Na Taça de Portugal pela primeira vez…
“ESTE É O CLUBE DA REGIÃO QUE APRESENTA O PROJECTO DESPORTIVO MAIS ATRACTIVO”
Fernando
Candeias, de 38 anos, está de regresso a casa. Com efeito, depois de
ter passado os dois últimos anos no Vasco da Gama de Sines, o treinador
está de volta ao clube [o Praia de Milfontes] que representou nas sete
épocas anteriores quando ainda se encontrava na 2.ª Divisão Distrital.
Fernando
Candeias, em entrevista ao JORNAL DE DESPORTO disse estar convencido
que optou pela “melhor solução” para si porque no seu entender “o Praia
de Milfontes é o clube da região que apresenta o projecto desportivo
mais atractivo para um treinador e para os jogadores”.
O
clube que está a viver um dos seus melhores momentos em termos
desportivos prepara-se para preencher mais uma página da sua história ao
fazer a estreia absoluta na prova rainha do nosso futebol, a Taça de
Portugal, depois de ter conquistado a Taça do Distrito de Beja numa
época em que terminou o campeonato em 3.º lugar.
Este
será, sem dúvida, um momento histórico para o clube que nunca antes
havia participado numa competição desta importância. A responsabilidade é
grande e o clube não quer fazer má figura. Por isso, está
cuidadosamente a proceder a alguns ajustes no seu plantel com jogadores
de qualidade como é o caso de Daniel Direito (ex- U. Santiago), Valdir e
Paulo Duarte (ambos, ex-Vasco da Gama) que estão a ser apontados como
prováveis reforços.
“Foi um privilégio ser treinador do Vasco da Gama”
Depois de duas épocas em Sines aconteceu a mudança. Quais as razões da troca do Vasco da Gama pelo Praia de Milfontes?
As
razões foram essencialmente desportivas. Neste momento o Praia de
Milfontes é o clube da região, que na minha opinião, apresenta o
projecto desportivo mais atractivo para um treinador e para os
jogadores. Na verdade, trabalhar num clube como Vasco da Gama, sobretudo
pela visibilidade que tem, permitiu-me analisar várias opções e, estou
convencido que optei pela melhor solução para mim. Tenho uma relação
muito próxima com as pessoas do clube e esse factor também pesou na
decisão, embora, como referi atrás, o projecto desportivo foi decisivo.
Quero só realçar que foi um privilégio ser treinador do Vasco da Gama
durante estes dois anos.
Ficou
satisfeito com o trabalho realizado em Sines ou saiu com alguma
frustração pelo facto de não ter conseguido colocar o clube na 1.ª
Divisão?
Nestes
dois anos dei sempre o melhor de mim pelo clube. Não subir de divisão
foi um duro golpe, foi uma derrota, mas tivemos muitas outras vitórias.
Em termos globais fiquei bastante satisfeito, por várias razões: entrei
no clube talvez no pior momento da sua história recente, acabado de
descer divisão, em que os jogadores não acreditavam no clube e foi
bastante difícil construir uma equipa. Conseguimos, com muito trabalho, e
contra todas as previsões chegar à última jornada a discutir a subida
de divisão, que não conseguimos por um ponto. Na segunda época tínhamos a
convicção que era possível subir de divisão, fomos com todo o respeito
pelas outras equipas, aquela que apresentou o futebol mais atractivo.
Começámos com 20 pessoas no estádio e acabámos com mais de 1000, quer
isto dizer que voltámos a criar nas pessoas de Sines um sentimento muito
forte pelo clube. Atingimos a final da taça, que no actual quadro
competitivo, não direi impossível, mas digo que para uma equipa da
segunda divisão é muito difícil chegar a esse patamar, e na final,
provámos, frente a uma excelente equipa, que tínhamos qualidade para
jogar noutro nível. Aliás, defrontamos cinco equipas da primeira divisão
e apenas não vencemos o Alcochetense. O futebol da segunda divisão tem
características muito próprias. Chegaram a dizer-me que o nosso futebol
era evoluído demais para a divisão onde estávamos e esse foi, talvez, o
maior elogio que me podiam fazer. Creio, no entanto, que foram lançadas
as bases para o Vasco da Gama subir de divisão de forma sustentada e
chegar a um patamar mais de acordo com a sua história.
“Se a fasquia está alta fui eu que a coloquei lá”
Vai trocar o distrital de Setúbal pelo distrital de Beja. Poderá ser feita alguma comparação entre o nível das duas competições?
Existem
algumas diferenças, sobretudo, a quantidade de praticantes. Se em
Setúbal há muito mais praticantes, também haverá “mais bons” jogadores,
“mais bons” treinadores e “mais bons” árbitros. Contudo, essa relação
não é directa, pois em Beja, para a quantidade de praticantes que há,
também temos bons treinadores, bons árbitros e muito talento a jogar
futebol..
A grande diferença, em termos de conceito de jogo, é que em Setúbal
pratica-se um futebol mais físico, mais agressivo, mais competitivo.
Penso que seria interessante, criar uma Taça "InterDistrital" entre
Setúbal e Beja. Ambos sairiam a ganhar com a experiência e seria
importante para o desenvolvimento do futebol dos dois distritos: o lado
mais competitivo de Setúbal e o futebol mais de "rua" de Beja.
Na
época passada o Praia de Milfontes classificou-se em 3.º lugar e venceu
a taça no distrito de Beja. E para este ano qual vai ser o objectivo?
O
nosso primeiro objectivo é criar uma equipa assente em valores que
consideramos fulcrais para ter sucesso: uma equipa solidária,
comprometida com o clube e com muita ambição, respeitando sempre os
adversários. Depois de atingirmos este primeiro objectivo, poderemos
então pensar noutros, mas sempre com passos seguros, sabendo o que
queremos.
A fasquia parece estar um pouco alta. Isso não o preocupa?
Bem,
a fasquia alta fui "eu" que a coloquei. Estive sete anos no Praia de
Milfontes (antes dos dois em Sines), comecei na segunda divisão onde já
estava há quatro anos. Subimos no meu primeiro ano de treinador e a
partir daí foi bater recordes atrás de recordes, Dois segundos lugares,
um terceiro e uma final da taça. Portanto, fui "eu" que deixei o clube
nesta situação. Logo, não considero uma "pressão" o actual patamar do
clube. Aliás, é o actual momento do clube e a possibilidade que
acreditamos ser possível superar que torna este projecto atractivo e
cria uma motivação extraordinária para começar a trabalhar!
“Milfontes na Taça de Portugal pela primeira vez”
Por ter ganho a taça do distrito vai participar na Taça de Portugal, espera fazer boa figura na competição?
A
Taça de Portugal é a prova rainha do futebol português e, pela primeira
vez na história, o Praia de Milfontes vai ter a honra de a disputar.
Claro que temos ilusões, veja-se o caso do Amora o ano passado, mas
temos a consciência que tudo pode acontecer. Vamos para competir, para
desfrutar, e quem sabe, podermos fazer uma surpresa!
Em
relação ao plantel segundo consta vai levar consigo alguns jogadores do
V. Gama e o Daniel Direito (ex-U. Santiago). Isso quer dizer que se vai
apresentar com um plantel que demonstra alguma ambição
Vamos
naturalmente efectuar ajustes no plantel e para nós é uma grande
satisfação os jogadores acreditarem em nós e no clube. O Praia de
Milfontes já tem um conjunto de jogadores de muita qualidade e bastante
identificados com o clube. Foi nossa intenção adicionar, não só
qualidade futebolística, mas também humana. Não queremos só bons
jogadores, queremos também homens com valores com os quais nos
identificamos. Acreditamos estar a construir um plantel que nos dá
garantias de ter uma equipa competitiva, a praticar um futebol de
qualidade.
Já estão programados os jogos de pré-temporada?
Sim,
já temos alguns jogos definidos. Curiosamente, fechei a época passada
com o Alcochetense e vou abrir a nova época com a mesma equipa. Então,
no dia 22 de Agosto iremos jogar em Alcochete. Depois, no dia 29, Lagoa -
Milfontes; 12/09 Milfontes - Esperança de Lagos; 19/09 Esperança de
Lagos - Milfontes. Temos a Taça de Portugal a 06 de Setembro e o
campeonato começa a 26/09. Vamos começar os trabalhos a 15 de Agosto e o
plantel quando estiver fechado, iremos disponibilizar com todo o gosto.
Para concluir quer deixar alguma mensagem que ache oportuna?
Gostaria
por fim de agradecer à direcção do Vasco da Gama por me ter dado o
privilégio de treinar um clube especial e de ter conhecido pessoas
especiais que ficam para a vida. Um agradecimento muito especial pelo
companheirismo, pelo saber e pela dedicação da minha equipa técnica no
Vasco da Gama, o grande Armando Vilhena, o grande Rui Silva e o grande
João Santos. Também a três pessoas que nos bons e nos maus momentos
sempre acreditaram em mim, os nossos três grandes directores, Vítor
Marques, sr. Filipe e Belchior; a todos os jogadores que trabalharam
comigo, pela paixão que me transmitiram ao representar aquele clube; a
todos os adeptos que estiveram sempre com a equipa; àqueles que se
aproximaram ao longo do tempo e que transmitiram grandes sensações a
todos nós; e, especialmente à claque oficial do Vasco, os Ultra
Vasquinhos pelo grande apoio que deram à equipa. Agora, estou de alma e
coração no Milfontes e, como sempre, vou colocar toda a minha paixão
para elevar o nome do clube. Por fim gostaria de enviar um grande abraço
e dar os parabéns ao sr. José Pina pelo trabalho que desenvolve em prol
do futebol distrital de Setúbal. Foi um prazer cooperar consigo e
sempre que precisar estou ao dispor. Grande abraço!
Sem comentários:
Enviar um comentário