“E a minha aldeia é Santana”, cantarolou Francisco Barão, um alentejano de gema, nascido na aldeia de Moreanes, no concelho de Mértola, de onde saiu muito jovem para triunfar no futebol português.
Texto e foto Firmino Paixão
Nasceu há 57 anos, num belo dia de Santo António, na aldeia de Moreanes, freguesia de Santana de Cambas, no concelho de Mértola. A procura de uma vida melhor levou os seus pais para a grande Lisboa, e com eles viajaram os sonhos de infância do filho Francisco, que muito cedo revelou aptidão para o futebol. O sportinguismo que interioriza abriu-lhe as portas de Alvalade, onde jogou 11 temporadas. Abandonou a carreira de jogador no Portimonense e abraçou a função de treinador em 88/89. Já treinou cerca de 20 clubes e hoje senta--se no banco da equipa B do seu emblema de sempre, o Sporting Clube de Portugal.
É uma honra treinar uma equipa do clube que o projetou no mundo do futebol?
Era um desejo grande, mais ainda nesta fase em que o Sporting fez uma aposta totalmente diferente, muito mais séria, com uma realidade que é, se calhar, invulgar no mundo inteiro, um tempo com os pés mais assentes no chão. Voltar ao Sporting nesta altura, para além de um desejo, que já era antigo, é também uma satisfação enorme.
Mas é também o clube que o Francisco, enquanto jogador, ajudou a ganhar alguns títulos…
É o clube onde tudo começou, o clube que me projetou como jogador. Para além de ser jogador desse clube havia também um sportinguismo já presente desde miúdo, portanto, voltar nesta altura, ainda mais para um projeto de equipa B, sem dúvida que me faz muito feliz, estou muito satisfeito.
Não é ainda a sua “cadeira de sonho”?
Não sei se não será já a minha “cadeira de sonho”, porque servir o Sporting era, sem dúvida nenhuma, o meu sonho. Estou muito satisfeito com a função que tenho, estou com alma e coração ligado ao projeto da equipa B, para fazer crescer esta juventude que o Sporting tem, portanto, estou muito bem no lugar onde estou e muito feliz com a posição que tenho dentro do Sporting.
Foi um percurso longo e difícil até conseguir este estatuto?
Foi, sem dúvida. Primeiro porque enveredei por uma carreira de treinador de futebol. Muitas vezes não dependemos só do valor que temos ou daquilo que conseguimos. Hoje em dia, com tantos interesses que existem à volta do futebol, às vezes assistimos a treinadores chegarem à 1.ª Liga sem currículo ou por compadrios e, portanto, chegar ao Sporting nesta altura, pela carreira toda que já tive, se calhar, é uma prenda merecida.
O Elvas, o Estrela de Portalegre e o Ponte de Sor foram os três clubes alentejanos que se atravessaram na sua carreira de treinador?
Estive por duas vezes em Elvas, numa altura em que o clube disputava provas nacionais e sempre com a ideia de fazer grandes campeonatos, depois Portalegre trouxe-me mais uma subida de divisão, como já tinha acontecido em Elvas, mais ainda com um recorde no Guiness (18 vitórias consecutivas) e depois, no Elétrico, com um projeto muito giro. Nós treinadores, acima de tudo, o que queremos é estar em clubes que nos ofereçam condições de trabalho e isso aconteceu nestes três clubes do Alentejo. E quando é assim dá-nos prazer trabalhar, foi com muito agrado e com muito orgulho que servi esses três emblemas alentejanos.
Canta-se uma moda no Alentejo que é “Moreanes é meu povo”…
E a minha aldeia é Santana… Sei cantá-la, Moreanes é a minha terra, teria forçosamente que saber essa moda. Mesmo não tendo muito jeito para cantar, pelo menos essa moda eu sei cantar bem.
Era muito jovem quando abalou do Alentejo?
Sim, nasci na Moreanes. Talvez com dois ou três anos fui com os meus pais – costumo dizer que eles foram emigrantes do Alentejo para Lisboa – que foram trabalhar para a zona de Sacavém. Fiquei por ali até aos 19 anos. O meu primeiro clube foi o Prior Velho, como juvenil, depois ingressei no Sporting, mas a minha vida tem sido praticamente ligada àquela zona.
E nunca olhou para trás, chorando?
Ainda tenho família na Moreanes, não digo que volto lá com muita regularidade, mas ainda vou de vez em quando visitar a terra e aproveito o que a Mina de São Domingos nos oferece de bom, com a sua tapada e a praia fluvial, portanto, não digo regularmente mas, pelo menos, uma vez por ano vou visitar família e a minha terra.
O Guadiana de Mértola e o São Domingos são os dois clubes de futebol do seu concelho…
Disputam campeonatos mais baixos face às dificuldades que existem, mas é importante que o façam com dignidade e criando as melhores condições aos jogadores e treinadores. Se assim for não há que ter vergonha daquilo que somos e do que fazemos, desde que o façamos com dignidade. E é de louvar que isso aconteça na região onde nasci.
Fonte: http://da.ambaal.pt/
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