quinta-feira, 2 de abril de 2015

Amarela para polaco


O polaco Pawel Bernas (Activejet) venceu a 33.ª Volta ao Alentejo em Bicicleta, prova internacional do grau 2.2, organizada pela Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central e pela Podium Events.

Texto e foto Firmino Paixão


A tradição manteve-se, 33 edições e outros tantos vencedores, um recorde mundial que a Alentejana preserva e ao qual acrescentou, este ano, o maior pelotão de sempre a competir em provas realizadas em Portugal. Um universo de 23 equipas, elites e sub/23, de oito diferentes nacionalidades: 12 equipas portuguesas, três dos Estados Unidos, duas de Espanha, duas da Noruega e as restantes registadas em países como Rússia, Holanda, Polónia e Equador. O pelotão inicial integrou 83 portugueses, 31 espanhóis, 18 americanos, 15 noruegueses, oito russos, sete holandeses, cinco polacos, cinco equatorianos, três canadianos, um belga, um brasileiro, um britânico e um neozelandês, num total de 179 corredores. Mas só 143 cortaram a meta em Reguengos de Monsaraz.
Bernas foi o primeiro corredor polaco a triunfar na Alentejana, e o 21.º estrangeiro, mantendo-se o jejum de nove anos entre os ciclistas portugueses. O último vencedor luso foi Sérgio Ribeiro (Barbot) em 2006.
Emoção ao longo de cinco etapas em linha, muita juventude e irreverência, e algumas quedas que, não se revelando graves, sempre deixaram marcas. “Uma prova louca, corrida a grande velocidade” (43,38 quilómetros/hora), como a qualificou Pawel Bernas, nascido na cidade polaca de Gliwice, em maio de 1990. Em suma, cinco dias de festa nas estradas do Alentejo, três corredores a vestir a amarela, quatro diferentes vencedores de etapas e a afirmação de que a Volta ao Alentejo está viva e os seus valores de promoção da região mantêm-se intactos. Samuel Caldeira (W52) foi o único português a subir ao pódio.


A volta etapa a etapa: Na Cidade Europeia do Vinho 2015 chegou a vez dos polacos da Activejet celebrarem as vitórias individual e coletiva na Alentejana. O sprinter Bernas mostrara-se na véspera, em Santo André, onde conquistou a amarela, e nos últimos 175,1 quilómetros da prova, ligando Alcácer do Sal a Reguengos de Monsaraz, viu a sua equipa trabalhar para anular constantes fuga ao pelotão. Eising e Kouwenhoven, ambos da Metec, ganharam as metas volantes de Montemor-o-Novo e Arraiolos, Guillaume Bolvin, da Optum, venceu em Vila Viçosa. Um grupo de fugitivos ainda passou com 3’ de vantagem, aventura que terminou antes de Reguengos, com o pelotão compacto para o sprinte final e vitória do holandês Ariesen (Metec) que repetiu o triunfo de Mértola.
Nas Minas de São João… nessa terra viva que respira tradições e onde o ciclismo também foi sempre muito acarinhado, o pelotão recebeu um caloroso abraço das gentes mineiras e rumou ao litoral. Num primeiro momento, à procura da meta volante do Cercal (ganha por Mário Salas/Activejet), depois, subindo a orla costeira até Santiago do Cacém e Grândola, com mais dois sprintes intermédios ganhos por Garikoitz Oiarbide (Murias) e Mário Salas (Activejet), respetivamente.
Para lá da Vila Morena, e já com a maresia a refrescar o calor que caiu sobre a Alentejana, estava a última contagem de montanha, que o equatoriano Guama venceu, mostrando a camisola castanha de líder do troféu.
Reagrupado o pelotão, a corrida entrou em Vila Nova de Santo André com o polaco Pawel Bernas (Activejet) a arrancar uma diabólica ponta final que lhe permitiu vencer a etapa e conquistar a camisola amarela, tornando-se no terceiro líder da geral individual, em quatro etapas.
“Eu ouvi o passarinho… às quatro da madrugada”. Não, na verdade não se ouviu essa célebre moda cantada pelo Grupo de Cantares de Portel, mas andava no ar um cheirinho a alho e coentros, temperos essenciais a uma das belas açordas que, por essa altura, ali estavam em congresso.
O pelotão deixou Portel com água na boca, sobretudo tendo pela frente a etapa mais extensa da prova, 189,6 quilómetros, com chegada marcada na vila de Mértola. Foi a maior e também, para alguns corredores, a mais penosa etapa da prova, que o diga o próprio Manuel Cardoso, camisola amarela, envolvido em duas das várias quedas no pelotão. Animaram a etapa as metas volantes de Viana do Alentejo (Tijmen Eising/Metec), Vidigueira (Samuel Caldeira/W52) e Aljustrel (Michal Podlaski/Activejet).
Com os quilómetros finais marcados pela passagem da caravana pelo País real, aplaudida pela gente madura de João Serra, Penilhos e São João dos Caldeireiros. O triunfo na etapa foi discutido entre o líder Manuel Cardoso (Tavira) e o holandês Johim Ariesen (Metec), com vantagem para o corredor dos Países Baixos, ainda que a camisola permanecesse nas hostes tavirenses.
O pelotão partiu da bela “Sintra do Alentejo” cruzando as bacias de Montargil e Maranhão, desde Nisa, Ponte de Sor e Avis, até serpentear nas margens da ribeira da Raia, em Cabeção, com a pista natural de pesca desportiva, internacionalmente reconhecida e enquadrada pelo Fluviário de Mora, único em Portugal e o primeiro grande aquário de água doce da Europa. Mais uma tirada com três sprintes intermédios, vulgo metas volantes, desta vez decididas com maior democracia, deixando brilhar o espanhol Imanol Estevez (Murias/Taldeia) em Nisa, o polaco Pawel Franczak (Activejet) em Ponte de Sor e o portuguesíssimo Pedro Paulinho (LA/Antarte) em Avis. O pelotão chegou compacto a Mora e o sprinter pacense Manuel Cardoso (Team Tavira) fez jus à alcunha de “TGV do Norte” e ganhou a etapa de 152,5 quilómetros, arrebatando a camisola amarela ao neozelandês Oram, da formação americana Axeon.
Pelas encostas da serra de São Mamede estendeu-se a etapa inaugural da prova, saída de Portalegre, terra adotiva de José Régio, um vulto literário natural de Vila do Conde que ali lecionou mais de 30 anos, cujo busto pareceu sussurrar aos ciclistas que “todo esse vosso esforço é vão, amigos/ não sou dos que se aceita a não ser mortos…”. Um “testamento de poeta” que os corredores não levaram a sério porque a etapa que acabou em castelo de Vide, 144 quilómetros depois, foi bem animada, apesar das dificuldades de duas contagens para o prémio de montanha, sim, porque na diversidade orográfica do Alentejo, também se incluem montanhas e estas, em pleno Parque Natural da Serra de São Mamede, foram, sem surpresa, ganhas pelo equatoriano Bayrom Guama que ali amealhou pontos suficientes para vestir a camisola castanha. Oscar Landa (Team Coop) vencendo as três metas volantes do dia, foi outro dos heróis da etapa, a par do neozelandês James Oram (Team Axeon), que ganhou a etapa ao sprinte e vestiu a primeira camisola amarela da edição 2015 da Alentejana.
Fonte:http://da.ambaal.pt
 

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