O dia da trasladação de Eusébio para o Panteão Nacional
foi rico em momentos emocionantes, entre os quais a passagem pela sede
da FPF. No final, uma certeza: o legado de Eusébio perdurará para
sempre.
FPF
Eusébio da Silva Ferreira está no Panteão Nacional. A
simplicidade da frase contrasta com a grandeza e raridade do
acontecimento. Esta sexta-feira, 3 de julho, ficará para sempre marcada
como a data em que uma das maiores figuras do futebol nacional teve o
reconhecimento merecido, consensual, com a maior homenagem póstuma que
um português pode ter: a trasladação para o local onde repousam algumas
das grandes figuras da História de Portugal.
O percurso do cortejo fúnebre que transportou o corpo do "Pantera Negra" para o Panteão Nacional durou 4 horas (25 kms) e teve paragens simbólicas em alguns dos locais mais simbólicos da cidade de Lisboa depois de partir do cemitério do Lumiar. Os adeptos do Benfica, que acompanharam todo o percurso trajados a rigor, puderam homenagear um dos grandes símbolos da história do emblema encarnado junto ao Estádio da Luz, onde várias dezenas de pessoas aproveitaram a oportunidade para dizer o "último adeus" ao ídolo.
A paragem seguinte foi noutra das "casas" de Eusébio. O eterno n.º 13 da Equipa das Quinas é uma das maiores referências de sempre da Seleção Nacional e a Federação Portuguesa de Futebol não podia deixar de se associar a uma ocasião tão simbólica como a trasladação do corpo do "Pantera Negra" para o Panteão Nacional. Neste momento único na história do Desporto nacional, o Presidente Fernando Gomes, os elementos que compõem o elenco diretivo do organismo que tutela o futebol português, o Selecionador Nacional Fernando Santos, o Presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, Luís Duque, e alguns representantes dos órgãos sociais da FPF e das Associações Distritais e Regionais presenciaram a paragem (cerca de cinco minutos) do cortejo fúnebre à entrada da sede da Federação.
Os funcionários da FPF e muitos dos anónimos que passavam pelas zonas limítrofes também homenagearam o "King", primeiro através de uma calorosa salva de palmas e depois por um silêncio que revelou todo o respeito que Eusébio granjeou ao longo de uma vida de conquistas. A tarja gigante instalada na fachada da sede da FPF com a frase "Os génios vivem para sempre" não passou despercebida e vincou bem o significado de Eusébio para todo o edifício do futebol português e, em especial, para a Seleção Nacional.
Antes da chegada ao Panteão Nacional, o cortejo fúnebre passou ainda pela Assembleia da República, em S. Bento, onde algumas dezenas de deputados e a presidente da AR, Assunção Esteves, prestaram homenagem a uma figura que ultrapassou completamente as "fronteiras" do Desporto, quanto mais não seja porque as forças políticas foram unânimes em apoiar a concessão de honras de Panteão Nacional a Eusébio.
Antes de Eusébio ser transportado para a sala 2 do Panteão Nacional, Cavaco Silva (Presidente da República), Assunção Esteves (Presidente da Assembleia da República) e António Simões (antigo companheiro no Benfica e na Seleção Nacional) tomaram a palavra numa cerimónia que teve a presença das mais altas instâncias do país e honrou a grandeza do legado de Eusébio, representando um reconhecimento unânime da sociedade portuguesa, tanto ao desportista como à dimensão humana do eterno "King".
Cavaco Silva (Presidente da República) em discurso direto: "Invocamos hoje a figura de um grande português. Uma decisão tomada pelos deputados e os grupos parlamentares. Estamos perante um gesto de representantes do povo que reflete de forma muito expressiva o sentimento nacional de apreço e de reconhecimento da figura de Eusébio da Silva Ferreira. Associo-me, com profunda emoção, a este gesto da Assembleia da República. Eusébio esteve sempre acima das querelas do nosso quotidiano. Como tive ocasião de afirmar logo após o seu falecimento, foi das personalidades mais cativantes que conheci na minha vida. Admirado por milhões, tratava todos e cada um com uma admirável simplicidade, a simplicidade natural dos que são verdadeiramente grandes. Serviu a Seleção Nacional com uma dedicação sem limites. Numa ocasião inesquecível derramou lágrimas. As lágrimas de Eusébio nesse dia foram as lágrimas de Portugal no dia da sua morte. Ao conceder a Eusébio honras de Panteão Nacional, o Estado português reconhece a sua gratidão por um campeão do Desporto, uma lenda do futebol que é admirada em todo o Mundo."
Assunção Esteves (Presidente da Assembleia da República) em discurso direto: "Esta é a homenagem de todos os deputados à força do talento de Eusébio. A trajetória de Eusébio é de uma humanidade completa, de um cumprimento ético de existência. Eusébio é o vencedor que se fez mito, o menino solitário de todos os talentos. Ele mostrou como podemos ser heróis nas coisas que fazemos. Em casa, no café, no bairro ou nas praças, nós seguíamos religiosamente as suas vitórias. Antes ainda da sociedade global e num país fechado, ele mostrou-nos um mundo sem passaporte e controlo. As suas vitórias, a jogar em equipa como ele dizia, eram a celebração de um amor coletivo e também amor do mundo, que nos juntava e desmontava todas as convencionalidades. Por tudo isso, ele não é apenas o futebolista intemporal, ele é também o homem e o cidadão intemporal. Eusébio deixava-nos ver as incoerências de um regime político injusto e triste, que o venerava sem venerar a sua origem, que o levava ao mundo mas se fechava ao mundo. Voámos, então, como ele para fora do meio-campo. Eusébio era a guarda-pretoriana dos nossos sonhos. Eusébio era uma fazedor dos afetos da alegria. Gerava uma coesão positiva que a todos nos ligava."
António Simões (antigo companheiro de Eusébio no Benfica e na Seleção Nacional):
"Ele [Eusébio] era desigual. Tinha o que nós não tínhamos. Ele era...ele, sendo todos nós. Ele era ele mais do que todos nós porque transportava educação, talento, génio, momentos inigualáveis de futebol. Era a arte, era a cultura, era deslumbramento. Tive com ele - perdoem-me a imodéstia - anos consecutivos de apertado convívio, com e sem bola, mas sempre com os sentimentos. Com essa impressão confirmada de afeição. Ele dizia que era o meu irmão branco. Sem hesitar, acrescento: tu és, então, o irmão de todas as cores. O da amizade, do compromisso, da ternura, da cumplicidade, da lealdade, do carinho, do amor, do amor da bola e do jogo. Sem nunca te teres esquecido de mim e dos nossos companheiros. Eusébio era o nosso impulso, o nosso ímpeto, a velocidade estonteante, a vertigem da finta, a precisão do passe, o remate furioso, o golo admirável. Nunca percebi nele qualquer rancor pelos adversários. Grande desportista, também campeão no fair-pay. Eusébio, o maior herói do séc. XX português, fez com que o mundo olhasse para Portugal, para um Portugal ostracizado a nível internacional, como um país merecedor de respeito."
O percurso do cortejo fúnebre que transportou o corpo do "Pantera Negra" para o Panteão Nacional durou 4 horas (25 kms) e teve paragens simbólicas em alguns dos locais mais simbólicos da cidade de Lisboa depois de partir do cemitério do Lumiar. Os adeptos do Benfica, que acompanharam todo o percurso trajados a rigor, puderam homenagear um dos grandes símbolos da história do emblema encarnado junto ao Estádio da Luz, onde várias dezenas de pessoas aproveitaram a oportunidade para dizer o "último adeus" ao ídolo.
A paragem seguinte foi noutra das "casas" de Eusébio. O eterno n.º 13 da Equipa das Quinas é uma das maiores referências de sempre da Seleção Nacional e a Federação Portuguesa de Futebol não podia deixar de se associar a uma ocasião tão simbólica como a trasladação do corpo do "Pantera Negra" para o Panteão Nacional. Neste momento único na história do Desporto nacional, o Presidente Fernando Gomes, os elementos que compõem o elenco diretivo do organismo que tutela o futebol português, o Selecionador Nacional Fernando Santos, o Presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, Luís Duque, e alguns representantes dos órgãos sociais da FPF e das Associações Distritais e Regionais presenciaram a paragem (cerca de cinco minutos) do cortejo fúnebre à entrada da sede da Federação.
Os funcionários da FPF e muitos dos anónimos que passavam pelas zonas limítrofes também homenagearam o "King", primeiro através de uma calorosa salva de palmas e depois por um silêncio que revelou todo o respeito que Eusébio granjeou ao longo de uma vida de conquistas. A tarja gigante instalada na fachada da sede da FPF com a frase "Os génios vivem para sempre" não passou despercebida e vincou bem o significado de Eusébio para todo o edifício do futebol português e, em especial, para a Seleção Nacional.
Antes da chegada ao Panteão Nacional, o cortejo fúnebre passou ainda pela Assembleia da República, em S. Bento, onde algumas dezenas de deputados e a presidente da AR, Assunção Esteves, prestaram homenagem a uma figura que ultrapassou completamente as "fronteiras" do Desporto, quanto mais não seja porque as forças políticas foram unânimes em apoiar a concessão de honras de Panteão Nacional a Eusébio.
Antes de Eusébio ser transportado para a sala 2 do Panteão Nacional, Cavaco Silva (Presidente da República), Assunção Esteves (Presidente da Assembleia da República) e António Simões (antigo companheiro no Benfica e na Seleção Nacional) tomaram a palavra numa cerimónia que teve a presença das mais altas instâncias do país e honrou a grandeza do legado de Eusébio, representando um reconhecimento unânime da sociedade portuguesa, tanto ao desportista como à dimensão humana do eterno "King".
Cavaco Silva (Presidente da República) em discurso direto: "Invocamos hoje a figura de um grande português. Uma decisão tomada pelos deputados e os grupos parlamentares. Estamos perante um gesto de representantes do povo que reflete de forma muito expressiva o sentimento nacional de apreço e de reconhecimento da figura de Eusébio da Silva Ferreira. Associo-me, com profunda emoção, a este gesto da Assembleia da República. Eusébio esteve sempre acima das querelas do nosso quotidiano. Como tive ocasião de afirmar logo após o seu falecimento, foi das personalidades mais cativantes que conheci na minha vida. Admirado por milhões, tratava todos e cada um com uma admirável simplicidade, a simplicidade natural dos que são verdadeiramente grandes. Serviu a Seleção Nacional com uma dedicação sem limites. Numa ocasião inesquecível derramou lágrimas. As lágrimas de Eusébio nesse dia foram as lágrimas de Portugal no dia da sua morte. Ao conceder a Eusébio honras de Panteão Nacional, o Estado português reconhece a sua gratidão por um campeão do Desporto, uma lenda do futebol que é admirada em todo o Mundo."
Assunção Esteves (Presidente da Assembleia da República) em discurso direto: "Esta é a homenagem de todos os deputados à força do talento de Eusébio. A trajetória de Eusébio é de uma humanidade completa, de um cumprimento ético de existência. Eusébio é o vencedor que se fez mito, o menino solitário de todos os talentos. Ele mostrou como podemos ser heróis nas coisas que fazemos. Em casa, no café, no bairro ou nas praças, nós seguíamos religiosamente as suas vitórias. Antes ainda da sociedade global e num país fechado, ele mostrou-nos um mundo sem passaporte e controlo. As suas vitórias, a jogar em equipa como ele dizia, eram a celebração de um amor coletivo e também amor do mundo, que nos juntava e desmontava todas as convencionalidades. Por tudo isso, ele não é apenas o futebolista intemporal, ele é também o homem e o cidadão intemporal. Eusébio deixava-nos ver as incoerências de um regime político injusto e triste, que o venerava sem venerar a sua origem, que o levava ao mundo mas se fechava ao mundo. Voámos, então, como ele para fora do meio-campo. Eusébio era a guarda-pretoriana dos nossos sonhos. Eusébio era uma fazedor dos afetos da alegria. Gerava uma coesão positiva que a todos nos ligava."
António Simões (antigo companheiro de Eusébio no Benfica e na Seleção Nacional):
"Ele [Eusébio] era desigual. Tinha o que nós não tínhamos. Ele era...ele, sendo todos nós. Ele era ele mais do que todos nós porque transportava educação, talento, génio, momentos inigualáveis de futebol. Era a arte, era a cultura, era deslumbramento. Tive com ele - perdoem-me a imodéstia - anos consecutivos de apertado convívio, com e sem bola, mas sempre com os sentimentos. Com essa impressão confirmada de afeição. Ele dizia que era o meu irmão branco. Sem hesitar, acrescento: tu és, então, o irmão de todas as cores. O da amizade, do compromisso, da ternura, da cumplicidade, da lealdade, do carinho, do amor, do amor da bola e do jogo. Sem nunca te teres esquecido de mim e dos nossos companheiros. Eusébio era o nosso impulso, o nosso ímpeto, a velocidade estonteante, a vertigem da finta, a precisão do passe, o remate furioso, o golo admirável. Nunca percebi nele qualquer rancor pelos adversários. Grande desportista, também campeão no fair-pay. Eusébio, o maior herói do séc. XX português, fez com que o mundo olhasse para Portugal, para um Portugal ostracizado a nível internacional, como um país merecedor de respeito."
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