sexta-feira, 29 de julho de 2016
Um desafio inspirador
A seleção nacional de futebol de rua, patrocinada pela Associação Cais, conquistou o quinto lugar entre 46 países presentes no Campeonato do Mundo de Futebol de Rua, disputado na cidade escocesa de Glasgow.
Texto Firmino PaixãoFoto Associação Cais
A equipa portuguesa, que tem na sua equipa técnica o jovem Francisco Seita e que, neste ano, incluiu Fábio Pacheco, jogador do Bairro do Pelame, conseguiu a proeza de, a par do México, que foi campeão mundial, não perder qualquer jogo em tempo regulamentar. A única derrota sofrida foi com o Brasil (5-5) perdendo no desempate em grandes penalidades, resultado que nos afastou da final. O quinto lugar, como sublinhou o selecionador Francisco Seita, “é um orgulho para todos nós e, mais do que pela classificação conseguida, pelo excelente desempenho dos jogadores”.
Uma final entre o Brasil e o México, com a formação mexicana a repetir o triunfo do ano passado.O México foi um justo vencedor, é bicampeão mundial masculino e feminino. É um país que está a evoluir muito na modalidade, tendo em conta que o seu patrocinador está a investir bem em campos próprios para o futebol de rua. Nos últimos três anos já instalaram cerca de 1 300 campos pelos bairros do México e isso justifica a sua qualidade competitiva.
Com a expressão que a modalidade está a ganhar, seria bem recebido em Portugal um investimento comparável ao mexicano?É um passo a dar em função dos bons resultados que temos obtido e se pretendermos que a modalidade se desenvolva. Os praticantes que temos são jogadores que vêm do futsal e do futebol de 11, não são atletas exclusivamente do futebol de rua, ao contrário do que acontece no México, onde eles praticam em exclusivo esta modalidade.
Quando as pessoas ouvem falar de futebol de rua, apercebem-se da especificidade de regras que torna o jogo tão espetacular e competitivo?Muita gente pensa que é uma modalidade muito técnica, mas é um futebol muito tático, mais tático até que o futebol de 11. A especificidade das regras é que tem quatro jogadores, três de campo e um guarda-redes que não pode sair da área. Os jogadores de campo não podem entrar nessa área, joga-se com tabelas, ataca-se sempre em superioridade numérica e defende-se em inferioridade, porque há sempre um jogador que fica no meio campo ofensivo, o que acaba por resultar em muitos golos.
Quarenta e seis países de todos os continentes.Uma diversidade desportiva e cultural que promove uma vivência inesquecível?Há cinco anos que estou nestas funções e todos os anos tem sido diferente, um pouco também porque os jogadores não se podem repetir. Apesar de as seleções serem as mesmas, os jogadores são sempre diferentes. Os jovens que encontramos têm sempre histórias de vida diferentes, o que acaba por enriquecer muito a nossa própria história de vida, ao convivermos com eles.
Dois rostos bejenses entre os protagonistas desse sucesso.Mais um ano em que Beja colocou um jogador na seleção nacional. E um jogador decisivo, porque foi o melhor marcador da nossa seleção, esteve em grande destaque. No ano passado tivemos o melhor guarda-redes do mundo, ou seja, no panorama nacional do futebol de rua podemos dizer que Beja é das cidades que está mais à frente, comparativamente com as restantes, além de que somos bicampeões nacionais e, este ano, teremos o campeonato nacional na cidade de Beja. Podemos afirmar que somos uma das cidades que mais se estão a destacar nesta modalidade.
E o Fábio Pacheco, quem é este jogador?É um miúdo espetacular. Joga futsal mas adora o futebol de rua desde o primeiro momento em que teve contacto com a modalidade. É campeão distrital pelo Bairro do Pelame e, em 2013, quando fomos pela primeira vez campeões nacionais, ficou apaixonado pela modalidade e tem sido um dos seus principais impulsionadores em Beja. A sua participação no mundial foi muito merecida e o seu desempenho foi espetacular.
O futebol de rua é um projeto que vai para além da componente desportiva?O mais importante é prepararmos os jovens para o que vem depois da competição. As vidas que vão encontrar quando regressarem às suas cidades e às tarefas do seu quotidiano. No estágio temos dois treinos desportivos e outro de capacidades pessoais, procuramos que eles desenvolvam o respeito, a entreajuda e a autoconfiança, sentimentos que, após o torneio, lhes são fundamentais para serem melhores pessoas.
Um desafio muito enriquecedor?Não sendo um projeto puramente desportivo, porque tem uma forte componente social, acaba por ser muito enriquecedor para mim. A minha função é ensinar, mas posso dizer que acabo sempre por aprender mais do que consigo ensinar. Algumas das histórias de vida destes miúdos são muito marcantes e ver a forma como eles conseguem dar a volta por cima é algo deveras inspirador.
Fonte: http://da.ambaal.pt/
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