sexta-feira, 6 de março de 2015

O estádio

José Saúde

Foi com um misto de saudade e de tristeza que revisitei o estádio municipal dr. Flávio dos Santos, em Beja. “Uma lágrima ao canto do olho” suplicou--me serenidade. Revejo uma foto do dia em que o estádio foi inaugurado e lá estão três glórias do passado que tiveram o condão em abrilhantar o fenómeno futebolístico doutros tempos: Manuel Trincalhetas, porta- -estandarte da bandeira do Luso, tendo ao seu lado Adriano Apolinário e José Guerreiro. O simbolismo desta imagem transportar--nos-ia para um futuro risonho. Viajo pela estrada da melancolia e centralizo as minhas memórias num espaço onde se subscreveram inigualáveis páginas de fama que jamais se apagarão. No limbo da glória revejo tardes e manhãs de multidões de gentes que preenchiam a avenida Vasco da Gama para aplaudirem o Desportivo e o Despertar. Lembro as filas contínuas de espetadores para adquirirem os seus bilhetes de ingresso a um desafio que pedia entusiasmo. Recordo a azáfama da miudagem na procura de um pressuposto pai que visava, apenas, a entrada para o interior do campo onde assistiam ao rubro à jogatana quiçá sonhada. Conheço a evidente realidade do estádio dr. Flávio dos Santos. Sei das suas enormes potencialidades que fizeram furor no mundo desportivo de outrora. Há 50 anos pisei pela primeira vez aquele maravilhoso retângulo de jogo. Depois, vivi naquele estádio momentos inolvidáveis. Tardes inesquecíveis e de excelentes jogos de futebol. De massas humanas que se propunham a apoiar o clube do seu coração. Hoje, uma simbiose de emoções amputam-me a alma. Refuto as promessas vãs em campanhas eleitorais e de projetos pomposamente anunciados mas colocados, à posteriori, na prateleira do esquecimento. Reconheço que já nada é como dantes. Não há euros. Faltam as comparticipações. Não basta uma limpeza superficial, mas de obras profundas. Deixo, uma vez mais, a quem de direito a minha modesta opinião e que visa retirar ilações de um espaço que se agoniza à medida que o tempo avança. Revitalizem o velhinho estádio dr. Flávio dos Santos. Fica o repto. 

Fonte: http://da.ambaal.pt

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