em disputar esta fase final do Mundial do
Brasil. Avaliemos o percurso de qualificação, com resultados
inapropriados diante se seleções de valor medíocre, obrigando-‑nos a uma
repescagem à sueca, onde, aí sim, o melhor do mundo resolveu ser isso
mesmo (o que não fizera antes, nem depois) e lá fomos com a nossa prole
de barbudos até ao luxuoso paraíso de Campinas, onde a extrema humidade
enferrujou os arames às estrelas cadentes que mereceram a escolha dos
empresários, perdão, do selecionador nacional.
Vencidos pela Alemanha
(com quem era provável uma derrota, não uma humilhação), ouvimos do
nosso selecionador, sempre com expressão facial austera e discurso
crispado, uma lição de matemática em que as vitórias sobre os Estados
Unidos e Gana chegariam para irmos em frente.
Surpreendidos pelos
Estados Unidos embainhámos as espadas e encostámo-nos de novo à parede,
para outra aula de geometria do impossível: de como podíamos golear os
ganeses e esperarmos por um resultado não concordante com os interesses
de uma equipa alemã e outra americana, mas treinada por um alemão. Os
jogos foram ontem, não temos o poder da premonição, mas ainda estamos
sentados à espera desse milagre.
Todos sentados sim, porque a
confrangedora condição física revelada pela maioria dos atletas a isso
aconselha, tanta lesão muscular numa só equipa na fase final da
competição mais importante do planeta do futebol.
Enquanto isso, com o
povo à espera do milagre e de cação ao léu nos areais do litoral, o
Governo mandou encerrar mais de 300 escolas. Outra eliminatória da
violenta competição contra os interesses das populações mais isoladas e
com maior índice de empobrecimento. Nisto somos campeões, e o árbitro,
que lhes devia mostrar o cartão vermelho, está feito com eles.
Fonte: http://da.ambaal.pt/
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